O governo Lula começa 2025 sitiado por uma ofensiva das elites econômicas e políticas contra o projeto vitorioso nas urnas em 2022. Por um lado, vemos ataque direto e nada especulativo do “mercado” contra a política econômica que vem gerando aumento da renda e do emprego para a maioria da população. Por outro, vemos um assalto ao orçamento público via emendas por parte do sistema político como condição para aprovar as medidas que viabilizam o programa de Lula.

Trata-se de uma descarada tática política da chantagem. Setores das elites econômicas abandonaram Bolsonaro por conta da gestão da pandemia e do autoritarismo do ex-presidente e ajudaram a eleger Lula pela frente democrática. E agora cobram uma adesão ao ajuste fiscal que não estava no programa vitorioso das urnas. Tal cobrança começou retórica, mas após as eleições municipais a chantagem se converteu em sabotagem da economia e ameaças de uma repactuação com a extrema-direita repaginada por uma nova liderança “democrática”, no caso, algum governador, de preferência Tarcísio de Freitas. Em paralelo, as elites políticas no Congresso Nacional seguem chantageando o governo a cada votação, sem que as elites econômicas se incomodem com as consequências que esse modus operandi traz para as contas públicas.

Lula vem respondendo a esse cerco de modo errático. Segue investindo em uma reorganização tributária na qual os ricos passam a pagar mais impostos para sustentar as medidas econômicas democráticas. Projetos de taxação de riquezas e lucros e a promessa da isenção do Imposto de Renda caminham nessa direção. Porém, em paralelo, cede à pressão pelo ajuste fiscal que vem das elites econômicas. Essa tática de mediação, que é típica do presidente, por enquanto vem desagradando a gregos e troianos. O “mercado” segue combatendo o governo, o Parlamento continua vendendo caro cada votação e a base da esquerda permanece apoiando Lula, só que de uma forma passiva. A questão da saúde do presidente agrega mais um componente de ansiedade ao campo progressista, que terminou 2024 temeroso com o futuro da democracia e de um projeto de combate às desigualdades sustentável, o que por sua vez aprofunda a desmobilização.

Obviamente responder a esse conjunto de desafios políticos não é algo simples e há de se levar em conta também a dinâmica internacional, que se tornará mais complexa quando Donald Trump reassumir a presidência dos Estados Unidos, em 20 de janeiro. A alta do dólar, por exemplo, é global. Por isso, é preciso reafirmar sempre que as teses do sectarismo de esquerda que se apressa em taxar o governo Lula de neoliberal só gera mais paralisia e passividade, além de permitir que seus formuladores durmam tranquilos, protegidos das contradições da política brasileira atual.

Ainda assim, continua urgente que o campo popular e democrático estabeleça alguma dinâmica de mobilização e de politização da base política que apoia o presidente na difícil tarefa de reconstruir a democracia brasileira.

Alternativas não faltam, seja a partir das políticas públicas do governo ou por meio das dinâmicas dos movimentos sociais, que podem ser potencializadas nos próximos dois anos. Políticas territoriais começam a ganhar corpo no Executivo federal, como é o caso do Periferia Viva, tocado pela Secretaria Nacional de Periferias, uma das melhores novidades neste terceiro mandato de Lula. Iniciativas de agentes comunitários e populares vinculados às políticas específicas estão em desenvolvimento na Cultura, na Saúde, na Economia Solidária, entre outras. Há ainda a possibilidade de alcançar os jovens do programa Pé de Meia. Não há nada que justifique o fato de o governo Lula ainda não ter organizado alguma dinâmica de mobilização com esses jovens. O mesmo vale para o Minha Casa, Minha Vida.

Já no âmbito dos movimentos sociais, a mobilização pelo fim da jornada de trabalho 6 x 1 é um exemplo exitoso. A esquerda conseguiu vencer o debate público, com apoio de 64% da população segundo o Datafolha, a partir de uma mobilização de novo tipo, de baixo para cima, que juntou as redes e as ruas e que foi protagonizada por lideranças da nova classe trabalhadora. Isso significa que essa mobilização trouxe uma parte do eleitorado da direita para defender uma pauta progressista.

Isso pode ser feito com outros temas, tais como a questão ambiental ou o armamento. Neste último caso, o governo Lula publicou um importante decreto sobre uso de armas pelas forças policiais, imediatamente criticado pelo bolsonarismo. Pesquisas têm mostrado que o repúdio à violência policial é majoritário na sociedade brasileira. Mas de nada adianta editar o decreto e não mobilizar a sociedade a favor dessa questão.

Já no caso ambiental, as pesquisas indicam que as pessoas identificam os efeitos dos eventos extremos em suas vidas e entendem que isso é causado pelo ser humano. Mas sem uma dinâmica coletiva, tudo continua igual e isso vira mais uma questão de desalento e desesperança, em vez de ser um fator mobilizador. Uma vez mais, não há nada que justifique o governo Lula não ter ainda um grande projeto de educação e mobilização climática. Na ausência deste tipo de inciativa, acaba prevalecendo na sociedade uma visão de que o atual governo não fez nada para proteger o meio ambiente, a despeito dos avanços nessa área.

Em suma, é preciso começar 2025 com os pés e as mãos nas ruas e nas redes, mobilizando os setores progressistas para defender a democracia e os direitos contra as chantagens das elites e contra o bolsonarismo, que segue forte e vivo em nossa sociedade.

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Last Update: 06/01/2025