O grupo liderado pelo ex-ministro Ciro Gomes prepara uma saída coletiva do Partido Democrático Trabalhista (PDT), aprofundando o esvaziamento da legenda no Ceará, pouco mais de um ano após a ruptura com o senador Cid Gomes. A informação foi divulgada pelo jornal O Globo e confirmada por fontes ligadas à legenda e a aliados de Ciro.
A primeira movimentação concreta será a filiação do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio ao União Brasil, prevista para ocorrer até junho. A desfiliação de Cláudio, nome central nas estratégias eleitorais de Ciro, abre caminho para que outras lideranças vinculadas ao grupo também deixem o PDT no segundo semestre, incluindo o próprio Ciro Gomes.
A decisão ocorre em meio a um processo de reposicionamento político. Desde as eleições de 2022, Ciro e seus aliados têm se distanciado da aliança histórica com o Partido dos Trabalhadores (PT), passando a adotar posturas mais alinhadas à direita.
Durante a campanha presidencial daquele ano, Ciro manteve um discurso de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e foi criticado por adversários por supostamente favorecer a candidatura de Jair Bolsonaro (PL).
Nos últimos meses, a aproximação do grupo com partidos conservadores tem se intensificado. Na semana passada, Ciro participou de uma agenda na Assembleia Legislativa do Ceará ao lado de parlamentares do PL e do União Brasil.
Na ocasião, declarou que “aceitaria ir para o sacrifício” de disputar novamente o governo do estado. A fala não foi interpretada como anúncio oficial de candidatura, mas foi vista como sinal de reposicionamento político e aproximação do campo bolsonarista.
Durante entrevista coletiva, Ciro manifestou apoio a Roberto Cláudio como pré-candidato ao governo estadual. Ele também anunciou seu apoio à pré-candidatura ao Senado do deputado Alcides Fernandes (PL), aliado de Jair Bolsonaro.
O grupo cogita ainda uma possível aliança com o ex-deputado Capitão Wagner, que pode integrar a chapa como candidato a vice-governador ou a uma segunda vaga no Senado.
Enquanto Ciro fortalece articulações no Ceará, a bancada federal do PDT se reuniu em Brasília, na residência do deputado Mário Heringer, para discutir o futuro da legenda.
Ciro chegou a fazer contato telefônico com o deputado André Figueiredo, em tentativa de mediação com o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.
Durante a conversa, defendeu que o partido se posicionasse oficialmente como oposição ao governo Lula. A proposta não foi aceita, e os parlamentares optaram por uma declaração de independência.
Internamente, dirigentes do PDT consideram inevitável a saída do grupo ligado a Ciro Gomes. Convites para que o ex-ministro se filie ao União Brasil ou ao PSDB já foram encaminhados.
No caso do PSDB, a articulação conta com apoio do ex-senador Tasso Jereissati, que busca atrair Ciro para fortalecer um projeto de fusão com o Podemos.
No entanto, há entraves regionais para a migração partidária. No Ceará, o comando do Podemos está sob responsabilidade de Bismarck Maia, pai de Eduardo Bismarck, atual secretário de Turismo do governo Elmano de Freitas (PT).
A ligação direta com a gestão estadual, comandada por um aliado do PT, dificulta a entrada de Ciro em uma legenda que mantém proximidade com o Palácio da Abolição.
Dentro do próprio PDT, há divisões sobre a permanência do grupo. Parte da direção nacional avalia que a presença de Ciro tem dificultado a renovação da legenda e bloqueado o surgimento de novos nomes na disputa por vagas na Câmara dos Deputados. Esses dirigentes não descartam a saída do ex-ministro como um passo necessário para a reorganização interna do partido.
Por outro lado, lideranças vinculadas ao núcleo histórico do PDT no Ceará criticam a debandada e apontam que os aliados de Ciro deveriam permanecer no partido.
Eles argumentam que, em 2023, o PDT optou por manter apoio a Ciro mesmo após a ruptura com Cid Gomes. Na ocasião, a legenda perdeu 40 prefeitos e 18 deputados estaduais no Ceará, comprometendo sua base política no estado.
O rompimento entre os irmãos Cid e Ciro Gomes teve como principal causa a reaproximação de Cid com o PT e o governo federal.
Atualmente, o senador mantém alinhamento com o Palácio do Planalto no Senado, enquanto Ciro se posiciona como opositor tanto no plano estadual quanto federal.
A movimentação do ex-ministro e de seus aliados tem como objetivo consolidar um novo bloco político com apoio de legendas de direita.
A possível filiação ao União Brasil ou ao PSDB deve ser formalizada ainda em 2024. Caso ocorra, a saída de Ciro representará o encerramento de um ciclo de mais de 20 anos de atuação do ex-ministro no PDT.
A legenda, que no passado concentrou poder regional sob liderança dos irmãos Gomes, agora tenta reorganizar suas bases em meio a um cenário político fragmentado no Ceará.