Hay mercado?
por Homero Fonseca
Por trás do palavreado sobre o IOF e redução das isenções tributárias, estava a aliança Congresso-Faria Lima-Mídia-PCC (a turma que quer pagar ZERO de imposto).
O Governo travou e perdeu uma batalha com o pior Congresso da nossa história para aliviar o peso dos impostos no lombo dos pobres e tachar um pouquinho os mais ricos que não pagam nada ou quase nada de imposto, inclusive de renda. Isso é o que estava por trás da discussão sobre o Imposto sobre Operações Financeiras – IOF (único imposto que os barões não conseguem sonegar). O IOF também ajuda no combate à lavagem do dinheiro do tráfico de drogas, contrabando etc. Viva o IOF!
Mas o governo recuou miseravelmente diante do alarido do capital especulativo, apoiado intensa e sistematicamente pela mídia, ou seja pela estranha aliança Congresso— Faria Lima[1]—Mídia—PCC (a turma que quer ZERO imposto).
Agora o Governo enviou outra medida provisória, tentando preservar a arrecadação para manter os programas sociais (voltados para os pobres). A mordida será bem menor: tachação de 5% sobre os LUCROS em investimentos hoje ISENTOS (como letras imobiliárias e do agro negócio), aumento da alíquota mínima da CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido) de instituições financeiras e do imposto sobre bets – apostas esportivas.
Mas os barões não abrem mão de um centavo. Seus empregados no congresso e na mídia já disseram que nada será aprovado.
Nesse grande embate, fica clara a grande mistificação que é o discurso dessa máfia, valendo-se da velha tática de vender seus interesses como se fossem os da sociedade. Gritam: “Chega de impostos” quando querem dizer: “Pagar imposto é coisa de pobre. Nossos lucros são imexíveis!”
Precisamos desmistificar o capitalismo especulativo e predador, sempre contrário aos interesses da nação. Gritemos em coro:
— HAY MERCADO[2]? SOY CONTRA!!!
[1] Para os não iniciados: Faria Lima é a avenida chic de São Paulo onde se concentram os investidores-especuladores e se tornou símbolo do mercado como um todo.
[2] Sem negar a inevitabilidade do mercado na economia (idilicamente descrito por Adam Smith no século 18), a referência aí é ao mercado financeiro, intrinsecamente especulativo e predador, desconectado da produção. Entretanto, muita gente boa defende que mesmo o mercado – digamos, produtivo – deve estar sujeito ao controle da sociedade e não, como alardeiam os neoliberais, ter plena autonomia (na realidade submetido à “mão invisível” da ganância dos capitalistas, ou seja, das raposas que detêm a chave do galinheiro).
Homero Fonseca é pernambucano, escritor e jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Foi editor da revista Continente Multicultural, diretor de redação da Folha de Pernambuco, editor chefe do Diario de Pernambuco e repórter do Jornal do Commercio. Foi também professor de Teoria da Comunicação e recebeu menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Atualmente, dedica-se à literatura e mantém um blog em que aborda assuntos culturais.
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