“Hoje nós vivemos um quase parlamentarismo. Quem dá a última palavra sobre tudo isso é o Congresso. Não era assim. Um veto presidencial era uma coisa sagrada. Derrubar um veto do presidente da República era uma coisa que remotamente era pensada. Hoje é uma coisa: ‘Vamos derrubar?’ E derruba.”

A análise sobre a atual configuração política brasileira foi feita pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista ao O Globo. Segundo ele, essa mudança institucional vem se intensificando nos últimos anos:

“Está havendo uma mudança institucional no país. O poder está mudando de mãos. Isso aconteceu no governo Jair Bolsonaro, que terceirizou o governo para o Congresso. Não faltava base. Faltava poder. Está um pouco mais equilibrado hoje, mas está longe do que já foi. Nos governos Fernando Henrique e Lula, havia presidencialismo. Hoje, há uma variante disso, que muita gente já chama de parlamentarismo, de semipresidencialismo. É outra coisa.”

Sobre os desafios para manter o arcabouço fiscal, o ministro foi enfático ao apontar que o sucesso das medidas econômicas depende mais do Legislativo:

“Não abro mão de nada. Não há bala de prata para resolver um problema do tamanho do Brasil. Desde 2015, nós estamos com déficit estrutural. Queremos vencer essa etapa, mas depende muito mais do Congresso.”

Questionado sobre a economia brasileira, Haddad destacou a necessidade de corrigir desigualdades históricas:

“Não existe uma economia robusta no mundo com o nível de desigualdade que a economia brasileira tem. Não faz sentido assumirmos pela quinta vez o governo federal e não tocarmos em algumas feridas abertas.”

O ministro defendeu com veemência a reforma do Imposto de Renda como medida de justiça fiscal:

“Por que até os economistas liberais estão defendendo a mudança no Imposto de Renda? Porque ela é justa. Imagine ganhar mais de R$ 1 milhão por ano e pagar 2% de IR, enquanto a professora de escola pública e o policial militar pagam 10%.”

Sobre possíveis pressões internas no governo para aumentar gastos visando melhorar a popularidade do presidente, Haddad negou categoricamente:

“Não está rolando isso. Seria injusto se eu dissesse. Ninguém está pressionando em nada por gasto. Começou um ano atrás essa discussão sobre setor elétrico. Eu falei: ‘Não tem orçamento pra isso’. Demorou um tempo, mas chegamos a um entendimento. No momento que eu falo ‘vai ter que ser de outro jeito’, gera uma rusga. É natural. Não ganho todas.”

Ao comentar sua relação com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, com quem teria divergências, o chefe da equipe econômica minimizou os atritos:

“Isso já foi verdade. Acredito que no começo do governo nós tínhamos duas linhas um pouco diferentes. Mas isso foi se alinhando. Não vejo problema em divergir. A Gleisi estava lá na presidência do PT e divergia. Hoje, está no governo e tem tentado ajudar. Quem não convive com a adversidade não está preparado para a vida pública.”

Quanto às eleições de 2026, o ministro afirmou que não pretende ser candidato e considera natural a manutenção da chapa Lula-Alckmin:

“Seria natural. O Alckmin tem sido um grande parceiro do presidente Lula. Uma pessoa honrada, uma pessoa séria, uma pessoa comprometida, uma pessoa leal. O tempo deu razão à decisão do presidente de convidá-lo para a chapa. Foi uma decisão acertada. Significou muito em 2022 e tem significado muito.”

Sobre sua permanência no cargo, Haddad destacou que seu foco está nas entregas e no legado:

“Para mim, fazer uma entrega é um objetivo. Estamos fazendo entregas relevantes: recompondo o orçamento da saúde, da educação, valorizando o salário mínimo, garantindo o pleno emprego, taxas de crescimento superiores à média do período anterior. Depois fica o legado: a Reforma Tributária, a reforma da renda, do crédito. São coisas que me satisfazem. A permanência no cargo tem a ver com isso.”

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 26/05/2025