A greve dos trabalhadores da PepsiCo, encerrada esta semana, levou para o chão da fábrica uma das principais reivindicações da classe trabalhadora atualmente: o fim da escala 6×1.
Por nove dias, os funcionários da multinacional travaram uma forte luta e apontaram que o caminho para enfrentar essa jornada que impõe uma superexploração, que tem exaurido e adoecido os trabalhadores, é a mobilização.
A paralisação, iniciada em 24 de novembro, foi encerrada na última segunda-feira (2) na unidade de Itaquera (SP), após acordo entre a empresa e o Stilasp (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Laticínios e Alimentação de São Paulo), com a intermediação do TRT-2 (Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região).
Fruto da luta, apesar de não acabar com a escala 6×1, os trabalhadores conseguiram um sábado livre por mês a partir de 1° de janeiro de 2025. As horas serão compensadas, com acréscimo de 20 minutos por dia ao longo da semana. O acordo também incluiu estabilidade por 45 dias e o não desconto dos dias parados. Ficou acertado ainda que as negociações continuarão para ampliar a folga para dois sábados por mês.
Na fábrica de Sorocaba, a paralisação foi suspensa no dia 27 de novembro após uma “cláusula de paz” até a audiência no TRT-2 nesta quarta-feira (4), e os trabalhadores reivindicavam o mesmo acordo.
As lições da greve
A paralisação dos trabalhadores da PepsiCo enfrentou uma forte intransigência da multinacional. No dia seguinte à deflagração da greve, a empresa entrou com dissídio na Justiça, bem como tentou coagir e intimidar os trabalhadores, com apoio da PM e assédio da chefia. A empresa chegou a pagar um voucher de R$ 200 para que os trabalhadores pagassem Uber e furassem a greve.
Em nota, o Stilasp afirmou que a greve foi “além da busca por uma jornada de trabalho mais justa”. “Ela representa, acima de tudo, a essência da luta de classes: a defesa da dignidade dos trabalhadores, a exigência de respeito aos direitos e a valorização de quem mantém a empresa funcionando diariamente”, afirmou a entidade.
A mobilização angariou forte apoio, desde o Movimento VAT (Vida Além do Trabalho) – que trouxe a pauta do fim da escala 6×1 para discussão em todo o país -, a vários sindicatos e movimentos. A CSP-Conlutas esteve presente em total apoio à luta dos operários.
“A luta começou porque a empresa, além de não por fim a escala 6×1, queria piorar a jornada com uma escala 6×2, que impõe trabalho aos sábados e domingos, sem pagar hora extra. Na prática, os trabalhadores pegariam folga na maioria das vezes no meio de semana. E queria impor isso, sem passar sequer por negociação com o sindicato, coagindo os trabalhadores a assinarem uma lista por dentro da fábrica”, relata o Kiko, operário na zona leste de SP e ativista da CSP-Conlutas, que acompanhou a luta na unidade de Itaquera.
“Os trabalhadores estavam muito indignados com a postura da empresa e viram esperança de melhorar a jornada. Foi uma greve muito forte, com grande adesão, que impediu a implementação da escala 6×2 e, apesar de não ter posto fim à escala 6×1, conquistou um sábado de folga por mês. Uma vitória parcial, mas muito importante, que anima outros a lutarem”, avaliou.
O dirigente do Sindicato dos Metroviários de SP e integrante da executiva estadual da CSP-Conlutas Alex Fernandes também acompanhou a mobilização e classificou a greve como uma luta heroica contra a escala 6×1, que penaliza os trabalhadores, especialmente as mulheres. “Aqui se enfrentou a ganância da empresa, a repressão da polícia, em uma luta que representa muito para toda a classe trabalhadora e para a luta pelo fim dessa escala desumana”, afirmou durante a assembleia realizada na fábrica essa semana.
A professora Veruska, também integrante da direção estadual da CSP-Conlutas SP, avaliou que a greve dos trabalhadores da PepsiCo mostra um caminho a ser seguido. “Mostrou que com luta se pode enfrentar a ganância das empresas e garantir conquistas. Um exemplo que deve ser seguido, e que aponta que é preciso ampliar e unificar essa luta em todo o país”, disse.
Para Veruska, o apelo da luta pelo fim da escala 6×1 se insere num cenário em que as condições de trabalho no país foram precarizadas profundamente com a reforma trabalhista e outras medidas como a terceirização irrestrita, a “uberização” e outros ataques que aumentaram a superexploração dos trabalhadores. Uma situação que só pode ser revertida com a unidade e luta da classe.
Pesquisa confirma apoio ao fim da escala 6×1
A luta dos trabalhadores da PepsiCo também dialoga não só com a luta impulsionada pelo Movimento VAT que ganhou destaque nas últimas semanas e é tema de uma PEC no Congresso, mas também com o apoio popular pelo fim dessa escala de superexploração.
Pesquisa realizada pelo Projeto Brief, em parceria com a plataforma Swayable, revelou que 70% dos brasileiros apoiam o fim dessa jornada. O estudo, divulgado pela jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, apontou que o apoio transcende divisões ideológicas, sendo maior entre pessoas de esquerda (81,3%), mas significativo também entre os de direita (59,4%).
A pesquisa destacou que 77,6% dos entrevistados acreditam que mais tempo de descanso eleva a produtividade dos trabalhadores, desmontando o discurso empresarial de que jornadas mais humanizadas prejudicariam a economia. Além disso, 65,8% compartilham que as empresas resistem às mudanças como essa para maximizar lucros, e 68,1% apontam que essa resistência reflete um padrão histórico de oposição a avanços trabalhistas.
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