Greenwashing do governador capixaba Casagrande: perigo para a COP30

por Arlindo Villaschi

Normalmente atribuída a empresas poluidoras que se utilizam de técnicas de marketing para se colocar como defensoras da sustentabilidade ambiental, o greenwashing vem sendo utilizado intensamente pelo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB). Por um lado, para fora do estado ele se coloca como defensor de medidas de enfrentamento da emergência climática, da redução de espécies e da contaminação de seres vivos.

Em ocasiões como a Reunião Regional da SBPC no Espírito Santo realizada recentemente sob o tema ‘Clima e Oceano, a Urgência de Construir um Futuro Sustentável’, ciceroneia cientistas e sustenta posições críticas quanto à forma como o governo federal conduz a política de exploração de gás e petróleo na Margem Equatorial. É crítico da rejeição da ciência que dominou a ação do governo Bolsonaro; e coloca o governo estadual na vanguarda de estudos e medidas voltados para a mitigação dos efeitos de mudanças climáticas.

Por outro lado, em suas prioridades para o processo de crescimento econômico do estado busca viabilizar e acelerar a exploração de gás e petróleo e de sal-gema na costa capixaba; e continua como ferrenho defensor da implantação nela de mais portos. Isso em total discordância com evidências científicas sobre os riscos socioambientais provocados por esses projetos, muitos apresentados como meros instrumentos de especulação financeira.

Para além de Unidades de Conservação (UCs) localizadas na costa capixaba (as de Itaúna e do Parque Estadual Paulo Vinhas, em Vila Velha), o governador Casagrande está empenhado no processo de concessão por 30 anos à iniciativa privada de 6 UCs no estado. Desconsiderando todas as evidências científicas sobre a importância dessas unidades na preservação de espécies (muitas delas endêmicas), leva adiante as orientações da Ernest & Young contratada para modelar a viabilidade econômica e a segurança institucional para o sucesso do processo de concessão.

Viabilidade econômica buscada com propostas de uso de áreas das UCs para instalação de resorts, de restaurantes sofisticados, de equipamentos para turismo de massa como tirolesas e pedalinhos. Viabilidade econômica que também através do acesso das concessionárias a financiamentos subsidiados e a fundos estaduais voltados para projetos sustentáveis e de educação ambiental. Inclusive aqueles constituídos com recursos advindos de multas ambientais e de valores pagos por empresas para mitigação de impactos negativos socioambientais de suas implantações ou ampliações.

Os efeitos perversos do greenwashing do governador Casagrande estão longe de se resumir a suas ações à frente do executivo estadual. Nelas o que cientificamente precisa ser feito no Espírito Santo para a construção de um futuro sustentável é substituído pela ambiguidade da atitude verde no discurso e de apoio a projetos com fortes impactos socioambientais.

Enquanto articulador do movimento Governadores pelo Clima, Casagrande desempenhará importante papel na COP30 a realizar-se em Belém em novembro deste ano. Nesta 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, destacam-se entre os principais temas: redução de emissões de gases de efeito estufa; adaptação às mudanças climáticas; preservação de florestas e biodiversidade; e justiça climática e os impactos sociais das mudanças climáticas.

Enquanto conferência das partes, a COP reúne líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil para discutir ações para combates mudanças do clima. A construção de consensos que contribuam para mudanças efetivas é tarefa complicada principalmente para as partes comprometidas com mudanças nos rumos da forma e do conteúdo do enfrentamento de questões socioambientais.

Ter como articulador do movimento de entes federados brasileiros um governador que em sua trajetória à frente do executivo estadual só tem a apresentar ações que agravam questões socioambientais, merece sinal de alerta. Ao levar sua prática de greenwashing para encontros preparatórios e para a própria Conferência em Belém, Casagrande coloca em risco a credibilidade do que ela se propõe.

Isso porque será́ importante voz do grupo “mudar para deixar como sempre foi”. O risco da baixa efetividade do que for discutido e decidido em Belém, coloca em risco a credibilidade do Brasil enquanto líder mundial no enfrentamento de questões socioambientais.

Enquanto voz representativa na COP30, o greenwashing do governador Casagrande retira futuro, principalmente das novas gerações.

Arlindo Villaschi é professor titular aposentado da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Foi diretor adjunto pelo Brasil e Suriname junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (Washington, DC) e atualmente é assessor de movimentos sociais em temas de economia política.

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Last Update: 28/02/2025