A popularidade do governo Lula está no seu menor patamar histórico. Apesar de o governo ficar repetindo os bons índices econômicos oficiais, estes não cumprem nenhum efeito prático positivo em sua popularidade. Mesmo com crescimento econômico e inflação mais ou menos controlada para os padrões brasileiros, a vida do povo não melhora, e nem café consegue tomar.
Especula-se se Lula teria mudado, se estaria isolado da realidade. Mas Lula vem fazendo exatamente o que sempre fez. Faz um discurso para parecer que defende os trabalhadores e, na prática, faz outra coisa para agradar a direita e os bilionários capitalistas.
O anúncio dos cortes no orçamento junto com o tema da isenção do Imposto de Renda foi um exemplo disso. Na prática, atendeu os interesses dos bilionários capitalistas, enquanto a medida, ainda que limitada, mas que poderia beneficiar minimamente os trabalhadores, foi relegada para um futuro indefinido. Os trabalhadores acreditam cada vez menos no governo, enquanto a burguesia exige cada vez mais.
Decadência e subordinação do país
Lula sonha com um país e um capitalismo que não existe mais. O Brasil é um país decadente que, inclusive o próprio PT e o PSDB ajudaram a construir. Por isso, as políticas atuais não resultam na popularidade dos governos anteriores. O ciclo de boom das commodities antes da crise de 2008 mascarou temporariamente as contradições do capitalismo brasileiro. Lula surfou na época certas condições que permitiu ao governo privilegiar as grandes empresas capitalistas, enquanto os trabalhadores tiveram um certo aumento do consumo à custa de endividamento e empregos precários. Ou seja, não houve nenhuma mudança estrutural para os trabalhadores. Na verdade, a mudança foi pra pior, com o país se desindustrializando e se reprimarizando, subordinando-se cada vez mais aos diferentes setores do imperialismo.
No marco desta longa crise, com o agravamento das disputas entre os setores capitalistas e os países imperialistas, o capitalismo tem cada vez menos espaço para propostas como a de Lula, já que vem arrastando o mundo à barbárie, guerras, catástrofes ambientais e o avanço da extrema direita. O lulismo, ao abraçar alianças espúrias com o grande empresariado, o agronegócio e o centrão, e ao priorizar a suposta “governabilidade” em vez de enfrentar os capitalistas, deixa o terreno fértil para que a ultradireita canalize o ódio social para seu projetos autoritários.
A extrema direita não é um acidente, mas o fruto de décadas de aprofundamento do capitalismo, de conciliação de classes, de abandono da luta anticapitalista e da ilusão de que é possível humanizar o neoliberalismo. Agora, com o governo Lula 3 repetindo receitas fracassadas, a extrema direita se reorganiza, usando um discurso antissistema para esconder a responsabilidade do próprio sistema capitalista.
Falência da política de aliança com os capitalistas
Lula cede às exigências da burguesia por mais ataques aos trabalhadores. Mesmo assim, parte da extrema direita ensaia uma campanha pelo impeachment, embora Bolsonaro defenda “tirar” Lula só na eleição de 2026. A política de conciliação do PT e de fazer um neoliberalismo supostamente inclusivo mostra todo seu esgotamento. Este é o problema central.
Haveria uma saída, mas Lula teria que escolher o caminho da mobilização dos trabalhadores e do povo e do enfrentamento com a burguesia, a ruptura com o capitalismo e o imperialismo, implementando medidas que atendam os trabalhadores e ataque o lucro das 200 maiores empresas que controlam o país, invertendo completamente como as coisas funcionam no Brasil. Mas isso não acontecerá porque significaria Lula não ser o Lula, e o PT não ser o PT.
Apoiar o governo Lula é entregar a oposição à ultradireita
Setores majoritários do PSOL, como Boulos e a Resistência, e também a UP, dizem que não é hora de criticar o governo ou PT. Só que desconsideram que para derrotar a extrema direita e os riscos que ela representa, o apoio ao governo dificulta, já que impede a criação de uma saída de esquerda que seja independente da burguesia, com um programa revolucionário e socialista.
Ficar a reboque do governo é entregar o espaço da oposição todinho para a direita. E com o governo atendendo os capitalistas, qual trabalhador que está errado ao questionar o preço o preço do café e da carne e ficar com raiva do governo? Os trabalhadores não estão parados. Há a mobilização pelo fim da escala 6×1, há uma série de greves e lutas, que demonstram a disposição dos trabalhadores para garantir suas reivindicações. Mas nada disso o governo atende. Por isso, a tarefa de construir uma oposição de esquerda ao governo é tão urgente.
Não dá para esperar uma volta no tempo, a um mundo onde não exista a extrema direita. Este é o novo normal. A escolha não é entre Lula e Bolsonaro, mas entre a barbárie capitalista com suas duas caras diferentes (uma autoritária e a outra da conciliação, ou uma alternativa realmente dos trabalhadores contra este sistema capitalista.
Os defensores do governo afirmam que o governo está fazendo o possível e está sendo derrotado pela ala conservadora. Se acham que estão acossados pela direita e, por isso, não conseguem governar, por que colocam cada vez mais gente de direita e do centrão no governo?
É injustificável, em nome do combate à extrema direita, aderir ao governo que faz acordos com a direita. O PSOL compõe o governo, mas sua direção quer aderir ainda mais e, por isso, se lança contra qualquer voz minimamente crítica ao governo. Não é coincidência, inclusive, que neste momento tenha um caça às bruxas no PSOL com a demissão do economista e assessor Deccache e várias medidas de cerceamento dos setores de oposição à direção majoritária do PSOL encabeçada por Boulos. A falta de apoio à luta de Glauber Braga para manter seu mandato, por exemplo, é impressionante.
Oposição de Esquerda é a única forma de construir independência de classe
A esquerda do PSOL deveria refletir e concluir que é impossível ser independente do governo no marco do apoio ao governo. As críticas que fazem ao governo como, por exemplo, o rumo da política econômica, são importantes. Mas têm alcance curto ao não romperem com o governo, passando à oposição de esquerda a ele. E no fim acabam compondo o governo e o campo da colaboração de classes ainda que com críticas. Isto não ajuda a organização independente dos trabalhadores.
É impossível derrotar a extrema direita em aliança ou confiando na burguesia. Só é possível ser independente da burguesia sendo oposição de esquerda a este governo. Para enfrentar os ataques dos governo, lutar pelos direitos dos trabalhadores e derrotar a extrema direita, é preciso defender um projeto alternativo que seja socialista e de poder dos trabalhadores.