
O DCMTV recebeu Vera Paiva, filha de Eunice e Rubens Paiva, na cobertura do julgamento da denúncia contra Jair Bolsonaro e outros sete investigados pela trama golpista. A primeira sessão ocorreu no STF na terça-feira (25).
Vera analisou o contexto histórico da repressão no Brasil, traçou o perfil psicológico de Bolsonaro e, após exposição oral do Procurador-Geral da República, definiu o momento como um “ganho histórico”. “A importância disso que está acontecendo é brutal. Tem, de fato, um caráter educacional, de trazer novamente à mídia os crimes que essas pessoas cometeram”, disse.
MORTOS E DESAPARECIDOS DA DITADURA
Ontem tivemos uma experiência fortíssima na Vala de Perus, com a ministra Macaé Evaristo pedindo desculpas oficiais, em nome do Estado brasileiro, aos familiares de mortos e desaparecidos. O lugar é marco e símbolo, onde a ditadura jogava os ossos dos assassinados na tortura misturados com mortos da epidemia de meningite.
O PERFIL PSICOLÓGICO DE BOLSONARO
A falta de compromisso com a vida, o ‘se colocar no lugar de Deus’, decidir quem vive e quem morre, que vida serve e que vida não serve — e tudo isso em nome de Cristo, que foi torturado na cruz, como dizia minha mãe. Isso define Bolsonaro.
O BUSTO DE RUBENS PAIVA
Hoje acordei com a imagem que me veio quando o filme “Ainda Estou Aqui” ganhou o Oscar. Lembrei daquele busto do meu pai, Rubens Paiva, em Brasília, em que Bolsonaro cuspiu. Naquela época, tínhamos pouquíssimos marcos de memória. A iniciativa do busto foi do deputado Paulo Teixeira . No dia da apresentação, eu, meus filhos, minhas irmãs e parte importante do Congresso Nacional estavam presentes.
De repente, Bolsonaro passou por nós com dois brutamontes ao lado dele. Hoje até fico pensando se não eram seus filhos, não lembro quem eram. Na época, ele mantinha um cartaz na porta do gabinete com a frase “Quem procura osso é cachorro”. Bolsonaro então olhou para o busto, cercado por esses dois homens enormes, passou por nós e cuspiu. Esse sujeito, sem humanidade, chegou a ser presidente do Brasil. Ele está sendo julgado pela lei. Se for preso, não será torturado e ainda alega que não tem liberdade. A lógica da extrema-direita não se sustenta.
MOMENTO HISTÓRICO
Ainda bem que não fui [ao local onde Bolsonaro foi julgado, com ele na platéia]. O julgamento não conserta o passado, mas repara. É fundamental que se faça aqui como se fez em outros lugares do mundo. O Marcelo [Rubens Paiva] uma vez falou sobre a importância do Exército pedir desculpas em nome da memória e da reparação para assim permitir que a gente transite para uma reparação em que o Exército sustente a defesa contra os inimigos externos e não seja inimigo interno. Essa denúncia contra essa organização criminosa é super importante, porque é exatamente isso que eles são.
A FORÇA DO GOLPISMO
Na manifestação que esses caras organizaram em Copacabana, havia uma faixa escrito “Ainda estamos aqui”. Isso é arrepiante. Eles estão dispostos e muito bem financiados internacionalmente para continuar a defender a tortura e a perseguição. O que está dizendo é: se vocês ainda estão aqui, nós também, e faremos de tudo para permanecer. Por isso, é um dia histórico e um ganho enorme.