Grande imprensa brasileira: a quinta-coluna do projeto autoritário da direita

por Daniel Gorte-Dalmoro

De um lado, os grandes veículos de imprensa dizem defender a democracia. De outro, abrem espaço para os Bolsonaro darem sua distorção dos fatos – mesmo quando é inconteste a participação na tentativa de golpe de estado de 8 de janeiro – e fazerem política, mantendo sua relevância no cenário político nacional. Por outro lado, ainda, dia sim, outro também, apresentam Tarcísio como alguém de uma direita moderada, mesmo sabendo quem ele é – assim como sabiam quem era Bolsonaro, sendo a conversa de “uma escolha muito difícil” apenas um subterfúgio para não assumirem logo que a democracia é um detalhe irrelevante para os donos dos poderes.

O paradoxo da tolerância, de Karl Popper, é conhecido dessa imprensa, e não tem como dar a ela o benefício da dúvida, de que não saberia que tolerar (e dar voz) aos intolerantes põe em risco a própria tolerância que é um dos pilares de uma sociedade democrática e liberal.

O que essa imprensa também sabe é o modus operandi da nova extrema-direita, seja pelo que vivenciou durante a presidência de Bolsonaro, seja com o que acompanha nos EUA, com Trump: sem nenhum princípio republicano, persegue quem não se submete a seus desígnios e os adula: a única imprensa que eles aceitam é a que dá a versão oficial dos fatos. Investigação? Só se for dos adversários do governante, convertidos em inimigos.

O que a grande imprensa tem feito, portanto, é investimento futuro, sem risco de perdas: sabendo do republicanismo de Lula e do PT (republicanismo de almanaque, de tão distante das lutas políticas que atravessam o país, diga-se de passagem), fustiga o governo sem dó nem ética, distorcendo dados e notícias favoráveis e criando factóides para desgastar o governo. Fazem-no porque tem a tranquilidade de que publicidade oficial continuará caindo na conta, apesar de fazerem mau jornalismo (se é que o que fazem é jornalismo). 

Se Lula ganhar em 2026, não tem problema, a vida segue normal, sem reação do Planalto. Se a extrema-direita ganhar, tem o cartão de visitas a apresentar ao próximo presidente: foram uma quinta-coluna no enfraquecimento da democracia e podem continuar sendo agraciados com verbas publicitárias governamentais. Isso para não falar no agrado que fazem aos donos do capital que vandaliza o país, visto que a plataforma da nova direita para países periféricos é o capitalismo de butim – vide as privatizações da era Temer/Bolsonaro, como da Petrobrás, e agora a privatização da Sabesp por Tarcísio -, sem nenhuma preocupação com desenvolvimento econômico ou social.

Há quem questione se apoiar um projeto autoritário, ainda que com verniz democrático, não seria um tiro no pé da imprensa. De modo algum! Quem sucumbiria não seria a imprensa e sim o jornalismo. As empresas seguiriam lucrando – e colaborando com a repressão -, como foi durante a ditadura militar-empresarial de 64-85.

Quem precisa estudar um pouco mais sobre o paradoxo da intolerância é o PT e o governo.

Daniel Gorte-Dalmoro é escritor e funcionário público. Filósofo e Sociólogo formado pela Unicamp, Mestre em Filosofia pela PUC-SP (se debruçou sobre A Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord), Psicanalista em formação. Autor, dentre outros, de Trezenhum. Humor sem graça. (Ibiporã 1011) e Linha de Produção/Linha de Descartes (Editora Urutau).

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Last Update: 04/06/2025