Em declaração publicada no dia 5 de março, a “Liga Internacional dos Trabalhadores” (LIT-QI), na qual o PSTU está inserido, afirmou a necessidade de se lutar pelo “Fora Trump, Putin e Netanyahu da Palestina e da Ucrânia”. A declaração oficial da liga veio em meio às recentes negociações entre o governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, e o governo russo de Vladimir Putin, onde busca-se encerrar a guerra na Ucrânia.

Segundo a matéria, o governo Trump está “adicionando sérios elementos de crise à ordem mundial, como a política em relação a Putin, à Europa e seus impulsos anexionistas“. Diante dessa colocação, a Liga afirma que Trump “tentará deportar milhões de imigrantes (…) também ataca os direitos LGBTQ (…) acabar com a escassa legislação ambiental”. Mas será isso mesmo?

O primeiro mês do governo Trump revelou, acima de tudo, uma enorme contradição entre a política de Trump e a política oficial do imperialismo. A LIT cita os impulsos anexionistas de Donald Trump como um dos exemplos dos “sérios elementos de crise”. No entanto, apesar das bravatas feitas pelo presidente norte-americano, as únicas decisões concretas do governo no terreno internacional foram a política de interrupção de gastos militares e as tentativas de acordo para encerrar os conflitos na Ucrânia e Palestina, medidas que estão em completo desacordo com algum tipo de “anexionismo”.

Neste sentido, a discussão, aos olhos de toda a imprensa internacional, entre Trump e Zelensqui serviu apenas para demonstrar que o novo presidente dos EUA não está disposto a continuar a guerra contra os russos, algo que gerou enorme descontentamento no imperialismo.

A LIT também cita o problema da deportação de imigrantes, mas se esquece de que, até o momento, grande parte dos deportados, senão a sua totalidade, estão sendo feitos devido a decisões anteriores do governo Joe Biden, o “democrata”.

Está claro que o governo Trump é um governo de intensa crise para o imperialismo. No entanto, diante deste novo cenário, a Liga busca explicar como se dá a crise atual do imperialismo, afirmando que “o imperialismo norte-americano continua hegemônico em termos econômicos, financeiros, militares e geopolíticos, mas precisa enfrentar o emergente imperialismo chinês (…) Trump, de certa forma, assume o declínio estadunidense como um fato e quer concentrar seus esforços no confronto com o imperialismo chinês”,

Neste sentido, a Liga segue a opinião geral de diversos articulistas da imprensa burguesa internacional. Toda a crise é resumida na colocação de que Trump estaria recuando em determinados lugares para focar-se no confronto com o “imperialismo chinês”.

Em primeiro lugar, tratando-se de uma organização pretensamente marxista, é perceptível a falta de sentido no uso de “imperialismo”. Para a LIT, tanto os EUA quanto a China e a Rússia são países imperialistas em confronto. Dessa maneira, a China, um país que luta contra o imperialismo para que uma parte de seu território seja desocupada, a ilha separatista da Taiuan, que sequer consegue ocupar partes importantes do mercado mundial, seria assim um “país imperialista”. No mesmo sentido, a LIT afirma que os russos seriam também imperialistas e saem em defesa da “resistência ucraniana”.

Sobre este problema, primeiro a respeito do dito imperialismo russo. Caso assim fosse, ou seja, se os russos representassem um imperialismo em luta contra o imperialismo norte-americano, por que motivo a LIT se colocaria contra um imperialismo e em defesa de outro?

Durante a Primeira Guerra Imperialista, Vladimir Lênin definiu uma correta posição: diante da luta entre os países imperialistas, deveríamos nos posicionar não em defesa de um país ou outro, mas sim em defesa da revolução operária nesses países e em uma política contra a guerra. Lênin, um dos principais nomes do marxismo, definiu claramente essa posição. No entanto, para os “marxistas” da LIT, isso não parece estar claro. A lógica utilizada pela Liga, na realidade, seria “na luta entre dois países imperialistas, deveríamos não apenas defender um dos países, mas ir além e defender o país mais forte”.

Esta falta de lógica resulta em um dos principais tópicos da declaração: “Todo apoio à resistência ucraniana!”. A LIT afirma que Trump aceitou e legitimou a “invasão russa”, além disso, destaca que “o imperialismo não faz o que quer. Ele faz o que pode. O imperialismo norte-americano pode fazer muito, porque é o mais forte. Mas o resultado de suas ações dependerá do equilíbrio de forças políticas, econômicas e militares.” Junto a isso, a LIT diz que “a guerra na Ucrânia não vai acabar porque Trump quer” e que “a partir da LIT, somos a favor de derrotar a invasão e ocupação de Putin e defender a integridade territorial e a soberania da Ucrânia. Rechaçamos o ‘acordo de paz’ de Trump e Putin”.

Tais colocações podem ser traduzidas da seguinte forma: “o imperialismo fez pouco pela Ucrânia, tinha condições de fazer muito mais”. Nesse sentido, mais uma vez, a LIT se coloca ao lado do imperialismo norte-americano na luta contra a Rússia. Para tentar camuflar um pouco essa bizarrice, o ponto é encerrado afirmando que “não existem imperialismos bons” e que o imperialismo europeu deu uma ajuda “a conta-gotas” para debilitar Putin. Novamente fica o questionamento: não existem imperialismos bons, pois a OTAN deveria ter feito muito mais contra a Rússia?

Por fim, a LIT afirma que defende a “independência política dos trabalhadores ucranianos contra o governo neoliberal de Zelensky”. Mas quais seriam esses trabalhadores? Os que estão no Donbass lutando há mais de uma década em uma brutal guerra civil contra o imperialismo e que recebem apoio da Rússia? Aqueles que foram mortos e perseguidos pelo golpe de Estado dado pelo imperialismo? Ou os que defendem a ação militar russa na Ucrânia?

A política pró-imperialista continua no caso sírio. A LIT-QI afirma que a derrubada de Assad na Síria, organizada pelo imperialismo, foi uma “importante vitória para o povo sírio”. Além disso, apesar de afirmar que o HTS está se aliando ao imperialismo, “não conseguiu acabar com as liberdades conquistadas pelo processo revolucionário que derrubou Assad”. Que liberdades conquistadas seriam essas? Jamais saberemos, mas o que sabemos é que a tal “revolução síria”, financiada pelo imperialismo, resultou em um governo pró-imperialista e que não se opõe a “Israel”.

Como conclusão, a LIT afirma que “as medidas, intervenções e ataques lançados por Trump, a cara do imperialismo, têm estimulado o aumento da consciência anti-imperialista no mundo”. Temos aí a primeira verdade, mas, diferente do que pensa a Liga “marxista”, quem na realidade está contribuindo para isso é a política contrária à grande parte dos principais interesses do imperialismo, levadas à frente por Trump. Tal política vem possibilitando que importantes países atrasados, como China e Rússia, assim como todo o BRICS, possam levantar a cabeça.

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Last Update: 10/03/2025