
Nesta quinta-feira, 26, o Brasil perdeu o ator Carlos Eduardo, aos 80 anos, vítima de sepse pulmonar, consequência de um câncer de próstata. Carlos Eduardo deixa não apenas uma brilhante trajetória artística, mas um exemplo de visão moral.
Em entrevistas, ele contou que, em 1996, fez um testamento no qual destinou sua herança a instituições como o Retiro dos Artistas, a ABBR (Associação Beneficente de Reabilitação), o GAPA de Santos (Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS) e a Hanseníase de Campo Grande. “Acho que é importante. Acho que as cortinas se abrem e os aplausos, se eles vierem, não virão mais só pelo trabalho de ator, mas também por uma atitude como cidadão”, declarou.
“O que eu ganhei com o teatro tem que voltar para essas causas. Essa é a missão do artista, pelo menos para mim”, disse ele, reafirmando que sua contribuição ao mundo ia além do palco.
Agora compare com a figura deplorável do canalha João Baptista de Oliveira Figueiredo, ex-ditador do Brasil entre 1979 e 1985, auge da repressão, um dos patronos do aparato de benefícios que sustentam pensões obscenas a parentes de militares. Figueiredo adotou a neta Maria Luiza como filha e ela é beneficiária de uma dessas pensões, recebendo cerca de R$ 32,6 mil mensais em 2020, mesmo após questionamentos sobre a legalidade de sua adoção e os propósitos do ato.
A adoção de Maria Luiza, realizada por escritura pública em 1984, um ano antes da morte do pulha, foi descrita pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) como uma manobra para garantir acesso ao benefício militar.
O tribunal argumentou que a adoção, embora formalmente válida, violava o princípio da finalidade do instituto, usado para prestar assistência e amparo familiar – e não para assegurar privilégios financeiros.

Ainda assim, após disputas judiciais, a pensão foi mantida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que considerou a adoção legal e destacou que discriminações entre filhos biológicos e adotivos são vedadas pela Constituição.
Enquanto Carlos Eduardo utilizou sua posição e recursos para devolver algo à sociedade e amparar os mais necessitados, Figueiredo perpetuou uma estrutura que beneficia indivíduos de seu círculo familiar. Carlos Eduardo doou sua herança em prol de causas coletivas; Figueiredo garantiu privilégios de uma elite protegida.
O Brasil assiste, de um lado, ao exemplo de dignidade e generosidade que transcende a vida. De outro, a sombra de práticas que representam desigualdades históricas e privilégios intocados dessa casta golpista e mamateira que assombra o Brasil desde sempre.