Ihsan al-Nimr, nascido em Nablus, foi uma figura proeminente cuja vida e obra se entrelaçaram profundamente com a história e a luta da Palestina. Filho de Najib Agha e Khadija bint Abd al-Qader, ele cresceu em uma família conservadora, com um irmão, Ahmed, e duas irmãs, Shamsa e Nabiha. Teve uma filha, Khadija, perpetuando sua linhagem.

Sua jornada educacional teve início em uma tradicional escola elementar (kuttab), antes de prosseguir para a escola al-Maktab al-Rushdi em Nablus e, em seguida, para a Escola Nacional Najah. Em busca de aprimoramento, viajou para o Líbano para o ensino médio, matriculando-se no National College em Choueifat. Lá, em 1929, obteve seu certificado de conclusão do ensino médio, qualificando-o para ingressar na faculdade de ciências da American University in Beirut (AUB) sem a necessidade de prestar o exame de admissão. No entanto, as dificuldades financeiras de sua família impediram sua matrícula na AUB, levando-o a retornar a Nablus. Longe de desistir do conhecimento, al-Nimr dedicou-se ao autoestudo, imergindo nas obras clássicas da história árabe e islâmica, bem como no Alcorão, construindo uma base sólida para sua futura carreira intelectual.

O retorno de al-Nimr à Palestina em 1929 coincidiu com a eclosão dos Distúrbios de al-Buraq em agosto daquele ano, um período de grande agitação. Diante da crescente ameaça, ele assumiu um papel ativo na conscientização da juventude de Nablus sobre o perigo da imigração sionista e o papel da Grã-Bretanha como “causa da desgraça”, patrocinadora e protetora do sionismo na Palestina. No cenário político palestino interno, al-Nimr foi um dos primeiros a se opor à adesão aos dois grandes blocos políticos da época: o bloco Majlisi ou o bloco de oposição, defendendo uma postura mais independente e unificada.

A década de 1930 marcou um período de intenso ativismo nacionalista para al-Nimr. No início da década, ele ajudou a organizar a conferência realizada em Nablus em agosto de 1931, um protesto veemente contra a aquiescência britânica à aquisição de armas pelos sionistas. Em 1932, colaborou com o comitê executivo da Conferência da Juventude para organizar guardas de fronteira e guardas costeiros, com o objetivo de combater a imigração judaica ilegal, demonstrando sua preocupação prática com a segurança da terra.

Seu engajamento não se limitou à política. Al-Nimr foi um reformador social e educacional incansável. Ele fundou a Associação dos Trabalhadores do Calçado em Nablus no início da década de 1930 e, em 1932, estabeleceu a Escola do Renascimento Islâmico, um esforço louvável para educar crianças que não podiam se matricular em escolas governamentais. Em 1934, fundou duas sociedades: a Sociedade Hadaya e a Sociedade Esportiva Hadaya. O objetivo declarado dessas sociedades era “melhorar as condições dos muçulmanos” por meio da reforma moral. A primeira decisão da Sociedade Hadaya foi liderar uma campanha contra o álcool e o fumo. Ela respondeu positivamente a vários apelos para arrecadar doações, incluindo um do Reino da Arábia Saudita para os pobres de Medina (antes das receitas de petróleo), para as famílias de pessoas condenadas à prisão perpétua pelas autoridades britânicas após os Distúrbios de al-Buraq em 1929, e para reconstruir a Mesquita Nasr em Nablus, destruída pelo terremoto que atingiu a Palestina em 1927. A sociedade, que tentou abrir filiais em outras cidades e vilas palestinas, suspendeu suas atividades com a eclosão da Segunda Guerra Mundial.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, al-Nimr fundou o Partido do Progresso Árabe Palestino, cujos principais objetivos eram proteger a terra e a propriedade dos árabes palestinos e elevar os princípios e a moral acima das considerações pessoais e familiares. Contudo, as atividades do partido foram suspensas após a Resolução da Partilha em novembro de 1947, um evento que mudaria o curso da história palestina.

