Documento reivindica reconhecimento e reparação ao Haiti, que 200 anos foi obrigado a pagar à França pela independência haitiana
No marco deste 17 de abril, bicentenário de reconhecimento da independência do Haiti, organizações e movimentos populares da América Latina e Caribe promovem uma coleta de assinaturas na qual reivindicam reconhecimento, restituição e reparação ao povo haitiano, que há 200 anos foi obrigado a pagar à França por sua independência.
A atual crise no Haiti, um verdadeiro genocídio silencioso, é um dos resultados desse resgate. Entre as principais causas da “gangsterização” no Haiti estão a pobreza crônica e as desigualdades sociais acumuladas e reproduzidas ao longo de 200 anos de asfixia neocolonial.
O documento será entregue ao Estado e ao governo francês, às organizações e à sociedade francesa em geral. Acesse a carta aberta e apoie com a assinatura de sua organização, até este dia 15 de abril, em solidariedade à luta do povo do Haiti clicando aqui ou pelo código QR da foto.
Confira a íntegra da carta aberta em português:
Reparação já à dívida da independência do Haiti!
Ao Estado e ao Governo da França
Às organizações e à sociedade francesa em geral
17 de abril de 2025 marca o 200º aniversário da ordem imposta pela França para que o Haiti pagasse uma indenização de 150 milhões de francos ouro em troca do reconhecimento da independência haitiana, após 21 anos de bloqueios e embargos. Assim, o Haiti foi forçado a pagar seus colonos e donos de escravos por ousarem se tornar, em 1804, a primeira nação negra livre no mundo moderno e a primeira nação livre no Hemisfério Ocidental.
Esse “resgate” consumiu a maior parte dos recursos fiscais e comerciais do Haiti, forçando o país a tomar empréstimos de bancos franceses, americanos e alemães para cumprir um acordo tão injusto. Por mais de um século, o Haiti teve que concentrar toda a sua economia no pagamento dessa dupla dívida de independência. O Haiti e seu povo ficaram empobrecidos, desencadeando um ciclo de extração, dívida e dependência que deixou a nação vulnerável à dominação da elite e à interferência estrangeira.
A atual crise no Haiti, um verdadeiro genocídio silencioso, é um dos resultados desse resgate. Entre as principais causas do gangsterização no Haiti estão a pobreza crônica e as desigualdades sociais acumuladas e reproduzidas ao longo de dois séculos de asfixia neocolonial.
Em vez de investir em infraestrutura, serviços públicos e desenvolvimento industrial, a riqueza do povo haitiano foi usada para beneficiar a França, ajudando a torná-la uma das maiores economias do mundo.
As demandas de reparação do Haiti estão, portanto, situadas dentro da estrutura desta história brutal de escravidão e racismo, extorsão pós-colonial e dominação neocolonial por antigos proprietários de escravos e seus aliados europeus e americanos. São parte integrante da luta persistente do povo haitiano por justiça e autodeterminação.
É hora de a França reconhecer, restaurar e reparar essa dívida com o povo do Haiti.
Da América Latina e do Caribe, reconhecemos em nossas próprias histórias relações semelhantes de exploração, endividamento e extorsão. Também reconhecemos a luta histórica do povo haitiano e a solidariedade vital que eles prestaram às lutas pela independência do nosso povo.
Portanto, fazemos nosso o clamor pelo reconhecimento, restituição e reparação da dívida da independência haitiana já! Juntamente com o povo haitiano, esperamos ações concretas, materiais e urgentes da França, para que comecem a reparar os danos causados e estabeleçam novas bases para relacionamentos baseados na verdadeira liberdade, igualdade e fraternidade. E continuaremos a apoiá-los até que suas justas demandas sejam atendidas.
América Latina e Caribe, 17 de abril de 2025
Primeiras assinaturas:
Jubileo Sur/Américas
Comuna Caribe (Puerto Rico)
Jubileu Sul Brasil
Instituto PACS (Brasil)
Grupo de Pesquisa da UNIR “Territorialidades e Imaginários da Amazônia” (Brasil)
Diálogo 2000-Jubileo Sur (Argentina)
Itaipu Causa Nacional (Paraguay)
Comité argentino de Solidaridad por el fin de la Ocupación de Haití
OWTU Oilfield Workers Trade Union (Trinidade e Tobago)