A imprensa dos Estados Unidos passou a questionar abertamente a legalidade do tarifaço de 50% anunciado por Donald Trump sobre todos os produtos brasileiros. Segundo o New York Times e a NBC News, a medida não tem fundamento econômico real, mas estaria sendo usada pelo presidente para retaliar o Brasil por conta do julgamento de Jair Bolsonaro, que responde por tentativa de golpe de Estado. 

Ambos os veículos destacam ainda que a nova tarifa pode causar inflação doméstica, elevando o preço de produtos de consumo básico como café e suco de laranja.

Em matéria assinada por Tony Romm, o New York Times destacou que Trump tenta usar tarifas como instrumento de pressão política contra governos que considera hostis. 

O jornal lembra que o presidente norte-americano atacou as autoridades brasileiras por colocarem Bolsonaro no banco dos réus e sugeriu que os tribunais do país deveriam inocentá-lo — sob pena de sanções comerciais. 

“Trump vinculou a ameaça de tarifa de 50% ao tratamento dado por Brasília ao ex-presidente Jair Bolsonaro”, afirma a reportagem. Para o advogado Ted Murphy, da Sidley Austin, “não está claro qual autoridade a Casa Branca poderia invocar para impor tarifas sobre o Brasil com base nesse motivo”.

Preço do café e da laranja deve subir nos EUA

Em tom mais direto, a NBC classificou a carta enviada por Trump ao Brasil como “diferente das demais” por se concentrar mais em política externa do que em comércio. O presidente norte-americano enviou nesta semana 22 cartas para países que serão sobretaxados até agosto.

O canal televisivo ressaltou que os Estados Unidos têm superávit comercial com o Brasil e que a nova tarifa prejudicaria os próprios consumidores americanos. 

“Você vai notar isso na sua mesa de café da manhã”, afirmou a repórter ao listar produtos afetados: “Café e suco de laranja. Compramos toneladas do Brasil”.

A reportagem alertou que o aumento de preços pode ocorrer já a partir de 1º de agosto, data prevista para entrada em vigor da tarifa, caso não haja acordo entre os países. 

O New York Times também apontou que as tarifas de Trump já estão sendo contestadas judicialmente nos EUA, e que uma corte federal decidiu em maio que o presidente excedeu sua autoridade ao usar a Lei de Poderes Econômicos em Emergências Internacionais (IEEPA, na sigla em inglês) para justificar tarifas sem aval do Congresso.

Medida pode chegar à Suprema Corte

Desde o início de seu primeiro mandato, Trump passou a interpretar a IEEPA de forma ampla, alegando que ela lhe permite impor tarifas unilaterais sem a aprovação do Congresso — o que já foi contestado por tribunais federais.

Em maio, a corte federal afirmou que o presidente “não possui autoridade ilimitada para travar uma guerra comercial global”. 

Mesmo assim, os juízes decidiram manter provisoriamente as tarifas em vigor, com o argumento de que uma suspensão imediata enfraqueceria a posição de negociação do governo norte-americano.

Agora, segundo o New York Times, a Casa Branca prepara um recurso à Suprema Corte para tentar validar sua estratégia tarifária. A expectativa é que o caso se torne um marco jurídico sobre os limites do poder presidencial no comércio exterior.

Para Jeffrey Schwab, advogado do Liberty Justice Center — entidade que representa pequenas empresas afetadas —, o episódio com o Brasil reforça os argumentos da ação judicial. 

“Essas tarifas são problemáticas justamente porque podem mudar a qualquer momento, e nossos clientes ficam sem previsibilidade”, disse. Ele também destacou que, ao vincular a sanção ao julgamento de Bolsonaro, Trump abandona qualquer justificativa econômica plausível.

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Last Update: 12/07/2025