Foto: Coletivo de Comunicação da comunidade

Por Setor Educação do MST no Paraná
Da Página do MST 

No último sábado, 23, o assentamento Valmir Motta de Oliveiro celebrou mais um importante conquista na consolidação do Colégio Estadual do Campo Aprender com a Terra e com a Vida, em Cascavel, oeste do Paraná. A construção das 9 salas de aula com paredes feitas a partir de materiais ecológicos (ecoconstrução) e receberam novo mobiliário (quadros e conjuntos de carteiras). Até então, o espaço físico da escola eram salas de madeira construídas pela organização comunitária das famílias Sem Terra no ano de 2014, sem investimentos do Governo Estadual.  

O ato de celebração e inauguração das salas de aula iniciou com uma mística organizada e apresentada por estudantes, educadores e educadoras caracterizando os desafios nos 20 anos de luta da escola, iniciada no Acampamento Dorcelina Folador no ano de 2003 como Escola Itinerante Zumbi dos Palmares, que realizou itinerância em Agosto de 2004 para o Acampamento 1º de Agosto e em 2012, mediante o processo de desapropriação de uma das áreas do Complexo Cajati, realiza nova itinerância para o espaço em que se encontra hoje e passa a atender, além das crianças e adolescentes do Assentamento em constituição, mas também dos Acampamentos Resistência Camponesa, Sete de Setembro, 1º de Agosto e do São João.  

Foto: Edmilson Rodrigues 

A mística elucidou que nestes 20 anos de trajetória da escola, “[…] passamos por muitas adversidades: Vento, frio, chuva, poeira, medos e incertezas. Porém ao olhar para o horizonte sabíamos que valeria a pena, pois como diz o poeta: “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. Nada para nós foi ou é fácil e a mudança para esse novo espaço trouxe novos desafios a necessidade de brigar por uma barreira verde, que nos protegesse um pouco dos efeitos dos agrotóxicos, pois tentam a todo custo abafar nossa voz e nossa presença. Mas eles ainda não aprenderam que aquelas sementes hoje são árvores de raízes fortes. E escola se faz com educandos e educandas presentes e comunidade atenta e lutadora”.   

Foto: Coletivo de Comunicação da comunidade

Desde 2014, com a conquista e criação do Assentamento Valmir Motta de Oliveira, a comunidade escolar luta e reivindica do Governo Estadual a construção do prédio da Escola, diversos protocolos já foram arquivados e a negação e negligência foram se fazendo presente.  

Como resposta ao conjunto de reivindicações da comunidade, no início do ano de 2023, a Secretária de Estado da Educação do Paraná (SEED) apresentou a possibilidade de substituição das salas de aula de madeira. Entretanto, conforme observado por muitas falas durante o ato de inauguração das instalações das novas salas de aula, embora represente uma conquista, a substituição não caracteriza a construção do prédio escolar, pois esse projeto não contempla as edificações do refeitório, laboratórios, biblioteca, banheiros e ginásio.  

Conforme afirmou a estudante Isadora representante do Grêmio Estudantil, “Este momento é a concretização de sonhos, esforços e dedicação de muitas pessoas que acreditam no poder transformador da educação. Esta escola representa para nós, estudantes, um lugar de aprendizado, convivência, crescimento e, principalmente, oportunidades. Estamos comemorando hoje uma grande conquista, mas precisamos também de cozinha, refeitório, banheiros e quadra de esportes, pois, como estudantes, sabemos dos nossos direitos e não pedimos nada além do que nos faz falta no dia a dia”. 

De acordo com Gilson Gonçalves, Pedagogo do Colégio “Esse momento essa conquista representa renovação do ambiente escolar. Essa é a escola do campo, no campo da qual temos orgulho. E hoje colhemos o fruto. Após longa jornada, conquistamos a substituição das salas de madeira, pelas salas em bloco. Representa mais dignidade para promovermos o ensino e a aprendizagem. As salas são amplas e iluminadas, não molha […] Ainda falta muito, pois foi preciso improvisar uma passarela, para a gente não se molhar tanto, e ainda falta um laboratório de Ciências, banheiros, cozinha, refeitório…mas precisamos celebrar cada conquista […]” 

Valter de Jesus Leite da Direção Nacional do Setor de Educação do MST, salienta que nestes 20 anos da escola, ela exerceu um papel fundamental na luta pelo direito a educação escolar nas áreas de Reforma Agrária, formando educadores e educadoras que contribuíram para construir outras Escolas Itinerantes em outros municípios do Paraná. Observa que “[…] a inauguração das salas de aula nova representa o início do sonho de ter a escola do assentamento, deve ser celebrada de forma combinada ao revigoramento da nossa capacidade de resistir e lutar pela conquista plena das estruturas da escola. É um descaso do Governo do Estado, não acolher a reivindicação da comunidade e destinar edificações completas de uma escola. Por isso, se faz necessário, seguirmos na luta pela consolidação da Escola de Assentamento que acreditamos ser necessária”. 

Participou do Ato de Inauguração lideranças das três áreas de Reforma Agrária que integram a comunidade escolar, a presidenta do Sindicato dos(as) Professores(as) da Rede Pública Municipal de Ensino de Cascavel (Siprovel) Gilsiane Quelin Peiter, o membro da direção do Sindicato dos(as) professores(as) e funcionários(as) de escola do Paraná (APP-Sindicato) Edimilson Rodrigues, a professora e representante da Escola Municipal do Campo Zumbi dos Palmares Vera Marcondes. 

Foto: Edmilson Rodrigues  

Educadores e Educadoras do Colégio 

A atual diretora do Colégio, ao final do ato realizou uma homenagem e menção especial aos diretores que passaram pela gestão da escola, afirmando que certamente o trabalho que desenvolveram aglutinando a comunidade escolar e a coletividade constituíram alicerces para que essa conquista fosse possível, sendo elas: Margarete Paza que acompanhou a escola desde 2003 a 2012, Gilson Gonçalves, que iniciou na direção em 2012 e permaneceu até 2021. E a professora Juliana Poroloniczak, que assumiu a direção de 2021 a agosto de 2024. 

Após o ato político, os participantes visitaram as salas de aula, prestigiaram uma mostra de trabalhos dos estudantes, fotografias históricas da escola e um bazar organizado pela escola para fins de arrecadação financeira. A celebração foi encerrada com um saboroso risoto à moda camponês, proporcionado a todos e todas presentes. 

Para saber mais do histórico de luta da comunidade pelo acesso à educação escolar, das práticas e do projeto político-pedagógico da escola é possível acessar gratuitamente o livro “20 ANOS DE LUTAS E RESISTÊNCIA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO: Escola Municipal do Campo Zumbi dos Palmares e Colégio Estadual do Campo Aprender com a Terra e com a Vida”, por meio deste link.

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Last Update: 28/11/2024