A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL), determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, foi tema de destaque no noticiário brasileiro nesta segunda-feira 4, mas também gerou intensa repercussão na imprensa internacional, com notícias publicadas nos principais jornais e sites de notícias do mundo.
As publicações, em sua maioria, ressaltam o descumprimento das medidas cautelares impostas anteriormente contra o ex-capitão como o motivador da prisão. Na decisão, Moraes considerou que Bolsonaro tentou driblar as barreiras impostas pelo STF ao usar perfis dos filhos para publicar mensagens a apoiadores.
O episódio teria acontecido no domingo 3, quando o ex-presidente participou do ato da extrema-direita realizado na Avenida Paulista por videochamada e mandou recados aos aliados via contas de seus filhos. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), inclusive, tentou apagar uma dessas mensagens após a publicação, o que teria reforçado os indícios de que Bolsonaro descumpriu as cautelares.
O histórico foi registrado pelo principal veículo de notícias da Alemanha, o DW. “Com a ajuda de aliados — incluindo seus três filhos, que são parlamentares —, ele disseminou conteúdo que ‘incitava ataques à Suprema Corte e pedia intervenção estrangeira’”, anotou o DW em um trecho do texto.
“Um vídeo mostrando Bolsonaro cumprimentando seus apoiadores foi publicado online e posteriormente apagado. O Judiciário avalia as violações mais recentes como ‘influência política ativa’ de Bolsonaro por meio de terceiros, o que equivale a ‘burlar a censura direta de seus próprios canais’”, menciona, ainda, a publicação.
O DW também optou por mencionar a ira do governo de Donald Trump contra a decisão. A gestão do presidente dos Estados Unidos se manifestou, horas após a ordem de prisão, com críticas a Moraes, que já é alvo de sanções no país.
Caminho parecido foi adotado pelo El País, da Espanha, que também lembrou do papel de Trump no episódio. O jornal espanhol optou, também, por resgatar as acusações enfrentadas pelo ex-capitão na trama golpista.
“O militar aposentado é acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado para tomar o poder após a derrota nas eleições de 2022 e impedir Lula de governar. O plano incluía o assassinato do atual presidente, seu vice, Geraldo Alckmin, e do juiz Moraes”, citou o El País.
Na Europa, a prisão ainda foi abordada por veículos como o Financial Times, o The Guardian e a BBC, do Reino Unido, além do Le Monde, da França.
- “O ex-capitão do Exército, de 70 anos, pode passar o resto da vida na prisão se for considerado culpado de conspirar com aliados, incluindo militares, para permanecer ilegalmente no poder após não conseguir ser reeleito em 2022. Bolsonaro nega qualquer irregularidade”, escreveu o FT.
- “A Polícia Federal foi instruída a recolher todos os celulares disponíveis no imóvel. Visitantes autorizados a ver o ex-presidente não poderão usar celulares, tirar fotos ou gravar vídeos”, detalhou o The Guardian.
- “Essas restrições foram impostas devido a alegações de que ele estava encorajando Donald Trump a interferir no caso”, comentou a BBC.
- “A decisão aperta ainda mais o cerco ao líder da extrema-direita, cujo passaporte já havia sido confiscado e que é obrigado a usar tornozeleira eletrônica desde meados de julho”, anotou o Le Monde.
Jornais dos EUA citam o tarifaço
Nos EUA, onde Bolsonaro recebe o apoio de Trump, a prisão foi destaque em veículos como o The New York Times e Washington Post, dois dos mais importantes jornais do país.
“As novas medidas ameaçam agravar a maior crise diplomática em décadas entre os Estados Unidos e o Brasil”, concluiu o NTY ao relacionar o caso com o tarifaço. A publicação lembra que Trump tem pressionado o Brasil para incluir o perdão ao ex-capitão nos itens de negociação, algo que Lula (PT) tem resistido, lembra a reportagem.
“A ordem foi o sinal mais claro até agora de que Moraes não tem intenção de recuar em seu cerco a Bolsonaro, apesar de uma intensa campanha de pressão do governo Trump e de uma tarifa americana de 50% imposta a produtos brasileiros”, destacou o WAPO.
Ásia e Oriente Médio
Na Ásia, a prisão de Bolsonaro foi noticiada pelo Nikkei, do Japão. O veículo optou por detalhar o descumprimento das cautelares que motivaram a ordem contra o ex-capitão.
A rede Al Jazeera, principal fonte de notícias do Oriente Médio, noticiou que apoiadores do ex-capitão se reuniram em uma pequena manifestação próxima ao condomínio de luxo em Brasília onde ele ficará preso. Um ‘buzinaço’ foi promovido pelos manifestantes, descreveu.