No vídeo mais desconfortável, mas necessário, de seu canal de humor, o criador de conteúdo André Gropo propõe uma reflexão rara no humor brasileiro: afinal, o que é uma piada? Para responder, ele recorre à filosofia, à sociologia e à teoria da comédia, resgatando autores como Henri Bergson, Kant, Freud, Lipovetsky e outros, para desarmar a ideia de que o riso é inofensivo e que piadas podem existir à parte da responsabilidade.
O ponto de partida é a função social do riso: mais do que uma reação instintiva, o riso é um mecanismo coletivo de correção e controle, que reforça comportamentos desejados e pune os desviantes, nem sempre com justiça. O vídeo deixa claro que piada não é neutralidade: é construção artificial com objetivo específico. E o que se constrói diz muito mais sobre quem ri do que sobre quem é alvo da risada.
A crítica mais direta vai ao chamado “humor ácido” feito no Brasil, onde o suposto humor se repete em fórmulas previsíveis e rasteiras — com minorias como alvo e a violência como alicerce. A denúncia não é sobre falta de graça, mas sobre a ausência de elaboração e, sobretudo, de consciência ética sobre o efeito do que se produz.
“Se sua piada racista é indistinguível de um discurso racista, então ela é só racismo”, provoca. O vídeo afirma que o comediante é responsável pelo tipo de riso que provoca, e que não pode se esconder atrás da ideia de que “é só humor”. A comédia, afirma, nunca está acima da sociedade.
Com base em sua dissertação de mestrado, o autor oferece mais que opinião: uma crítica fundamentada, e que toca num ponto incômodo da cultura brasileira: a banalização do humor como escudo para o preconceito. Ao fim, o vídeo deixa claro: não é que a piada “seja só uma piada”; é que, para quem valoriza a comédia, ela jamais deveria ser tratada como só isso.
Assista ao vídeo completo aqui: É só uma piada?
Nesta sexta-feira, na TVGGN Justiça, o GGN promove um debate sobre liberdade de expressão, abordando desde o caso Léo Links até o embate entre Donald Trump e o ministro Alexandre de Moraes (STF). Confira, às 18h, pelo link abaixo: