Na véspera do 13 de Maio deste ano, a BBC News Brasil publicou matéria de Edison Veiga intitulada Era a escravidão que sustentava a Igreja Católica no Brasil, onde relaciona diversos dados para “provar” que a igreja se beneficiava da economia escravista. Finalmente, qual seria a instituição do regime político que não seria financiada pela atividade econômica da época?
Na conclusão da matéria, é citado que a princesa Isabel foi condecorada pelo papa Leão XIII pela assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão no País. O objetivo é claro: jogar mais lama num marco importantíssimo da luta política e na história do Brasil.
O autor discorre com vários exemplos de que a igreja, em especial os padres jesuítas, convivia tranquilamente com a escravidão, inclusive possuindo escravos. No trecho abaixo, quase coloca a responsabilidade da escravidão na igreja, ignorando que a escravidão era um dos pilares da economia da época:
“Apoiados em argumentos de que era melhor viver sob a escravidão ‘e se tornar um cristão’ do que seguir ‘no paganismo e ir para o inferno’, religiosos deram um salvo-conduto à elite escravocrata que ao longo de quase 400 anos exploraram mão de obra compulsória no Brasil.”
A escravidão é, sem dúvidas, algo bárbaro. Mas fez parte do processo de desenvolvimento das forças produtivas em nível mundial, sendo uma realidade na sociedade da época. Por sua vez, a Igreja Católica, como instituição, sempre foi conservadora. Ou seja, a favor das classes dominantes, primeiro a nobreza e, depois, a burguesia. A relação entre um e outro era inevitável.
Como a matéria mesma coloca sobre as posses dos jesuítas, “essa riqueza era adquirida da relação que os jesuítas tinham com os líderes africanos e os residentes portugueses em Luanda”. Ou seja, a escravidão era um negócio do qual participavam como comerciantes inclusive negros na África. O que também não justificaria o mesmo “cancelamento retroativo” a essas personagens. Na história humana, o que não faltam são costumes que agridem a moral dos dias de hoje. Nenhum país escapa disso, mas nenhum também faz muita questão de ficar se torturando por isso.
Simplesmente porque não traz nada de positivo para esses países, da mesma forma que essa revisão histórica que tenta se operar no Brasil não fortalece nem o País e nem aqueles que seriam as vítimas da história do País. Ao contrário do que os identitários tentam impor como verdade, o 13 de Maio é uma data muito importante que deve ser celebrada.
A abolição da escravidão foi a culminação de um longo processo de luta política. Diminuir a importância desse evento é diminuir a importância dessa luta.