Chocado, atônito, sem reação
Como “alternativa” ao IOF para os ricos, em nome do ajuste fiscal, o Congresso Nacional sob Motta e Alcolumbre já pôs na mesa a revisão dos pisos da Saúde e Educação dos pobres.
“Motta choca o governo ao pautar votação do IOF e avisar pelas redes sociais”, informa Gerson Camarotti nesta quarta-feira, 25.
“Decisão de Hugo Motta de votar derrubada do IOF deixa governo atônito e sem reação”, diz Lauro Jardim.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães, e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, sequer foram comunicados pelo presidente da Câmara sobre a decisão de pautar a votação do IOF para esta quarta. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, disse no início da tarde desta quarta que “espera uma reviravolta”.
Foi desse mesmo jeito – chocado, atônito, sem reação – que um colega de Camarotti e Lauro Jardim no Jardim Botânico ficou diante de Hugo Motta meses atrás, diante da explicação de Motta sobre ele ter encerrado seu discurso de posse na presidência da Câmara reverberando o filme Ainda estou aqui — “ainda estamos aqui”, foram as últimas palavras do discurso.
No dia 4 de fevereiro, três dias após a eleição na Câmara, Valdo Cruz perguntou a Hugo Motta na GloboNews se a referência ao filme Ainda estou aqui foi “uma referência firme do senhor contra qualquer tentativa de aliados seus — porque o bolsonarismo é seu aliado — de tentar novamente uma ditadura”.
Esta foi a resposta de Motta:
“Todo e qualquer tipo de ditadura terá de nós uma reação forte. Não só a ditadura militar, mas também a instituição de decisões que não respeitem o Legislativo. Então, toda e qualquer ditadura terá reação do presidente da Câmara para que nossas prerrogativas não sejam tiradas. A história do ex-deputado Rubens Paiva ela deve ser sempre lembrada. Ele foi uma vítima desse momento difícil que o Brasil viveu e nós fizemos questão de registrar no nosso discurso para dizer que o Poder Legislativo está de pé e Câmara estará sempre pronta para reagir a toda e qualquer interferência que vier a acontecer”.
“Mas então foi mais um recado para o Supremo do que uma mensagem para o país de que ditadura nunca mais?”, assustou-se Valdo Cruz.
“Se foi entendido como recado para alguém, é porque alguém está se doendo”, respondeu Hugo Motta.
Por falar em ditadura, Hugo Motta foi o segundo presidente da Câmara mais votado por seus pares desde o fim daquele “momento difícil que o Brasil viveu”.
Sem surpresa alguma, apoiado por 17 partidos — do PT ao PL de Jair Bolsonaro —, Motta recebeu os votos de nada menos que 444 dos 513 deputados.
Mesmo com a lavada anunciada, o presidente Lula exonerou 10 ministros de Estado com mandatos parlamentares para irem votar em Hugo Motta e beijar a mão de Hugo Motta e dar tapinhas nas costas de Hugo Motta no dia da eleição na Câmara, cinco deles do PT.
Um deles, mais realista que a realpolitik, chegou a ir votar usando um adesivo de Hugo Motta no lado esquerdo do peito. Foi Alexandre Padilha, na época ministro das Relações Institucionais e logo depois feito ministro da Saúde.
Naquele mesmo dia, o ministro da Educação, Camilo Santana, também exonerado, foi ao Congresso como senador para votar em Davi Alcolumbre para a presidência do Senado.
O Senado avalia levar a plenário ainda nesta quarta a derrubada do IOF para os ricos, após a Câmara passar o trator. Como “alternativa” ao IOF para os ricos, em nome do ajuste fiscal, o Congresso Nacional sob Motta e Alcolumbre já pôs na mesa a revisão dos pisos da Saúde e Educação dos pobres.
Na esteira do governo, o Brasil: chocado, atônito, sem reação.