O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender uma política fiscal mais rígida diante da atual taxa de juros no país. Em declaração feita nesta quinta-feira (25), ele afirmou: “Não devemos contratar novos gastos. Nenhum”.
A fala ocorreu um dia após o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciar a antecipação da votação que visa revogar o decreto presidencial que trata do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A medida será analisada já na próxima terça-feira, 24, conforme divulgado pela coluna do jornalista Igor Gadelha, do portal Metrópoles.
A decisão de Motta surpreendeu integrantes do governo federal e até membros da oposição. De acordo com informações obtidas pela reportagem, o movimento foi interpretado por setores do Palácio do Planalto como uma possível resposta às recentes declarações de Haddad em entrevista à TV Record.
Nessa entrevista, o ministro criticou a proposta que pretende aumentar o número de deputados federais de 513 para 531. A medida, já aprovada na Câmara dos Deputados, está prevista para ser votada pelo Senado nesta quarta-feira.
Integrantes da Secretaria de Relações Institucionais, órgão responsável pela articulação política do Executivo com o Legislativo, apontaram que a fala de Haddad pode ter sido mal recebida por aliados no Congresso. Segundo relatos, a antecipação da votação do decreto do IOF teria sido articulada como uma reação política à entrevista concedida pelo titular da Fazenda.
Questionado sobre uma eventual ligação entre suas declarações públicas e a decisão de Hugo Motta, Haddad negou qualquer relação direta. “Falei que não devíamos contratar novos gastos com a Selic a 15% ao ano. Nenhum”, disse o ministro, reiterando a necessidade de cautela fiscal no atual cenário de juros elevados.
A taxa Selic está em 15% ao ano, patamar considerado elevado por analistas do mercado, o que impacta diretamente os custos de financiamento do setor público. Para Haddad, assumir novas despesas nesse contexto comprometeria o equilíbrio fiscal e dificultaria a condução da política econômica. “Não devemos contratar novos gastos”, reforçou o ministro ao comentar o momento atual da economia brasileira.
A fala de Haddad se soma ao posicionamento técnico da equipe econômica, que tem defendido medidas de controle de despesas e a busca por superávit primário como forma de garantir a credibilidade do país junto a investidores e agências de risco. O governo enfrenta pressão de diversas frentes no Congresso para ampliar gastos e flexibilizar regras fiscais, o que tem gerado tensão entre o Executivo e o Legislativo.
No caso específico do IOF, a medida provisória assinada pelo presidente da República estabelece alterações na cobrança do imposto, afetando operações de crédito, câmbio, seguros e títulos. A proposta do governo busca ajustar a arrecadação em meio às dificuldades enfrentadas para cumprir metas fiscais. A antecipação da votação para revogação do decreto presidencial representa um revés para o Palácio do Planalto, que esperava mais tempo para negociar com a base aliada e evitar um desgaste político.
A iniciativa do presidente da Câmara, Hugo Motta, ocorreu sem diálogo prévio com a equipe econômica e também sem comunicação direta com líderes da oposição, o que ampliou o clima de incerteza no Congresso. Mesmo integrantes de partidos adversários do governo foram pegos de surpresa com a decisão de levar o tema ao plenário em caráter de urgência.
Até o momento, Motta não se manifestou publicamente sobre o episódio. A reportagem procurou o presidente da Câmara, mas não obteve resposta.
Nos bastidores, parlamentares apontam que a movimentação pode refletir uma insatisfação crescente com a condução da política econômica, especialmente em relação ao ritmo de cortes de gastos e à postura firme do Ministério da Fazenda em rejeitar novas despesas. A crítica de Haddad à ampliação do número de deputados também teria causado desconforto em parte do Congresso, já que a proposta foi aprovada com apoio de diferentes bancadas.
A expectativa agora se volta para a sessão de terça-feira, quando será analisada a proposta de sustar os efeitos do decreto do IOF. O resultado da votação deve sinalizar o grau de alinhamento entre a Câmara e o governo federal em um momento de instabilidade política e econômica.
Com a manutenção da taxa Selic em patamar elevado e pressões por aumento de gastos no Congresso, o Executivo tenta equilibrar demandas políticas e o compromisso com a responsabilidade fiscal. As declarações de Haddad revelam a resistência da equipe econômica em abrir espaço para novas despesas e indicam um embate crescente com lideranças do Legislativo nas próximas semanas.