O início do julgamento de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, nesta terça (2), repercutiu amplamente na imprensa estrangeira. Jornais e revistas destacaram o ineditismo de ver um ex-presidente e altos militares no banco dos réus, a pressão de Donald Trump contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e as evidências de um “plano sinistro” que incluía assassinar Lula.
Em comum, o enquadramento de um teste histórico para a democracia brasileira, com expectativa de desfecho até 12 de setembro e menções a possível pena que pode somar décadas de prisão.
The New York Times (EUA)
O NYT reconstituiu, em formato de linha do tempo, as nove semanas entre a derrota nas urnas e o 8 de janeiro. Chamou o desenho golpista de “plano sinistro” e disse haver um “vasto conjunto de provas”.
Entre os pontos: tentativa de deslegitimar as urnas, rascunho de decreto de emergência para intervir no TSE e um plano de assassinato de Lula e Alckmin (com veneno, agentes químicos ou explosivos), além da vigilância e eventual prisão ou morte de Moraes.
A reportagem sublinha o papel de Mauro Cid como peça-chave e registra que, sem apoio de Exército e Aeronáutica, a articulação fracassou — levando Bolsonaro a viajar para a Flórida antes da posse.
The Guardian (Inglaterra)
O Guardian enfatizou o caráter inédito e histórico do julgamento e detalhou o tabuleiro político-militar: três generais do Exército e o ex-comandante da Marinha entre os réus. Destacou ainda a campanha de pressão do governo Trump (tarifa de 50% e sanções a Moraes), contraposta por análises segundo as quais a ofensiva pode sair pela culatra e enfraquecer Bolsonaro.
Em tom humano e simbólico, o jornal trouxe o trompetista que promete tocar marcha fúnebre e Bella Ciao, dizendo fazer o “velório político” do ex-presidente.
Washington Post (EUA)
O Post abriu com o recado de Moraes na sessão inaugural: defesa da independência do STF e negativa a interferências de “outro Estado estrangeiro”. Relatou as acusações de tentativa de golpe, organização criminosa e abolição do Estado democrático de direito, com pena potencial de até 40 anos.
Listou evidências: rascunho de decreto para assumir o TSE, suposta edição do texto por Bolsonaro, apresentações à cúpula militar e o plano para matar Lula, Alckmin e Moraes. Explicou o rito: colegiado de cinco ministros, maioria simples para condenar/absolver e segunda rodada para penas.
The Economist (Inglaterra)
A Economist reforçou o rótulo “Trump dos trópicos” e descreveu o 8 de janeiro como “esquisito e bárbaro”, com clima de festival nos acampamentos antes da invasão dos prédios públicos.
A revista argumenta que Bolsonaro falhou por incompetência, não por falta de intenção, e que o julgamento marca um salto civilizatório. Em paralelo, compara Brasil e EUA: enquanto Trump pressiona com tarifas e sanções, o Brasil “dá lição de democracia” ao levar adiante a responsabilização.
BBC (Inglaterra)
A BBC informou que o caso entrou na fase final na 1ª Turma do STF e destacou que Trump “abraçou” a causa de Bolsonaro, chamando o processo de “caça às bruxas”. O canal traça o paralelo com o Capitólio (2021) e ressalta o interesse global pelo desfecho — considerado por analistas como provável condenação — e seu potencial como precedente de responsabilização de altas autoridades na região.
La Nación (Argentina)
O La Nación abriu a cobertura com a acusação dura do procurador-geral Paulo Gonet, segundo a qual Bolsonaro e aliados “tramaram derrubar a democracia”. O jornal relata que Bolsonaro, em prisão domiciliar, faltou à sessão por “razões de saúde” e que a corte reservou cinco dias úteis de trabalhos até 12 de setembro.
A matéria detalha a narrativa do MP: reuniões com militares para um decreto de emergência, campanha para semear dúvidas sobre as urnas, papel do 8 de janeiro e até um plano de assassinato de Lula e de um ministro do Supremo. Lembra que Bolsonaro já está inelegível até 2030.
Libération (França)
O Libération chamou o caso de “processo do século” e disse que “ninguém duvida” de uma condenação. Reforçou a tese de “crime continuado” que culmina no 8 de janeiro, e revelou o documento “Punhal verde e amarelo”, com data (15/12/2022) e método (envenenamento) para eliminar Lula, Alckmin e Moraes.
A reportagem enfatiza a pressão de Trump: tarifa de 50%, sanções e suspensão de vistos de ministros do STF — além do lobby de Eduardo Bolsonaro nos EUA. Em entrevista, Valdemar Costa Neto diz: “Trump é nossa única saída”. O jornal conclui: o veredito testará a maturidade democrática do Brasil.