Hanna Abu Hanna nasceu em 1928 na aldeia de al-Rina, próximo a Nazaré, em uma família protestante palestina. Seu pai, Amin Abu Hanna, trabalhava como agrimensor durante o período do Mandato Britânico, o que fez com que a família se mudasse frequentemente entre diferentes cidades, incluindo Asfia, Jerusalém, Ramalá, Jifna e Ashdod, antes de se estabelecerem em Raifa. Foi em Ashdod que Hanna iniciou seus estudos em uma escola tradicional islâmica, o kuttab, antes de ingressar em uma escola primária em Raifa. Mais tarde, a família retornou a al-Rina, onde ele estudou na Escola da Comunidade Latina e depois na Escola Governamental de Nazaré. Seu brilhantismo acadêmico lhe garantiu uma vaga no prestigiado Arab College de Jerusalém, onde permaneceu entre 1943 e 1947, formando-se como professor e destacando-se nos exames de Matriculation e Intermediate, equivalentes ao ensino médio e a cursos superiores básicos.

Após sua graduação, Abu Hanna começou a escrever poesia e textos em prosa, publicando em revistas literárias de Jerusalém, Haifa e Beirute. Em 1947, recebeu uma bolsa para estudar no Reino Unido, mas a crescente chacina que vinha sendo cometida contra os palestinos e que levou à criação do Estado de “Israel” em 1948 — a Nakba, a “catástrofe” — impediu sua partida. Nazaré foi ocupada por milícias sionistas, e Abu Hanna, como muitos palestinos, viu-se submetido ao novo regime do imperialismo. Nesse período, tornou-se um dos fundadores da União da Juventude Democrática em Nazaré, que mais tarde se fundiu com a União da Juventude Comunista, após a integração da Liga de Libertação Nacional Palestina ao Partido Comunista de “Israel” em outubro de 1948. Neste ponto, vale destacar que o Partido dito comunista de “Israel” é tão comunista quanto “Israel” é um país país verdadeiro: zero. Essa filiação política marcaria profundamente sua trajetória, tanto literária quanto educacional.

No final de 1948, Abu Hanna e Michel Dermelkonian, um compositor de origem armênia mas palestino por nascimento e convicção, fundaram o Coro dos Pioneiros, um dos grupos musicais árabes mais importantes na Palestina ocupada. Abu Hanna escreveu muitas das canções do grupo, que misturavam tradição folclórica palestina com mensagens de resistência à invasão sionsita e esperança. Em 1949, representou a Palestina no Festival Mundial da Juventude em Budapeste e na conferência da União Internacional de Estudantes em Sofia, consolidando sua posição como uma pessoa importante da resistência cultural palestina dentro e fora do que havia passado a ser reconhecido pelos demais países como “Israel”.

Devido ao seu ativismo político, Abu Hanna foi demitido arbitrariamente do ensino público em 1950. Passou então a colaborar intensamente com o jornal comunista al-Ittihad, onde mantinha uma coluna semanal intitulada “O que os dias inspiraram”, publicando poesia e reflexões sobre a realidade palestina sob ocupação. Em 1951, integrou o conselho editorial da revista cultural al-Jadid, incentivando novos talentos literários e organizando festivais de poesia em vilarejos árabes. Em maio de 1958, foi preso por seis meses, sendo transferido entre seis prisões israelenses. Mesmo encarcerado, continuou a enviar poemas para al-Ittihad e outras publicações, mantendo viva a chama da resistência cultural.

Em 1959, retornou ao ensino, agora no setor privado, lecionando no Colégio Árabe Ortodoxo de Raifa, onde mais tarde se tornaria diretor em 1974. Paralelamente, editou uma série de livros chamada “Livros Selecionados”, divulgando obras de importantes escritores árabes. Na década de 1980, ajudou a fundar a revista al-Mawakib e, em 1993, a Mawaqif, ambas dedicadas à cultura palestina. Também atuou como consultor do Ministério da Educação de “Israel” para o currículo de língua árabe, conseguindo incluir literatura palestina no ensino oficial, um feito significativo em meio às políticas de apagamento cultural.

Hanna Abu Hanna faleceu em Raifa em 2 de fevereiro de 2022, deixando um legado como mentor de gerações de escritores palestinos. Mahmoud Darwish, o mais famoso poeta palestino, disse sobre ele: “Hanna Abu Hanna nos ensinou como um poema reflete sua terra.”

Entre seus prêmios estão a Medalha de Jerusalém pela Criatividade Poética (1991), o Prêmio Palestina de Autobiografia (1999), o Prêmio Mahmoud Darwish pela Liberdade e Criatividade (2013) e o Prêmio Jerusalém, Capital Permanente da Cultura Árabe (2015). Sua obra, que inclui poesia, autobiografias e estudos literários, permanece como um testemunho da resistência cultural palestina e da luta pela preservação de uma identidade sob ocupação. Entre seus livros mais importantes estão “O Chamado das Feridas” (1969), “As Sombras da Nuvem” (autobiografia, 1997) e “Pioneiros do Renascimento na Palestina” (2005).

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 18/05/2025