“Depois de um mês, a inundação”, é a manchete do jornal Libération que estampa sua capa com uma foto de Trump de costas, sob um fundo incandescente. “Desde que voltou à Casa Branca, o bilionário lidera uma ofensiva reacionária sem precedentes na história americana”, afirma.

Em três páginas, Libération enumera o que chama de “torrente de convulsões” que o magnata empreendeu desde 20 de janeiro, quando reassumiu o poder, “não apenas em Washington”, mas em escala planetária. “Declarações chocantes e intempestivas, exonerações em massa de funcionários protegidos por lei, decretos assinados por dezenas suscitando uma crise cotidiana no Estado de Direito”, enumera o diário, evocando uma “presepada” costumeira para Trump.

Segundo Libération, Trump segue à risca os planos do célebre “Projeto 2025”, cerca de 900 páginas redigidas por próximos do líder democrata, sob a égide da ultraconservadora organização Heritage Foundation. Dois terços dos decretos assinados pelo presidente americano neste primeiro mês de governo fazem parte deste documento, onde estão previstos desmantelamentos de agências inteiras e do ministério da Educação, bloqueio dos financiamentos da pesquisa científica e da ajuda humanitária, saída da Organização Mundial da Saúde e do Acordo de Paris, envio de reforço militar à fronteira com o México, suspensão dos programas de refugiados, entre outros. A lista é longa.

Fora dos Estados Unidos, o primeiro mês do mandato de Trump também embaralhou as cartas da geopolítica. Após chocar o mundo com a proposta de fazer da Faixa de Gaza uma Riviera Francesa e deportar a população do enclave a outros países da região, o presidente americano preocupa a Europa com sua aproximação com o presidente russo, Vladimir Putin. O jornal Le Figaro vê a situação com temor e chega a evocar até mesmo a possibilidade da expansão da guerra na Ucrânia a outros países da Europa.

O diário afirma que a “diplomacia trumpiana” mobiliza o presidente francês, Emmanuel Macron, que reuniu duas vezes nesta semana líderes europeus para tratar da ajuda militar à Ucrânia, mas também sobre um reforço acelerado da defesa europeia. Para o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Noel Barrot, “pela primeira vez desde 1945, o risco de uma guerra na Europa nunca foi tão elevado”.

Já o jornal econômico Les Echos aborda outro conflito empreendido nesse primeiro mês do segundo mandato de Trump, a guerra comercial. Após o anúncio de aumento de 25% nas tarifas sobre as importações de aço e alumínio, o líder republicano ataca agora o setor automotivo, de semicondutores e farmacêutico.

Alguns países já planejam medidas de retaliação, como o Japão, que afirmou que “examinará os detalhes” dos anúncios do líder republicano sobre as importações de automóveis japoneses para reagir “de forma apropriada”. Já a Malásia acredita que com o aumento das tarifas os Estados Unidos dão “um tiro no próprio pé”: as empresas de semicondutores que atuam hoje no país são majoritariamente americanas.

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Last Update: 20/02/2025