Nessa terça-feira (15), Abu Obeida, porta-voz das Brigadas Al-Qassam, braço armado do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe), anunciou que seus combatentes “perderam o contato com o grupo que detinha o soldado Edan Alexander após um bombardeio direto que atingiu o local onde estavam, e que estão tentando alcançá-los até o momento”.
O homem mascarado, que se tornou um dos grandes símbolos da Resistência Palestina, acrescentou:
“Especulamos que o exército de ocupação tenta deliberadamente se livrar da pressão do grupo de prisioneiros com dupla nacionalidade com o objetivo de continuar a guerra de extermínio contra o nosso povo.”
Ao mesmo tempo em que este anúncio foi feito, as Brigadas Al-Qassam transmitiram uma mensagem em vídeo às famílias dos prisioneiros israelenses, dizendo: “preparem-se. Em breve, seus filhos retornarão em caixões pretos”. O vídeo, muito impactante, com imagens de combatentes do Hamas carregando caixões pretos com fotos de israelenses, ainda denuncia que o governo de “Israel” assinou “a sentença de execução dos prisioneiros e preparou seus locais de sepultamento”.
As falas de Obeida vêm após as Brigadas Al-Qassam terem transmitido, no último sábado, uma mensagem em vídeo do prisioneiro israelense-norte-americano Edan Alexander, na qual ele criticava fortemente o primeiro-ministro israelense Benjamin Netaniahu, descrevendo-o como “ditador”. Alexander também criticou o presidente norte-americano Donald Trump.
Na gravação, o prisioneiro diz: “acreditamos realmente que voltaremos para nossas casas mortos, não há nada a dizer, não há esperança”, acrescentando que o governo de Netaniahu abandonou os prisioneiros e atrapalhou a implementação do acordo de troca que o Hamas havia aceitado.
Edan Alexander ainda acusou o governo israelense de “perder oportunidades”, apontando que o acordo frustrado por “Israel” teria incluído sua libertação.
No dia 4 de abril, o porta-voz militar das Brigadas Al-Qassam já havia alertado que “metade dos prisioneiros vivos do inimigo estão em áreas que o exército de ocupação ordenou evacuar nos últimos dias”. Naquela ocasião, acrescentou:
“Decidimos não transferir esses prisioneiros dessas áreas e mantê-los sob medidas de segurança rigorosas, porém extremamente perigosas para suas vidas”.
Obeida indicou que “se o inimigo está interessado na vida desses prisioneiros, deve negociar imediatamente para evacuá-los ou libertá-los”. “E quem avisa, amigo é”, acrescentou.
Obeida enfatizou que “o governo de Netaniahu assume total responsabilidade pela vida dos prisioneiros, e se estivesse realmente interessado neles teria cumprido o acordo assinado em janeiro, e talvez a maioria deles estivesse hoje em suas casas”.
A situação dos prisioneiros mantidos pelo Hamas tem levado a uma convulsão no interior da sociedade israelense. Na última segunda-feira (14), o Fórum de Famílias dos Reféns declarou:
“Enquanto as famílias aguardam e esperam pela libertação de cada refém das mãos do Hamas, não se pode ignorar que a abordagem de libertação parcial em etapas é uma estratégia perigosa. Altos funcionários do governo continuam a falar sobre uma pressão militar crescente que supostamente levaria à libertação de todos os sequestrados, enquanto, na realidade, as negociações estão emperradas. Os reféns estão em perigo iminente e os corpos das vítimas estão desaparecendo. A abordagem em etapas consome tempo precioso e expõe todos os reféns ao perigo.”
No mesmo dia, centenas de ex-funcionários do Mossad, a mais conhecida agência de inteligência israelense, criticaram a retomada da guerra em Gaza. Um grupo de mais de 250 ex-integrantes da agência – incluindo três ex-chefes – deu seu apoio a uma carta, inicialmente assinada por quase 1.000 veteranos e reservistas da força aérea, que exortava o governo israelense a priorizar a devolução dos prisioneiros em vez de continuar a guerra.
A carta critica a intensificação dos ataques israelenses e das operações terrestres em Gaza desde o colapso do cessar-fogo em março, acusando o primeiro-ministro Benjamin Netaniahu de agir movido por interesses pessoais. A carta também acusa seu governo de colocar em risco as vidas de soldados e prisioneiros por ganhos políticos próprios. Outra carta, assinada por mais de 1.500 ex-soldados e soldados atuais do Corpo de Blindados e paraquedistas do exército sionista, pede também o fim imediato da guerra em Gaza.
Por meio de vários comunicados oficiais, o Hamas vem denunciando que o governo israelense está mantendo a guerra por motivos pessoais de sua cúpula. O partido palestino segue comprometido com o acordo de cessar-fogo celebrado por ambas as partes, mas que foi rompido unilateralmente por “Israel”.
Segundo a emissora libanesa Al Mayadeen, pressionado pela sua população e pelo governo norte-americano, “Israel” apresentou uma nova proposta de cessar-fogo. No entanto, em declaração à mesma emissora, um dirigente do Hamas explicou que o único objetivo de “Israel” com esta proposta é a de retirar o maior trunfo da Resistência Palestina na mesa de negociação: os prisioneiros, especialmente os estrangeiros. Por isso, Obeida, em seu pronunciamento, afirmou que o governo israelense “tenta deliberadamente se livrar da pressão do grupo de prisioneiros com dupla nacionalidade”.
Apesar de haver uma pressão para que Netaniahu consiga reaver os prisioneiros estrangeiros, o imperialismo segue apoiando a política criminosa de seu governo. Em ligação telefônica realizada nessa terça-feira (15), o presidente francês Emmanuel Macron disse ao primeiro-ministro israelense que é necessário um “um cessar-fogo na Faixa de Gaza” e “o desarmamento do Hamas”, exigindo uma rendição impensável para a Resistência Palestina. Do lado israelense, o gabinete de Netaniahu afirmou que o primeiro-ministro disse a Macron que o estabelecimento de um Estado palestino “representa uma grande recompensa e incentivo ao terrorismo”.