Hugo Motta vive desgaste após derrotas, críticas de Lira e atritos com o PL

O comando da Câmara dos Deputados atravessa um período de desgaste político marcado por críticas internas, derrotas em votações estratégicas e atritos com o maior partido da Casa. Avaliações reservadas de lideranças parlamentares apontam um ambiente de insatisfação crescente com a condução do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), especialmente após decisões recentes que contrariaram expectativas de diferentes bancadas. A informação foi divulgada pela jornalista Andréia Sadi, do G1.

O cenário de desgaste ganhou força nos bastidores após o distanciamento de Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara e principal fiador da eleição de Motta. Segundo interlocutores, Lira passou a expressar insatisfação com a atuação do sucessor, apontando dificuldades do atual presidente em exercer liderança política, construir consensos e impor decisões ao plenário. A avaliação recorrente é de que Motta demonstra pouca firmeza no comando e falha na articulação com líderes partidários.

Aliados relatam que a falta de diálogo mais constante e a condução considerada pouco estratégica de pautas sensíveis contribuíram para enfraquecer a posição do presidente da Casa em um momento de alta tensão política, com disputas envolvendo processos disciplinares, projetos penais e temas ligados ao bolsonarismo.

Caso Glauber Braga expõe fragilidade política

Um dos episódios que ampliaram o desgaste de Hugo Motta foi a condução da votação envolvendo o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ). Motta levou ao plenário o parecer aprovado no Conselho de Ética que recomendava a cassação do mandato do parlamentar, acusado de agredir um manifestante dentro da Câmara.

A expectativa de adversários de Glauber, especialmente de integrantes do centrão e da oposição ao PSOL, era de que o plenário confirmasse a perda do mandato. O resultado, no entanto, foi interpretado como uma derrota política para o comando da Casa: os deputados optaram por uma punição mais branda, aprovando apenas a suspensão temporária do mandato, rejeitando a cassação definitiva.

Nos bastidores, a avaliação foi de que Motta não conseguiu medir o humor do plenário nem articular votos suficientes para sustentar o parecer mais duro. Arthur Lira, que era um dos principais defensores da cassação, teria manifestado frustração com o desfecho e com a condução do processo.

Relação com o PL se deteriora após votações sensíveis

O enfraquecimento de Hugo Motta também atingiu sua relação com o PL, maior bancada da Câmara dos Deputados. Dois movimentos recentes foram decisivos para acirrar as tensões com o partido.

O primeiro foi a inclusão na pauta do plenário do pedido de cassação da deputada Carla Zambelli (PL-SP), condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Embora a ala mais fiel ao bolsonarismo tenha votado contra a perda do mandato, parte significativa do partido esperava justamente o afastamento da parlamentar.

Nos bastidores, parlamentares do PL avaliam que Zambelli se tornou um passivo político para a legenda. Há quem a responsabilize por desgastes eleitorais e pela derrota de Jair Bolsonaro (PL) em 2022, além do temor de que sua permanência no cargo prejudique os planos eleitorais do partido para 2026. A manutenção do mandato, posteriormente anulada por decisão do STF, aprofundou o mal-estar interno.

Projeto da Dosimetria amplia desconfiança

Outro ponto de atrito foi a condução do Projeto de Lei da Dosimetria, que altera critérios de fixação de penas, reduzindo sentenças, mas sem reverter a prisão nem a inelegibilidade de Jair Bolsonaro. Embora o texto tenha sido aprovado, não atendeu às expectativas da ala mais alinhada ao ex-presidente, que defendia uma solução mais ampla para beneficiar os condenados pelos atos golpistas.

Integrantes do PL afirmam que foram informados da estratégia de votação apenas quando o acordo já estava fechado, sem espaço para contestação interna. A condução do processo gerou desconfiança sobre a existência de articulações paralelas, feitas à revelia de setores do partido.

Segundo a apuração, a costura política teria envolvido os presidentes do PP, Ciro Nogueira, e do União Brasil, Antônio Rueda, além do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A ausência de uma construção mais ampla dentro da bancada do PL fez com que o projeto não fosse suficiente para conter a pressão por anistia nem para reduzir a influência direta de Jair Bolsonaro sobre os rumos da oposição.

Ambiente de instabilidade no comando da Casa

O conjunto desses episódios reforçou a percepção, entre líderes partidários, de que o comando da Câmara vive um momento de fragilidade política. A avaliação predominante é de que Hugo Motta enfrenta dificuldades para se afirmar como líder capaz de arbitrar conflitos, organizar maiorias e administrar pautas sensíveis em um cenário de polarização intensa.

Apesar disso, aliados do presidente da Câmara afirmam que ele busca manter uma condução institucional e evitar decisões unilaterais, o que, segundo críticos, acaba sendo interpretado como hesitação.

Com uma agenda legislativa carregada e disputas políticas que devem se intensificar à medida que o calendário eleitoral de 2026 se aproxima, o desafio de Motta será reconstruir pontes com as bancadas, reduzir tensões internas e reafirmar sua autoridade no comando da Casa.

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