Em declaração à emissora catariana Al Jazeera, Acher Al-Nono, assessor de imprensa do Birô Político do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), esclareceu importantes questões sobre as negociações em curso entre o governo dos Estados Unidos, chefiado por Donald Trump, e a Resistência Palestina, liderada pelo grupo islâmico. As negociações dizem respeito à libertação de prisioneiros norte-americanos detidos em Gaza e da possibilidade de um acordo mais amplo para encerrar a guerra com o Estado de “Israel”.
O Hamas considera que a reunião com o governo dos Estados Unidos é benéfica para a estabilidade na região e saúda “qualquer mudança no pensamento do governo dos Estados Unidos”. Referindo-se ao governo do democrata Joe Biden, que foi o responsável por financiar “Israel” durante os 15 meses de guerra, Al-Nono declarou “há uma mudança no discurso político dos EUA em comparação com governos anteriores, com uma tendência a buscar um acordo abrangente na região”.
A declaração em relação ao governo Trump, embora vá na contramão do que diz a esquerda pequeno-burguesa mundial, embebecida pela ideologia imperialista da luta da “democracia” contra o “autoritarismo”, condiz com uma análise concreta da realidade. Trump, na medida em que representa as aspirações da burguesia interna norte-americana, tem feito um esforço para modificar a política externa norte-americana, de modo a poupar os recursos do Estado gastos com o aparato militar e a ingerência estrangeira.
Nas últimas semanas, por exemplo, Trump tem se destacado por seu embate público com o presidente usurpador ucraniano Vladimir Zelensqui, que quer manter a guerra em seu país, ao contrário do norte-americano. Trump ainda chegou a um acordo com os venezuelanos, poucos meses depois de Joe Biden tentar derrubar o governo chavista, e suspendeu o financiamento de agências responsáveis pela desestabilização de regimes.
Embora parte expressiva da base militante de Trump seja sionista, a consideração de que seu governo seria mais aberto às negociações com a Resistência é, portanto, verossímil.
Apesar das considerações sobre a “mudança de pensamento”, Al-Nono não deixou de criticar as declarações de Trump acerca de um plano para expulsar a população da Faixa de Gaza. Segundo o porta-voz, “a posição dos países árabes e a pressão popular podem levar a uma mudança no plano do presidente dos EUA para o deslocamento forçado”.
Em sua declaração à Al Jazeera, o militante islâmico ainda afirmou que a frente interna palestina constituída durante a Operação Dilúvio de Al-Aqsa “deve ser reorganizada com base em parcerias e eleições”. O Hamas afirmou ter concordado com a proposta egípcia de formar um comitê de apoio temporário até que um governo de consenso seja formado e eleições sejam realizadas, mas não entrou em maiores detalhes sobre como seria esse governo.
Al-Nono ainda declarou que há duas opções para o dia seguinte ao fim da guerra: a formação de um governo nacional palestino para administrar a Cisjordânia e a Faixa de Gaza ou um comitê de apoio comunitário.
Por fim, ao abordar o andamento do acordo de cessar-fogo, o porta-voz do Hamas deixou claro que o grande empecilho é o governo israelense, chefiado pelo fascista Benjamin Netaniahu. “Netaniahu é o principal obstáculo para avançar para a segunda fase do acordo devido à sua aliança com a extrema-direita”, declarou Al-Nono.
O governo norte-americano confirmou que estava em negociações com o Hamas. O governo Netaniahu, por sua vez, afirmou publicamente que estava ciente das negociações e se limitou a dizer que havia informado a sua opinião ao governo norte-americano.