Em Linhares (ES), durante cerimônia do Novo Acordo do Rio Doce, presidente teceu duras críticas à administração da Vale S.A. e a entrega dela à iniciativa privada. “Vocês estavam sendo enganados há oito anos, antes de eu chegar à Presidência da República”, afirmou Lula
O presidente Lula viajou a Linhares, no Espírito Santo, para participar, nesta sexta-feira (11), da cerimônia de mais uma ação do Novo Acordo do Rio Doce, como ficou chamado o pacto de reparação das vítimas do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, Minas Gerais, há 10 anos. O governo federal anunciou pagamento de R$ 3,7 bilhões a 22 mil pescadores e 13,5 mil agricultores.
Durante a cerimônia, Lula esteve acompanhado de ministros e aliados. O presidente discursou à população de Linhares e se referiu ao desastre envolvendo a empresa de mineração Vale S.A. como “o maior acidente climático desse país”. E aproveitou a ocasião para elogiar o trabalho de dois integrantes do governo que tornaram possível a reparação: o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, e o advogado-geral da União, Jorge Messias, ambos presentes ao evento.
“Vocês estavam sendo enganados há oito anos, antes de eu chegar à Presidência da República. A verdade é que os companheiros que lutaram pela reparação do maior acidente climático desse país estavam esperando uma empresa, que tinha um presidente que não queria conversar com ninguém, que criou uma fundação que gastou R$ 30 bilhões, e vocês, até hoje, não sabem o que foi feito”, disse Lula.
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“Pois em apenas dois anos, em apenas dois anos, esses dois companheiros que estão aqui […], conversando com muitas outras pessoas, conseguiram fazer com que a Vale se sentasse na mesa e pagasse aquilo que ela tinha que pagar”, prosseguiu o presidente, dirigindo-se a Messias e Rui Costa. Em seguida, Lula teceu duras críticas à empresa e lembrou que, enquanto estatal, ela era “a primeira mineradora do mundo”.
Programa de Transferência de Renda
Pescadores e agricultores em municípios do Espírito Santo (ES) e de Minas Gerais (MG) estão incluídos no Programa de Transferência de Renda (PTR) do governo federal. Os pagamentos serão feitos por quatro anos, sendo o valor, por atingido, de um salário mínimo e meio mensal, por até 36 meses, e de um salário mínimo mensal, por mais 12 meses.
Voltado à agricultura familiar, o PTR-Rural é de responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e administrado pela Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater). Há também o PTR-Pesca, sob tutela do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).
Com foco nos setores pesqueiro e aquícola capixabas, o Plano de Reestruturação da Gestão da Pesca e Aquicultura (Propesca) prevê R$ 2,44 bilhões, ao longo de 20 anos, para a reparação coletiva. A União vai contribuir com R$ 1,5 bilhão, enquanto que MG reservou R$ 489,47 milhões e o ES, outros R$ 450 milhões.
O governo federal anunciou ainda recursos aos municípios da Bacia do Rio Doce, visando ao fortalecimento do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). No total, serão R$ 25,6 milhões para que 49 municípios afetados (38 em MG e 11 no ES) possam contratar profissionais, adquirir bens e promover o SUAS junto à população.
“O Brasil é dos brasileiros”
O evento em Linhares foi marcado pelas defesas efusivas da soberania nacional, seja por parte dos integrantes do governo federal, seja do próprio presidente. Em meio à declaração de guerra tarifária dos Estados Unidos (EUA) contra o Brasil, Lula elevou o tom ao falar de Jair Bolsonaro e Donald Trump. Sobre Bolsonaro, a quem se referiu como “aquela coisa”, o petista questionou o que ele havia feito, durante o mandato, em benefício do povo do ES.
“Aquela coisa covarde, que preparou um golpe nesse país, não teve coragem de fazer, está sendo processado, vai ser julgado. E ele mandou o filho dele para os EUA pedir para o Trump fazer ameaça: ‘ah, se não liberarem o Bolsonaro, eu vou taxar vocês’”, disparou o presidente, referindo-se a Eduardo Bolsonaro, deputado federal licenciado do PL.
“Vocês viram ontem o filho dele na internet, lendo uma carta: ‘ô, Trump, fala que você não vai taxar se meu pai não for preso. Que homem que é esse, gente? Que tipo de homem que é esse?”, ironizou, exigindo do clã Bolsonaro que “crie vergonha na cara” e encare o processo “de cabeça erguida”.
Em relação a Trump, Lula desmascarou as mentiras em torno do tarifaço, fora as ameaças para que Bolsonaro seja anistiado: o Brasil é deficitário na balança comercial com os EUA e taxas de 50% sobre produtos brasileiros não estão amparadas em fatos econômicos. O petista concluiu assegurando que o governo vai aderir à Lei da Reciprocidade, se não houver saída por meio do diálogo.
PTNacional, com informações do site do Planalto