Uma das mais marcantes delegações presentes na 51ª edição da Universidade de Férias do Partido da Causa Operária (PCO) e da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR), que teve início no dia 13 de julho, é a composta por índios do Mato Grosso do Sul. Presentes em peso no curso de formação sobre a revolução russa, os índios conversaram com nossa equipe sobre a atividade.
Leia abaixo a entrevista na íntegra com Daniel, integrante da delegação:
Quantas pessoas vieram do Mato Grosso do Sul para a Universidade de Férias? E o que as motivou vir? Viemos em um grupo de nove índios. Três da região de Dourados e seis da região de Amambai. Como estamos no PCO [Partido Causa Operária], que tem diretório em sete cidades do Mato Grosso do Sul, a gente sentiu essa necessidade de se aprofundar no objetivo do Partido, levar uma experiência diferente. Eu acredito que essa formação nos ajudará a levar a bandeira do Partido.
Essas nove pessoas já são o número suficiente para poder espalhar o que nós estamos aprendidos aqui e voltarmos lá bem mais fortalecidos.
O que vocês estão achando do curso? O curso em si, desde que chegamos, tem sido muito bom. Inclusive, eu já havia participado da Universidade de Férias em janeiro, com o tema Imperialismo, fase superior do capitalismo. Foi muito bom. Fez com que eu ampliasse muito o meu conhecimento. E, agora, com este curso, sobre a Revolução Russa, os companheiros que estão aqui conosco estão aproveitando essa formação. Embora o conteúdo seja muito técnico, dá para fazer uma leitura antes, para poder participar.
Há alguns tópicos principais que eu acho que são interessantes e que são o ponto principal que devemos adquirir a partir desse curso. E os índios estão captando essa mensagem. Eles estão gostando muito. Depois das aulas, conversamos, perguntamos o que cada um achou, conversas de bastidor, o que achou, o que não entendeu, então a gente está compartilhando o que um entende com o que outro não entende, a gente fica trocando esse entendimento que nós tivemos a partir desses três dias de curso. Eu acredito que, até sábado, nós vamos levar muito conhecimento. Inclusive, para a própria luta.
A nossa luta no Mato Grosso do Sul é pela demarcação dos nossos territórios. E, a partir do entendimento da Revolução Russa, a gente pode pensar em uma nova estratégia para que a retomada tenha seu avanço.
O que você poderia falar dos ataques mais recentes na região de Douradina e de Carapó? No domingo, aconteceu um ataque na Laranjeira, foi lá no Panambi, região de Douradina, próximo a Dourados. As pessoas lá estão há mais de trinta anos esperando que essa demarcação definitiva saia. Eles decidiram, no domingo, adentrar mais para fazer as próprias demarcações. E, nisso, quando foi meio-dia, depois da entrada, os fazendeiros pistoleiros chegaram lá e começaram a atirar no pessoal que estava ali acampado. Como resultado desse ataque, um rezador de 54 anos ficou ferido nas pernas. E a esposa dele, que é rezadora também, acabou sendo ferida também nas pernas. Ele estava conduzindo a reza, não podia correr e se defender, acabou sendo a vítima. O resto só foi ferido de raspão, mas nada muito grave. Os dois rezadores, no entanto, tiveram ferimentos graves.
Depois disso, na segunda-feira, os índios da região de Carapó também fizeram demarcações e começaram a ser atacados também pelos pistoleiros e pelos fazendeiros. Nesse ataque, logo de início, uma menina foi ferida porque ela estava dando cobertura. Tinha duas pessoas dando cobertura: um menino e uma menina. O nome dela é Daiane. Então, a Daiane, quando estava filmando o que estava acontecendo, foi atingida pela bala e também foi gravemente ferida. O ataque continuou, foi uma guerra, em plena luz do dia. E está tudo filmado. Nisso, a Polícia Federal foi lá para fazer a retirada do pessoal e acabou dando proteção ao pessoal dos proprietários da terra. Isso agravou muito a violência. E, nisso, o pessoal começou a se mobilizar mais ainda.
Ainda nesta semana, estamos recebendo informações de que vai haver mais dois locais estratégicos de retomada, que a gente chama de autodemarcações. Então, o problema começou agora. Isso por quê? Por causa da demora do governo em demarcar os territórios. Porque isso foi uma promessa do Governo Federal atual, durante a campanha, que disse que iria priorizar o Mato Grosso do Sul, que iria priorizar os guarani-caiouá, na demarcação da terra. Mas, até agora, passou um ano e sete meses e nada praticamente de concreto apareceu, não houve nenhuma resposta. O pessoal está cansado de esperar e não veio nada. Toda essa situação faz com que eles deixem de acreditar no governo, deixem de acreditar que vai sair a demarcação de terra, e acabam fazendo essas autodemarcações hoje que estão ocorrendo lá.