Governo Trump põe fim a programa essencial para o desenvolvimento de vacina contra o HIV. Foto: Divulgação

O governo Trump encerrou um dos principais programas norte-americanos de pesquisa para vacina contra o HIV, interrompendo um investimento de US$ 258 milhões conduzido por consórcios liderados pela Universidade Duke e pelo Instituto de Pesquisa Scripps. A decisão foi comunicada nesta sexta-feira (30) por autoridades dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), responsáveis pela iniciativa.

De acordo com um porta-voz do NIH, a medida reflete uma mudança de foco para “estratégias já disponíveis” no combate à epidemia de HIV/AIDS. No entanto, pesquisadores alertam que o corte compromete décadas de avanço científico e pode atrasar ainda mais a descoberta de uma vacina eficaz contra o vírus.

Os programas descontinuados não se limitavam ao HIV: os estudos também impulsionavam tratamentos para a Covid-19, venenos de animais e doenças autoimunes.

Os cientistas das equipes de Duke e Scripps vinham investigando os chamados anticorpos amplamente neutralizantes, capazes de proteger contra múltiplas variantes do HIV — uma das abordagens mais promissoras até hoje.

“Acho extremamente decepcionante que, neste momento crítico, o financiamento de programas altamente bem-sucedidos de pesquisa de vacinas contra o HIV esteja sendo retirado”, lamentou o imunologista Dennis Burton, do Scripps.

Além de encerrar os consórcios de pesquisa, o NIH suspendeu o financiamento de um ensaio clínico da Moderna para uma vacina contra o HIV e interrompeu repasses para programas estaduais de prevenção.

O Departamento de Saúde do Texas recomendou a paralisação imediata de ações locais, enquanto o condado de Mecklenburg, na Carolina do Norte, já demitiu 10 profissionais de saúde pública.

“O impacto será global”, advertiu Mitchell Warren, diretor da AVAC, entidade internacional de combate ao HIV. Países africanos relataram queda brusca nos programas de prevenção devido à suspensão de repasses internacionais.

Testes para a vacina de HIV. Foto: Divulgação

Em 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou 1,3 milhão de novas infecções por HIV, incluindo cerca de 120 mil crianças. Embora os casos tenham diminuído desde 2010, cientistas afirmam que uma vacina continua sendo a chave para erradicar a epidemia.

“A pandemia de HIV nunca será encerrada sem uma vacina, então acabar com a pesquisa de uma vacina acabará matando pessoas”, afirmou John Moore, pesquisador da Weill Cornell Medical College.

O investimento havia sido garantido em 2019, com previsão de sete anos de financiamento. O encerramento abrupto, segundo pesquisadores, pode interromper o desenvolvimento de novas vacinas por anos.

Apesar de ter lançado um plano para erradicar o HIV nos EUA durante seu primeiro mandato, Trump reverteu boa parte desses esforços no segundo.

O governo também encerrou a divisão de prevenção ao HIV nos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e bloqueou o repasse de fundos do Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da AIDS (PEPFAR) — programa de US$ 7,5 bilhões responsável por tratamentos em países em desenvolvimento.

Embora isenções emergenciais tenham permitido a continuidade de tratamentos em alguns locais, o financiamento para a prevenção não foi retomado.

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Last Update: 31/05/2025