Há sete anos, a ascensão de Alexandre de Moraes (ex-PSDB) ao Supremo Tribunal Federal (STF) era denunciada pela esquerda com veemência como um ato golpista, o que de fato era. Hoje, parte dessa esquerda tem em “Xandão” um herói da luta contra o bolsonarismo.

Na época, era comum ver militantes das mais diversas correntes apontando a trajetória do atual ministro, marcada por “forte repressão aos movimentos sociais, aumento das chacinas e atuação partidária descarada” (como denunciou o PT em nota, na época), seja como secretário de Segurança Pública de São Paulo, seja como ministro da Justiça no governo golpista de Michel Temer (MDB).

Datada de 2017, a nota supracitada do maior partido da esquerda brasileira condenava a nomeação de Moraes como um “desrespeito à consciência jurídica” e destacava seu desprezo pelas instituições, sua gestão caótica do sistema penitenciário e seu papel central na consolidação do golpe de 2016. Hoje, no entanto, parte dessa mesma esquerda abraça a barbaridade judicial do ex-tucano, iludida pela ideia de que ele seria um defensor da democracia contra o bolsonarismo – uma inversão que revela oportunismo político e perda de memória histórica.

Fiel à sua essência autoritária, em junho de 2018, apenas três meses antes das eleições presidenciais, Moraes se tornou um dos principais instrumentos de um novo golpe de Estado, cuja missão era barrar o retorno da esquerda ao poder pela via eleitoral. Naquele momento, o ministro do STF negou um novo pedido de liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mantendo-o preso em Curitiba e impossibilitando sua candidatura à Presidência.

Os advogados de Lula, desde abril de 2018, quando o ex-presidente foi encarcerado, apresentaram diversas ações ao Supremo para libertá-lo ou suspender os efeitos de sua condenação, incluindo habeas corpus e pedidos para reverter a prisão em segunda instância. Moraes, porém, rejeitou todas as solicitações, alinhando-se à estratégia golpista que privilegiava o julgamento no plenário do STF, onde as chances de Lula caíam.

O papel de Moraes foi decisivo para manter Lula atrás das grades, garantindo que ele ficasse inelegível e afastado da disputa eleitoral. Na época, a defesa tentou evitar que a questão da inelegibilidade fosse debatida no plenário, preferindo levá-la ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde Lula poderia recorrer em caso de derrota.

Moraes, no entanto, junto ao relator Luiz Edson Fachin, bloqueou essas manobras, assegurando que o caso permanecesse no STF até o recesso judiciário, adiando a votação para agosto e consolidando o impedimento arbitrário da candidatura petista. Sua decisão, baseada em uma interpretação jurídica que reforçava a competência do plenário, foi um golpe direto na vontade popular, abrindo caminho para a vitória de Jair Bolsonaro nas urnas, em outubro de 2018. Sem Lula na disputa, o campo da direita se beneficiou da fragmentação da esquerda, consolidando um cenário que favoreceu o extremismo bolsonarista.

Moraes não apenas manteve Lula preso, mas também atuou para sufocar qualquer possibilidade de reversão da condenação, mesmo com os advogados questionando a legalidade da prisão em segunda instância (ou seja, sem o trânsito em julgado) e buscando suspender os efeitos políticos da sentença. O ministro deu cinco dias para que a defesa explicasse por que mencionou a inelegibilidade no pedido inicial e depois recuou, numa clara tentativa de prolongar o cerco jurídico contra Lula.

Enquanto a presidente do STF, Cármen Lúcia, evitava definir uma data para o julgamento no plenário, Moraes se posicionava como o guardião de uma operação que, na prática, anulava a democracia brasileira, atendendo aos interesses do imperialismo e da burguesia golpista que sustentou o golpe de 2016. Seu papel foi essencial para esmagar a resistência eleitoral da esquerda, transformando o STF num tribunal político a serviço da direita.

A guinada direitista das direções da esquerda desde então foi tamanha, que o Partido da Causa Operária (PCO) passou a ser criticado por setores do campo justamente por insistir em lembrar que Alexandre de Moraes é um golpista, responsável pela prisão ilegítima de Lula e pelo golpe de Estado de 2018. No entanto, o que mudou não foi a natureza de Moraes, mas a postura de outros partidos de esquerda, que, por conveniência, passaram a maquiar sua história para as bases, iludidas pela ideia de que o ministro poderia ser um aliado contra Bolsonaro.

Essa ilusão é insustentável: a trajetória de Moraes, marcada por ataques brutais contra trabalhadores, estudantes e movimentos sociais – como denunciou o PT em 2017 –, revela que sua truculência atual contra o bolsonarismo será igualmente usada contra a esquerda quando os interesses do imperialismo e da burguesia assim exigirem. A história de 2018 é prova disso: enquanto a esquerda o aplaude hoje, Moraes segue sendo o mesmo carrasco que manteve Lula preso e abriu caminho para o fascismo.

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Last Update: 05/03/2025