Ao longo desses anos de intensa atividade política e social, al-Nimr também se dedicou à escrita. Ele produziu inúmeros artigos sobre política, história e outros tópicos, publicados em diversos jornais e revistas palestinas e árabes, como al-Karmel, al-Jami’a al-islamiyya, al-Difaa‘, al-Azhar, al-Tamaddun al-islamiy, al-Hayat e al-Sirat al-mustaqim, contribuindo para o debate público e a conscientização.

Após a Nakba em 1948, Ihsan al-Nimr permaneceu em Nablus, que passou para o domínio jordaniano. Ele se afastou da política ativa e dedicou-se inteiramente à pesquisa e à escrita. Mesmo quando os israelenses ocuparam a cidade em junho de 1967, ele não a abandonou, continuando suas pesquisas, com foco especial nos registros dos tribunais da shari’a, que reconhecia como uma fonte crucial para a história social e econômica.

Al-Nimr escreveu mais de trinta livros, mas sua obra mais famosa e importante é a enciclopédia de quatro volumes “A History of Mount Nablus and al-Balqa’”. O primeiro volume foi publicado em Damasco em 1938. Ele foi um dos primeiros historiadores a compreender a importância dos registros dos tribunais da shari’a e a necessidade de utilizá-los como uma fonte confiável para a escrita da história social e econômica. Seu profundo interesse pelo patrimônio foi expresso também no museu que ele criou para abrigar as raras antiguidades que coletava. Além de sua vasta produção histórica, al-Nimr também foi poeta, tendo iniciado sua produção poética em tenra idade. Após sua morte, deixou vários manuscritos com instruções para sua publicação, garantindo que seu legado intelectual continuasse.

Ihsan al-Nimr era conhecido por sua honestidade, franqueza e modéstia. Foi um historiador rigoroso, um poeta sensível e um reformador social dedicado. Sua defesa da reforma religiosa e seu apelo à união árabe e à volta para o Oriente marcaram sua visão de um futuro para seu povo.

Ihsan al-Nimr faleceu em Nablus, a cidade que moldou sua vida e sua obra, e foi sepultado no jazigo da família, deixando um vazio, mas também um vasto legado de conhecimento e inspiração.

Algumas de suas obras selecionadas, que demonstram sua amplitude intelectual e seu compromisso com a história e a cultura árabe-islâmica:

“تاريخ جبل نابلس والبلقاء” (Uma História de Nablus e al-Balqa’). Este é seu trabalho mais monumental:

Vol. 1: Damasco: مطبعة ابن زيدون, 1ª ed., 1938; 2ª ed., Nablus: جمعية عمال المطابع التعاونية, 1975.

Vol. 2: Nablus: مطبعة النصر التجارية, 1961.

Vols. 3 e 4: Nablus: جمعية عمال المطابع التعاونية, 1975.

“أمراضنا ومشاكلنا” (Nossas Moléstias e Nossos Problemas). Damasco: مطبعة ابن زيدون, 1950. Uma análise de questões sociais e desafios da época.

“تاريخ الحمدانيين” (Uma História dos Hamdanids). Jerusalém: مطبعة دار الأيتام, 1957.

“بطولات الجزائريين الخالدة” (Os Atos Eternos de Heroísmo dos Argelinos). Nablus: المطبعة العصرية, 1959.

“روح العمل وصفات العاملين” (A Ética do Trabalho e as Qualidades dos Trabalhadores). Nablus: مطبعة الفرج, 1970. Uma obra que reflete sua visão sobre a importância do trabalho e da moralidade.

“شخصية المصطفى وثمار الإسلام وأهدافه” (A Personalidade do Profeta Muhammad e os Frutos e Objetivos do Islã). Nablus: [d. n.], [1974].

“التوحيد سبيل الترقّي” (A Unificação é o Caminho para o Progresso). Nablus: جمعية عمال المطابع التعاونية, 1977. Reflete sua visão sobre a unidade e o avanço.

“نظرات وتحقيقات في التاريخ العثماني” (Percepções e Investigações sobre a História Otomana). Nablus: مطبعة النصر, 1978.

“نقد رسالة الراميني عن نابلس” (Crítica da Carta de Ramini sobre Nablus). Nablus: مطبعة الاقتصاد, 1980.

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Last Update: 09/06/2025