O jurista Thiago Amparo, em seu artigo Trump versus diversidade, publicado no jornal imperialista Folha de S. Paulo, faz uma defesa das políticas identitárias e também traz críticas aos posicionamentos de Donald Trump, que, em discurso ao Congresso dos EUA em 4 de março de 2025.

“Quando Trump diz no discurso que ‘seja você médico, contador, advogado ou controlador de tráfego aéreo, você deve ser contratado e promovido com base em habilidade e competência, não em raça ou gênero’, o que ele está de fato dizendo é que se há poucas pessoas negras e mulheres na liderança destas profissões é porque estas não são capazes.”

Ao contrário do que afirma o autor, porém, o identitarismo não é uma solução progressista, mas um golpe da burguesia imperialista. Longe de libertar os oprimidos, ele promove os elementos mais corruptos e oportunistas entre mulheres e negros, elevando-os a uma pequena burguesia de fachada esquerdista, porém profundamente reacionária, que serve ao imperialismo enquanto a maioria desses grupos segue esmagada pelo regime de exploração.

Amparo enxerga nas ditas políticas de inclusão um meio de superar barreiras à ascensão de mulheres e negros em posições de poder, usando exemplos como metas de contratação para refutar a ideia de que a baixa representatividade desses grupos decorre de incapacidade. Fosse o objetivo do identitarismo melhorar as condições materiais dos oprimidos, seria de se esperar que seus métodos beneficiassem a classe trabalhadora, sejam mulheres, negros, homens ou brancos. Não é o que ocorre.

O que o identitarismo defende é a criação de um sistema de privilégios tão opressor quanto os do capitalismo tradicional, porém ainda mais farsesco, porque não está ligado à competência para desempenhar determinadas tarefas, mas a critérios raciais e sexuais. Com isso, cria-se uma casta privilegiada que se beneficia de pequenos privilégios típicos da pequena burguesia enquanto o sistema imperialista intensifica a miséria da maioria, que continuará desassistida, algo relativamente lógico, uma vez que na sociedade de classes, se os privilégios se democratizarem, desaparecem.

Tomemos o caso de uma fábrica: uma trabalhadora negra promovida a gerente por políticas identitárias não altera a exploração das demais na linha de produção; pelo contrário, ela passa a integrar a estrutura que as oprime, vendendo a ilusão da ascensão. O mesmo vale para um advogado negro alçado a sócio de um grande escritório do ramo: sua ascensão não toca na realidade dos trabalhadores negros que limpam o prédio onde ele trabalha. Esses exemplos mostram que o identitarismo seleciona alguns poucos para brilhar como troféus, enquanto a massa de oprimidos permanece na sombra.

A essência do golpe identitário está em sua substituição da luta de classes por uma política de privilégios individuais. Amparo sugere que contratar com base em raça ou gênero corrige injustiças, mas ignora que isso não desafia o capitalismo imperialista — ao contrário, o fortalece. A pequena burguesia identitária, com seu verniz progressista, torna-se uma aliada do regime que explora os trabalhadores, defendendo-o sob o pretexto de “representatividade”. Enquanto isso, as mulheres e os negros da classe trabalhadora — a verdadeira maioria — seguem sem acesso a direitos básicos como moradia, saúde e salário digno.

O identitarismo, ao priorizar a ascensão de uns poucos à custa da luta coletiva, entrega à burguesia imperialista um exército de carreiristas dispostos a posar de “salvadores” enquanto o sistema esmaga os mais vulneráveis. Um médico negro em um hospital de ricos ou uma executiva mulher em uma multinacional não representam avanço para os milhões que morrem nas filas do SUS ou são demitidos em cortes de custo.

O erro de Amparo é tratar a representatividade como solução, quando ela é, na verdade, uma cortina de fumaça. A obrigatoriedade de promover um número reduzido de mulheres e negros à pequena burguesia não é um passo rumo à igualdade, mas uma estratégia para comprar oportunistas que iludam as massas oprimidas com promessas vazias de ascensão.

Essa política nunca chegará à maioria das mulheres e dos negros, muito menos aos trabalhadores como um todo, pois seu objetivo não é a libertação, mas a perpetuação da dominação imperialista. Enquanto Amparo sonha com um mundo onde a diversidade supere o “mérito” racista, o identitarismo entrega à burguesia uma nova leva de capatazes para manter o povo — negro ou branco, homem ou mulher — sob o jugo da exploração. Contra essa farsa, a luta deve ser pela emancipação de todos os trabalhadores, não pela maquiagem reacionária de um sistema podre.

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Last Update: 07/03/2025