O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou neste domingo, 5, que está em curso uma negociação entre o governo brasileiro e os Estados Unidos em torno das tarifas impostas às importações sul-americanas.
A declaração foi feita durante viagem a Los Angeles, onde o ministro participa de agendas sobre investimentos em infraestrutura de tecnologia, com foco em data centers.
Haddad relatou que se reuniu com o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, e que o diálogo incluiu questionamentos sobre os critérios das tarifas determinadas pelo presidente Donald Trump no início de abril.
“O mais importante nesse momento é dizer que nós estamos em uma mesa negociando os termos de um entendimento… Eu acredito que a postura do secretário foi bastante frutífera e demonstrou uma abertura para o diálogo bastante importante”, declarou.
Segundo o ministro, a conversa ocorreu em nome da América do Sul, com a justificativa de que os déficits comerciais da região com os Estados Unidos não deveriam justificar a aplicação de medidas tarifárias amplas. “Não faz sentido” impor as tarifas aos países sul-americanos, afirmou.
Haddad descreveu o encontro como “de alto nível” e indicou que, além da pauta tarifária, foram discutidas oportunidades de atração de investimentos nas áreas de energia verde e minerais estratégicos.
Os temas se inserem na agenda que o governo brasileiro tem promovido para atrair capital estrangeiro voltado à transição energética e ao desenvolvimento de tecnologias sustentáveis.
Na semana anterior, o ministro já havia antecipado que havia uma disposição do governo norte-americano para o diálogo, e que autoridades locais sinalizavam a possibilidade de conversas com Bessent.
No entanto, Haddad havia informado que não estava previsto um encontro formal com o secretário do Tesouro durante sua passagem pelos Estados Unidos. A reunião, entretanto, acabou ocorrendo durante a visita à Califórnia.
O contato entre os dois representantes ocorre em meio às repercussões do pacote tarifário anunciado por Trump em 2 de abril, durante pronunciamento em Washington no chamado “Dia da Libertação”.
Na ocasião, o presidente dos Estados Unidos estabeleceu uma tarifa geral de 10% sobre a maioria das importações, com a aplicação de alíquotas superiores para determinados países e setores estratégicos. O Brasil e outras nações da América do Sul foram incluídos na faixa básica de 10%.
Uma semana após a divulgação das medidas, o governo norte-americano comunicou uma suspensão temporária das tarifas mais elevadas, com prazo de 90 dias, aplicável à maioria dos parceiros comerciais. A tarifa mínima de 10%, no entanto, permaneceu em vigor. O objetivo da pausa, segundo o comunicado da Casa Branca, seria abrir espaço para negociações comerciais bilaterais e regionais.
O pacote anunciado por Trump foi justificado como parte de uma política para proteger o mercado interno norte-americano e reverter déficits comerciais. A medida provocou reações de governos estrangeiros e de setores empresariais, que alertam para possíveis impactos sobre as cadeias globais de suprimentos. Desde o anúncio, Bessent tem mantido encontros com autoridades de diversos países com o objetivo de avaliar ajustes ou eventuais exceções às regras tarifárias.
No caso brasileiro, o Ministério da Fazenda tem buscado articular uma resposta que contemple não apenas os interesses nacionais, mas também os de países vizinhos.
A proposta, segundo Haddad, é demonstrar que o impacto das tarifas sobre as economias sul-americanas não contribui para o equilíbrio comercial global e pode prejudicar setores produtivos com baixa margem de manobra para adaptação imediata às novas regras.
Durante sua passagem pelos Estados Unidos, o ministro tem participado de reuniões com empresários, investidores e representantes de fundos interessados em projetos relacionados à infraestrutura digital e energia limpa. As agendas fazem parte da estratégia do governo brasileiro para ampliar o fluxo de capital externo e viabilizar empreendimentos voltados à descarbonização da economia.
A Fazenda não detalhou os termos discutidos com Bessent nem as eventuais contrapartidas que o Brasil estaria disposto a apresentar como parte de um eventual acordo.
Fontes do ministério indicaram, no entanto, que o governo trabalha para formalizar uma proposta conjunta com países da América do Sul, com foco na revisão da tarifa única de 10% e na avaliação de critérios técnicos para definição de futuras medidas comerciais.
O Ministério das Relações Exteriores acompanha as negociações e deverá participar das próximas rodadas de conversas com o Departamento do Tesouro norte-americano. As discussões serão retomadas nas próximas semanas, à medida que os prazos estabelecidos pelo governo dos Estados Unidos para revisão das tarifas se aproximam do fim.
A expectativa do governo brasileiro é de que, até o encerramento da suspensão temporária das alíquotas mais altas, seja possível alcançar algum entendimento que permita readequar as tarifas ou criar mecanismos de compensação comercial.
Caso contrário, o Planalto avalia alternativas diplomáticas e econômicas para mitigar os efeitos da medida sobre setores exportadores e cadeias produtivas locais.
O impacto da tarifa de 10% sobre produtos brasileiros ainda está sendo analisado tecnicamente pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, que deve apresentar nos próximos dias uma estimativa sobre os segmentos mais afetados. A avaliação será utilizada como subsídio para a formulação de propostas no âmbito das negociações com os Estados Unidos.