O editorial publicado nessa terça-feira (27) pelo Estado de S. Paulo, sob o título Quem deve teme, é mais uma etapa da operação da burguesia para colocar em pé uma alternativa eleitoral à polarização entre Lula e Bolsonaro. Trata-se da preparação da campanha “nem Lula, nem Bolsonaro”, cujo objetivo é apresentar os dois como equivalentes e abrir caminho para um novo candidato do regime, alguém “honesto”, “técnico”, “transparente” — um novo Fernando Collor, um novo Joaquim Barbosa, ou mesmo um Ronaldo Caiado.

O ponto de partida do editorial é o escândalo no INSS, utilizado como pretexto para atacar o governo Lula. O jornal acusa o petista de esconder informações públicas e afirma que seu governo “transformou em regra o que deveria ser exceção em um processo de poluição dos arquivos públicos”, com “subterfúgios técnicos, mas motivado por razões políticas”. O tom moralista e indignado não tem nada de novo: é o mesmo que a burguesia usou para justificar o golpe contra Dilma Rousseff, a prisão de Lula e a própria ascensão de Bolsonaro. A diferença agora é o ângulo: o governo Lula estaria repetindo os mesmos crimes do governo anterior — e, em certos aspectos, “até retrocedeu”.

A campanha é clara: Lula seria igual a Bolsonaro. O editorial afirma que a recusa de dados via LAI foi, nos dois primeiros anos, de 7,9% sob Lula e 7,7% sob Bolsonaro. Ou seja, o objetivo é dizer que se trata de “farinha do mesmo saco”. E vai além: diz que Lula se elegeu prometendo “restaurar a verdade” e entregar “transparência”, mas entregou o “oposto”. Conclui com a acusação de “estelionato eleitoral”.

O Estadão fala em sigilo de dados, mas o que está em jogo é a frente ampla. O jornal burguês não denuncia o escândalo do INSS por defender a moralidade na administração pública — na verdade, os próprios capitalistas são os beneficiários diretos do loteamento do governo promovido pelo PT. O problema para a burguesia é outro: Lula não tem controle sobre o próprio governo. Loteou o Estado de cima a baixo, entregou ministérios e estatais para as raposas do “centrão”, entregou a Casa Civil para o PSD, a articulação política para o MDB, e agora assiste, impotente, ao descontrole total da máquina pública. Não 

O editorial é um recado ao conjunto do regime: “é preciso outra coisa”. Uma figura “decente”, “republicana”, que saiba “fazer política”, que possa contar com o apoio da imprensa, do Judiciário, das Forças Armadas e do imperialismo. Um novo nome para aplicar os mesmos ataques, sem o incômodo de ter que fingir ser “de esquerda”.

A operação é idêntica à que precedeu a eleição de Bolsonaro. Primeiro, destrói-se a imagem do governo por meio da imprensa. Depois, apresenta-se uma “terceira via” como solução ao caos. O que a burguesia quer é emplacar um candidato de confiança que possa passar a boiada sem depender de acordos espúrios. Alguém como Ronaldo Caiado, Ratinho Jr. ou Tarcísio de Freitas.

A resposta a essa operação não virá de dentro da frente ampla. Só a mobilização independente da classe operária pode impedir que o avanço do plano golpista.

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Last Update: 28/05/2025