A rápida escalada no confronto militar entre Irã e Israel representa o choque de duas grandes ambições: o governo iraniano quer se tornar uma grande potência nuclear, mas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, quer ser lembrado como o líder que frustrou o programa nuclear iraniano, que ele vê como ameaça à sobrevivência de Israel.
“Ambos os sonhos são tão equivocados quanto perigosos”, diz Shlomo Ben-Ami, ex-ministro das relações exteriores de Israel e vice-presidente do Toledo International Center for Peace.
Em artigo no Project Syndicate, Ben-Ami explica que as ambições nucleares iranianas sempre tiveram a sobrevivência do regime como principal objetivo, e não a aniquilação de Israel – muito mais provável em uma “guerra de atrito” do que sob uma nuvem nuclear.
Embora não seja errado temer a força nuclear do Irã, o articulista afirma que justamente Netanyahu é responsável pelo avanço do programa nuclear iraniano.
“Foi apesar de suas objeções que o chamado P5+1 (China, França, Alemanha, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos), juntamente com a União Europeia, negociou o Plano de Ação Conjunto Global de 2015 com o Irã, congelando o programa nuclear da República Islâmica. E foi sob pressão de Netanyahu que Donald Trump retirou os EUA do JCPOA três anos depois, estimulando o Irã a renovar sua corrida pela bomba atômica”, destaca o ex-ministro israelense.
Além disso, o articulista lembra que Netanyahu também luta pela sua sobrevivência política – mesmo que, para isso, passe a incluir alvos como prédios residenciais e instalações de energia para atrair os EUA para a guerra.
Entretanto, o ex-ministro israelense afirma que Israel é incapaz de erradicar o programa nuclear iraniano, um programa de Estado profundamente enraizado mesmo com a morte de diversos cientistas e autoridades militares.
“Se Israel não consegue destruir o programa nuclear iraniano, certamente não alcançará a vitória total sobre o regime iraniano. E não se trata apenas do Irã: nenhum dos desafios de segurança de Israel pode ser superado por meio da vitória total (…)”, pontua Shlomo Ben-Ami.