O Ibovespa encerrou o primeiro semestre de 2025 com valorização acumulada de 15,44%, atingindo 138.854 pontos. O desempenho representa a melhor performance do índice para o período desde 2016, segundo levantamento da consultoria Elyas Ayta divulgado pelo jornal O Globo.
A recuperação surpreendeu analistas e investidores, especialmente após o encerramento de 2024 marcado por fortes turbulências nos mercados. Ao final do ano passado, o índice havia recuado para níveis abaixo de 120 mil pontos, o dólar superava R$ 6,26 e as projeções para a taxa Selic chegavam a 17% ao ano.
Seis meses depois, o cenário foi revertido. A moeda norte-americana recuou 12,08% no primeiro semestre e terminou junho cotada a R$ 5,433. No mesmo período, os contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em dezembro de 2025 passaram a projetar uma taxa de juros de 14,93%, abaixo das estimativas anteriores.
Ações com maior valorização
Entre as ações que mais se valorizaram no semestre, o destaque foi a Cogna (COGN3), com alta de 162,9%. O papel liderou os ganhos puxado por movimentos no setor de educação. Em seguida, aparecem os papéis do Assaí (ASAI3), com valorização de 99,16%; Yduqs (YDUQ3), também do setor educacional, com alta de 96,94%; Direcional (DIRR3), do segmento de construção, com 75,85%; e CVC (CVCB3), ligada ao setor de turismo, com avanço de 70,29%.
Além da educação e do consumo, outros setores também registraram desempenho positivo. Ações de bancos e empresas de energia elétrica encerraram o semestre em alta, acompanhando a recuperação do mercado e a entrada de novos recursos no país.
Papéis com perdas no período
Apesar da valorização do índice, algumas das principais empresas listadas na Bolsa registraram queda no semestre. As ações ordinárias da Petrobras recuaram 15,8%, enquanto os papéis da Vale caíram 2,95%. O movimento negativo desses ativos limitou o avanço do índice em determinados momentos.
Entre os piores desempenhos do período estão as ações ordinárias da RD Saúde, com queda de 30,9%; Brava Energia, com recuo de 25,94%; e São Martinho, do setor sucroalcooleiro, que teve desvalorização de 24,42%.
Influência do cenário externo
A entrada de capital estrangeiro foi um dos fatores que impulsionaram a recuperação do Ibovespa. Segundo dados da B3, entre janeiro e 25 de junho de 2025, o fluxo líquido de recursos internacionais na Bolsa brasileira somou R$ 25,2 bilhões.
A conjuntura internacional contribuiu para esse movimento. A instabilidade gerada pelas políticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nos primeiros meses do ano, provocou incertezas em relação à sustentabilidade da dívida pública americana. A avaliação é de Luan Aral, especialista em câmbio da Genial Investimentos.
“Se tem uma coisa que o investidor preza é previsibilidade”, afirmou Aral. Segundo ele, a insegurança em torno dos ativos norte-americanos resultou em uma migração de recursos para mercados considerados mais atrativos no curto prazo, como o Brasil.
Taxa de juros atrai investidores
Outro fator que sustentou o desempenho da Bolsa no semestre foi o diferencial de juros entre o Brasil e outras economias. A taxa básica Selic subiu de 12,25% ao ano em janeiro para 15% ao final de junho. O aumento da taxa elevou a atratividade dos ativos brasileiros, sobretudo em comparação com países que mantiveram políticas monetárias mais brandas.
O avanço da Selic não apenas favoreceu o mercado de renda fixa como também ampliou a entrada de recursos em ações de empresas consideradas mais resilientes a juros altos. A movimentação contribuiu para uma maior diversificação do fluxo de capital estrangeiro no mercado doméstico.
Expectativas para o segundo semestre
A performance do Ibovespa no primeiro semestre ampliou as expectativas do mercado para o restante de 2025. No entanto, analistas apontam que a manutenção do desempenho positivo dependerá de variáveis externas e internas, incluindo a condução da política monetária brasileira, o cenário fiscal e os desdobramentos da política econômica nos Estados Unidos.
A valorização acumulada até junho ainda não elimina a volatilidade observada nos últimos trimestres. O comportamento das ações da Petrobras e da Vale, por exemplo, pode continuar a influenciar o índice, dada sua elevada participação na composição do Ibovespa.
Para o segundo semestre, investidores devem acompanhar com atenção os dados de inflação, decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) e os movimentos de bancos centrais estrangeiros. O ritmo de crescimento da economia brasileira e os resultados corporativos também estão no radar do mercado.