Desde o início do século XXI, quando o povo venezuelano derrotou a intervenção norte-americana na Venezuela, o país tem sido palco de intensas lutas políticas contra o imperialismo, muitas vezes acompanhadas por violência, tentativas de desestabilização e golpes. Um dos atores centrais nesse cenário são os chamados “frentistas”, grupos radicais da extrema direita venezuelana que têm sido repetidamente envolvidos em ações violentas contra o governo e a população civil, como os recentes ataques dessa semana. Ao contrário do que se viu no Brasil, onde as ações da extrema direita foram, em grande parte, limitadas a xingamentos e ameaças, como quando o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que iria “fuzilar a petralhada”, na Venezuela, os frontistas representam uma força mais organizada e perigosa, semelhante em muitos aspectos à extrema direita ucraniana.
Os frontistas não surgiram do nada. Suas origens remontam ao golpe de Estado de abril de 2002, quando setores da oposição, com apoio de forças internacionais, tentaram derrubar o presidente Hugo Chávez. Naquele momento, grupos de extrema direita foram impulsionados para instaurar o caos, essencial para justificar a deposição de um governo eleito. No entanto, a tentativa de golpe fracassou, e Chávez retornou ao poder em poucos dias. Mesmo assim, os frontistas continuaram a se organizar, sempre prontos para agir quando o imperialismo estalasse os dedos.
Após o golpe de 2002, os frontistas se consolidaram como uma força de oposição violenta. Em 2004, ocorreram as primeiras grandes “frentes”, um termo que se refere a bloqueios de ruas e outras formas de protesto que utilizem a violência contra o povo. Durante esses eventos, os frontistas usaram métodos como barricadas incendiárias, ataques a prédios públicos e confrontos diretos com as forças populares e de segurança, provocando constantemente vítimas civis e militares da Guarda Bolivariana. Essas ações não só causaram transtornos significativos para a população, mas também resultaram em diversas mortes. As frentes se tornaram uma ferramenta recorrente da extrema direita venezuelana, ressurgindo com intensidade em momentos de crise política. Um exemplo foi a onda de violência que se seguiu às eleições presidenciais de 2013, quando Henrique Capriles, candidato da oposição, se recusou a aceitar a vitória de Nicolás Maduro e incitou seus apoiadores a tomarem as ruas. Mais uma vez, os frontistas foram mobilizados para semear o caos, atacando não só as forças de segurança, mas também civis que eram percebidos como apoiadores do governo.
No entanto, foi em 2014 que os frontistas atingiram seu ápice. Durante meses, esses grupos realizaram uma série de manifestações violentas em todo o país, conhecidas como “frentes de 2014”. O saldo foi trágico: dezenas de mortos, centenas de feridos e danos incalculáveis à infraestrutura pública e privada. Entre os métodos empregados pelos frontistas estavam o uso de armadilhas mortais, como fios de metal estendidos a altura do pescoço nas ruas para ferir motociclistas, e o incêndio de ônibus com passageiros e prédios públicos com trabalhadores.
O papel dos Estados Unidos no financiamento e apoio aos frontistas não pode ser subestimado. Desde o início das frentes, há evidências de que esses grupos recebem recursos de organizações ligadas ao governo dos EUA, sob o pretexto de promover a “democracia” e os “direitos humanos” na Venezuela. No entanto, essas ações fazem parte de uma estratégia maior de desestabilização, destinada a minar o governo venezuelano e facilitar uma mudança de regime que favoreça os interesses norte-americanos na região, que é extremamente rica em petróleo.
Esse apoio financeiro e logístico tem sido fundamental para a capacidade dos frontistas de manter suas atividades ao longo dos anos. Equipamentos, treinamento e até mesmo propaganda são fornecidos para garantir que esses grupos continuem a operar de forma eficaz, mesmo que ajam na ilegalidade e contra os interesses dos trabalhadores venezuelanos. A influência dos EUA sobre os frontistas é semelhante ao apoio dado a grupos de extrema direita em outras partes do mundo, como na Ucrânia, onde forças nazistas e mílicias de extrema direita foram utilizadas para um golpe de Estado em 2014. Um exemplo do que são capazes de fazer é o incêndio da Casa dos Sindicatos de Odessa, que deixou mais de 300 trabalhadores feridos.
Assim como os frontistas na Venezuela, a extrema direita ucraniana desempenhou um papel crucial nas tentativas de mudança de regime. Grupos como o Setor Direito (Pravy Sektor) foram fundamentais para a eclosão da violência durante o Euromaidan, as manifestações planejadas pelos escritórios de Washington que levaram à derrubada do governo de Victor Yanukovych. As semelhanças entre esses dois movimentos são evidentes: ambos foram apoiados e financiados por países imperialistas, sobretudo os EUA e os países da União Europeia, ambos utilizaram a violência contra autoridades nacionais e o terror à população como uma ferramenta para alcançar objetivos políticos, e ambos combinam um total entreguismo do país aos interesses do imperialismo com uma perseguição à esquerda.
No entanto, há diferenças significativas entre os dois casos. Na Ucrânia, a extrema direita conseguiu se inserir mais profundamente nas estruturas do Estado após a revolução de 2014, enquanto na Venezuela, os frontistas permanecem, em grande parte, como um movimento de rua artificial, contido pelas amplas massas mobilizadas dos trabalhadores. Além disso, o conflito na Ucrânia rapidamente se transformou em uma guerra civil, enquanto na Venezuela, o governo tem conseguido manter o controle.