
Há sustentabilidade no agro Amazônico?
por Augusto Cesar Barreto Rocha
O estado do Espírito Santo possui cerca de 46 mil quilômetros quadrados. A Holanda possui cerca de 41,8 mil quilômetros quadrados. A Alemanha possui 357,5 mil quilômetros quadrados. O Brasil, apenas com soja, ocupou 476,1 mil quilômetros quadrados. Em 2024 todo o agro brasileiro exportou US$ 43.83 bilhões. A Holanda exportou no mesmo ano, entre árvores vivas, flores, produtos agrícolas e frutas: US$ 31.9 bilhões.
Há muito o que pensar quando os números aparecem. Temos mais do que a área da Alemanha com plantações de soja e um país menor do que o Espírito Santo possui plantações que concorrem conosco. A força na Amazônia não está no avançar da fronteira agrícola. Sua força está alicerçada na diversidade de suas espécies. Imaginar uma nova fronteira agrícola na Amazônia é seguir a trocar ouro por espelhos. A rentabilidade por quilômetro quadrado precisa ser aprofundada. Não podemos ocupar tão mal nossos territórios, para seguirmos como se fôssemos colônias de outros países, fazendo o menos valioso e importando as nuvens de internet.
A dinâmica de uma extração florestal só fará sentido se houver infraestrutura, pois, de outra forma, os produtores serão um novo tipo de escravizado contemporâneo, que pagarão para escoar suas produções e terão seus produtos vendidos a preços incompatíveis com seus custos. Não há como pequenas extrações comunitárias terem magnitude econômica e, ao mesmo tempo, não destruir a floresta. Há experiências em algumas espécies, como cacau ou açaí, mas sigo sem perceber magnitude econômica para transformação destas comunidades.
Segundo dados públicos, pelo Valor Bruto da Produção, foram R$ 2,85 bilhões na safra 2023/2024. Há muito o que refletirmos, afinal o Estado possui mais de 1.571.000 quilômetros quadrados. A falta de estrutura para escoar a produção, a desconexão da produção local permanente com os produtos tradicionais da Amazônia, a falta de registros e estatísticas, o excesso de informalidade, há tantas lacunas que nela repousam muitas oportunidades, porque certamente há trabalho competente que viabilizou esta produção, que teve quatro principais produtos, onde apenas dois são nativos da Amazônia: mandioca, cana de açúcar, banana e açaí.
Qual a linha tênue entre a viabilidade econômica superior que combine com a preservação ambiental? Quem está identificando isto em uma abordagem diligente e institucional? Como transformar esta área gigante em riqueza? Da forma que seguimos a lidar com a Amazônia, teremos mais do mesmo já realizado em outros biomas nacionais. É difícil mudar hábitos. É difícil ascender de classes sociais no Planeta Terra. A dinâmica usual é a preservação das relações de poder e manutenção das dinâmicas tradicionais. A quebra dos paradigmas é sempre desafiante, pois a ordem usual e tradicional vai tentar se impor, mantendo-nos na produção do que há de menos valor na cadeia agrícola.
Em minha opinião a saída se dará com a alta tecnologia aliada com a manutenção das diversidades florestais, explorando a riqueza que já existe. Entretanto, isso é uma hipótese muito vaga que precisará juntar ciência com tecnologia e empresários. As soluções para cada município da Amazônia são distintas. As diversidades são enormes e as fronteiras agrícolas seguem a avançar em produtos de baixa agregação de valor e exógenos. Longe do que faz a Holanda, o que temos procurado são culturas de fácil exploração e baixo preço. Precisamos mudar esta estratégia.
Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da UFAM.
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