
Integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e políticos de partidos de centro avaliaram que a decisão de Jair Bolsonaro de lançar o senador Flávio Bolsonaro como candidato à Presidência em 2026 está ligada a uma estratégia para preservar o capital político da família e manter o eleitorado mobilizado para 2030. Segundo relatos feitos sob reserva, a escolha interfere diretamente nos planos do centrão, que trabalhava pela candidatura de Tarcísio de Freitas ao Planalto. Com informações do Estadão.
Esses interlocutores afirmaram que a ala política que apoiava Tarcísio projetava um acordo em que Bolsonaro, em eventual vitória do governador, pudesse receber um indulto. A indicação de Flávio foi vista como confronto a essa articulação. O senador mantém interlocução com o pai desde a prisão do ex-presidente, em 24 de novembro, quando passou a assumir papel central na comunicação entre Bolsonaro e aliados.
O anúncio pegou políticos de Brasília de surpresa, especialmente pelo momento escolhido. Embora parte do governo avaliasse que Tarcísio buscava a reeleição em São Paulo, havia expectativa de que Bolsonaro utilizaria todo o prazo até maio para bater o martelo. Flávio e o PL confirmaram a indicação, e não houve recuo mesmo após a queda de quase 4% no Ibovespa durante a tarde desta sexta-feira.
— Valdemar Costa Neto (@CostaNetoPL) December 5, 2025
Segundo governistas, a escolha pode influenciar a movimentação interna da centro-direita. O presidente do PP, Ciro Nogueira, já havia registrado incômodo em publicação no X no dia 19 de novembro, ao defender “foco nas eleições estaduais e nas nossas bancadas”. A observação ocorreu em meio a discussões sobre a união de partidos de centro e direita, quando Bolsonaro ainda cumpria prisão domiciliar.
O apoio a Tarcísio, segundo essas análises, poderia alterar a correlação de forças dentro da direita. Em caso de vitória do governador, o protagonismo nacional passaria a ele; em eventual derrota, o nome testado nas urnas seria o dele, deslocando a família Bolsonaro do centro da disputa futura. A indicação de Flávio, portanto, reorganiza a posição da família na política nacional a partir de 2026.
Pessoas de fora do núcleo bolsonarista disseram que ainda não está claro o motivo do anúncio ter sido feito nesta sexta-feira. Até então, a informação era de que Bolsonaro avaliaria o cenário até o limite do prazo eleitoral. A divulgação repentina, segundo esses interlocutores, indica que a decisão ocorreu com participação restrita, sem amplo diálogo com dirigentes dos principais partidos de centro envolvidos nas articulações para a disputa presidencial.