Ibrahim Tuqan nasceu em 1905, em uma família respeitada da cidade de Nablus, na Cisjordânia. Era filho de Abd al-Fattah Tuqan e Fawziyya Amin Asqalan, e cresceu com quatro irmãos — Yusuf, Ahmad, Rahmi e Nimr — e três irmãs — Fadwa, Fataya e Adiba. O ambiente familiar, comprometido com a cultura árabe, influenciou muito sua formação. Um de seus irmãos, Ahmad Tuqan, foi fundamental em sua iniciação ao estudo da poesia clássica e moderna.
Tuqan realizou seus primeiros estudos na Escola Rashadiyya Gharbiyya, em Nablus, onde permaneceu por quatro anos, durante o período da Primeira Guerra Mundial. A invasão britânica da Palestina forçou a reorganização de sua trajetória. Em 1919, aos 14 anos, foi enviado a Jerusalém para estudar na Escola de São Jorge, uma instituição anglicana. Lá, teve aulas com o renomado professor Nakhla Zurayq, intelectual nacionalista e profundo conhecedor da literatura árabe e islâmica. Esse contato teve enorme impacto sobre o jovem poeta, que publicou sua primeira ode em 1923, aos 18 anos.
Formação universitária em Beirute
Ainda em 1923, Tuqan ingressou na Universidade Americana de Beirute (UAB), um centro importante do pensamento árabe moderno. Durante o primeiro semestre do segundo ano, escreveu o poema Al-Mumarridat (As Enfermeiras), também conhecido como Mala’ikat al-Rahma (Anjos da Misericórdia), publicado no jornal libanês al-Ma‘rad. A obra lhe trouxe notoriedade no meio literário do Líbano. No entanto, problemas de saúde interromperam temporariamente seus estudos e o forçaram a retornar a Nablus. Posteriormente, obteve o diploma de bacharel em literatura, em 1929.
O poeta da revolta de 1929
Após se formar, Tuqan assumiu uma cátedra de literatura árabe na Escola al-Najah, em sua cidade natal. Nesse mesmo ano, a Palestina foi sacudida por uma revolta popular contra os colonos sionistas e o protetorado britânico. O massacre perpetrado pelas forças coloniais e a repressão aos militantes nacionalistas marcaram profundamente o poeta, que passou a se dedicar à produção de poesias revolucionárias.
Em 17 de junho de 1930, os militantes Fuad Hijazi, Muhammad Jamjoum e Atta al-Zeer foram executados pelos britânicos em Acre. 10 dias depois, Tuqan recitou em público a ode Al-Thulatha’ al-Hamra’ (A Terça-feira Vermelha) durante a cerimônia de formatura da escola. O poema, que exaltava os mártires da revolução, logo se espalhou pela Palestina e se tornou símbolo da luta nacional.
Atuação no Líbano e volta à Palestina
Entre 1930 e 1932, Tuqan lecionou na Universidade Americana de Beirute, a convite do Departamento de Língua Árabe. Após dois anos no cargo, decidiu voltar à Palestina. De volta a Jerusalém, trabalhou como professor na Escola Rashidiyya, mas sua saúde voltou a piorar. Em 1933, foi submetido a uma cirurgia estomacal e, após recuperar-se parcialmente, abandonou o magistério.
Durante dois anos, ocupou um cargo na administração da Prefeitura de Nablus. Nesse período, intensificou a publicação de seus poemas nacionalistas no jornal al-Difa‘, ganhando popularidade entre os leitores palestinos. Sua poesia era incisiva: denunciava a venda de terras para colonos sionistas, exaltava os combatentes da causa nacional e criticava a traição e o divisionismo entre as lideranças árabes.
A luta pela cultura nacional
Em 1936, no mesmo ano em que eclodiu a Grande Revolta Árabe na Palestina, Tuqan assumiu a chefia da seção árabe da Rádio de Jerusalém, fundada naquele ano pelas autoridades britânicas. Durante quatro anos, coordenou os programas em língua árabe, promovendo a cultura nacional em meio ao cerco colonial.
Sua principal batalha travou-se contra a tentativa de substituir a língua árabe clássica pelo dialeto coloquial nas transmissões. Essa campanha, incentivada por setores vinculados ao colonialismo britânico, visava romper a unidade linguística e cultural dos povos árabes. A resistência firme de Tuqan lhe custou o cargo: foi demitido em outubro de 1940.
Últimos dias e legado
Após sua demissão, viajou para Bagdá, onde pretendia lecionar. No entanto, sua enfermidade se agravou rapidamente. Em janeiro de 1941, retornou à Palestina, foi internado no Hospital Francês de Jerusalém e faleceu poucos dias depois, em 2 de maio. Tinha apenas 36 anos. Foi sepultado em Nablus, sua cidade natal.
Seu poema mais conhecido, Mawtini (Minha Pátria), composto em 1934, tornou-se hino da Palestina. A canção, musicada pelo compositor Muhammad Flayfil, foi entoada por multidões árabes e adotada oficialmente como hino nacional do Iraque após a invasão norte-americana em 2003.
Em reconhecimento à sua contribuição para a cultura e a luta palestina, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) concedeu-lhe postumamente, em 1990, a Medalha de Jerusalém para a Cultura, Artes e Literatura. Sua vida também foi retratada em uma série de televisão produzida no Iraque, intitulada Ibrahim Tuqan.