Conib: sete arrobas de irresponsabilidade
Pela segunda vez em menos de um mês a Conib acusa Lula de antissemitismo, agora culpabilizando previamente o presidente da República por eventuais “problemas” para a comunidade judaica no Brasil
Por Hugo Souza, no Come Ananás
No dia 24 de outubro de 2022, a menos de uma semana do segundo turno das eleições, pingou na conta da campanha de Jair Bolsonaro uma transferência eletrônica de R$ 20 mil feita por Cláudio Luiz Lottenberg, presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib).
Naquele mesmo dia, membros da comunidade judaica no Brasil questionavam o uso da bandeira de Israel em atos bolsonaristas pelo país: “o bolsonarismo tem várias semelhanças com o regime nazista de Hitler”.
Em abril de 2021, mês mais letal da pandemia de covid-19 no Brasil, com mais de 82 mil mortos pelo vírus SarS-Cov-2 no país, Claudio Lottenberg, que é médico, compareceu a um “jantar de aproximação entre empresários e Bolsonaro” numa mansão nos Jardins, em São Paulo.
Associações da comunidade judaica protestaram: “ir a um jantar com alguém que colabora com o genocídio e negacionismo da pandemia, no Dia da Lembrança do Holocausto, é uma página triste para a história da Conib”.
Quatro anos antes, em abril de 2017, Bolsonaro protagonizou um famigerado show de horrores, de discurso de ódio, diante de 500 pessoas reunidas no auditório da Hebraica do Rio de Janeiro.
A plateia, coadjuvante, aplaudiu cada “tirada” xenófoba, homofóbica, misógina e racista do convidado, então pré-candidato à presidência da República: “eu tenho cinco filhos, quatro são homens, no quinto eu dei uma fraquejada, veio uma mulher”; “eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas”.
A plateia tampouco se incomodou quando Bolsonaro chamou os judeus que protestavam contra sua presença na Hebraica, lá fora, de “vagabundos”.
Na época, o então presidente da Conib, Fernando Lottenberg, primo de Claudio, divulgou uma nota protocolar, pusilânime, dizendo que “a palestra de Jair Bolsonaro na Hebraica provocou, como era de se esperar, divisão e confusão na comunidade judaica”.
Pois é, que “confusão”, como era de se esperar…
No último domingo, 1º de junho, a Conib, pela segunda vez em menos de um mês, divulgou nota forte, agressiva, contra o presidente Lula, acusando-o de antissemitismo. Na nota, a entidade classifica a condenação do genocídio do povo palestino promovido por Israel na Faixa de Gaza, como Lula vem fazendo, de “libelo antissemita”, e afirma:
“O Brasil é um país onde a comunidade judaica vive em paz e segurança, mas o presidente da República, com suas falas antissemitas e irresponsáveis, parece querer criar problemas para a nossa comunidade ao promover o antissemitismo entre seus apoiadores, numa atitude irresponsável e destrutiva”.
Num país coalhado de fanáticos bolsonaristas e que escapou de um atentado em aeroporto que visava criar, digamos, “confusão”, a fim de impedir a posse de Lula, culpabilizar previamente Lula e seus apoiadores por eventuais “problemas” para a comunidade judaica no Brasil parece, isso sim, uma atitude irresponsável, leviana, perigosa.
E por falar nas semelhanças com o regime nazista de Hitler, na manhã desta terça-feira, 3, em Rafah, no sul de Gaza, o exército de Israel matou a tiros pelo menos 27 palestinos porque eles “se desviaram da rota designada” para receber comida.
Mais de 100 palestinos já foram mortos nos últimos dias na mais nova onda da dobradinha genocida Israel-EUA: atrair os famintos de Gaza para centros de distribuição de comida operados por uma entidade “humanitária” com sede em Delaware, e então abrir fogo.
Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
Leia também
Max Blumenthal e Wyatt Reed: Mossad é o grande financiador da “Fundação Humanitária de Gaza”
Jeferson Miola: Romper relações com Israel traduz condenação do Brasil ao holocausto palestino
Fepal: Ao acusar Lula de “antissemita”, Conib escancara o real objetivo do PL 472/25