O Governo Federal anunciou nesta terça-feira (22) a liberação de R$ 20,6 bilhões do Orçamento de 2025 que estavam sob contenção. A medida, apresentada durante a divulgação do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do 3º bimestre, foi possível graças à melhora nas projeções de arrecadação e representa uma reversão quase total do contingenciamento de R$ 20,7 bilhões realizado em maio.

Com a atualização, o volume de recursos sob contenção caiu de R$ 31,3 bilhões para R$ 10,7 bilhões, aliviando ministérios e órgãos da administração federal, que agora terão maior margem para executar investimentos, custeio administrativo e liberar parte das emendas parlamentares. Segundo o governo, a atualização reafirma o compromisso com a responsabilidade fiscal e a execução do orçamento conforme as regras do novo arcabouço.

A liberação de R$ 20,6 bilhões no Orçamento de 2025 sinaliza uma melhora importante na trajetória fiscal, com reflexos positivos na execução de políticas públicas, investimentos e articulação política. Porém, o governo mantém postura cautelosa, reforçando o uso de instrumentos de gestão para garantir que a meta seja cumprida com responsabilidade.

A reversão ocorre por conta da melhora significativa na receita líquida de transferências, que teve acréscimo de R$ 27,1 bilhões. Isso permitiu ao governo liberar todo o contingenciamento anterior de R$ 20,7 bilhões, feito em maio, ainda que o bloqueio obrigatório tenha subido levemente, de R$ 10,6 bilhões para R$ 10,7 bilhões, por exigência do novo arcabouço fiscal.

“Nos últimos anos, houve uma erosão da base de arrecadação. Estamos corrigindo isso com justiça tributária e responsabilidade fiscal”, resumiu Dario Durigan, secretário-executivo da Fazenda.

Contingenciamento e bloqueio: entenda a diferença

Para entender a medida, é fundamental distinguir dois mecanismos:

  • Contingenciamento: é uma retenção de gastos feita quando há risco de frustração na arrecadação, para garantir o cumprimento da meta fiscal (resultado primário).
  • Bloqueio: ocorre quando há aumento em despesas obrigatórias. Para manter o limite de gastos, o governo precisa cortar, proporcionalmente, gastos discricionários.

Em maio, o governo aplicou ambos: contingenciou R$ 20,7 bilhões por risco fiscal e bloqueou R$ 10,6 bilhões por aumento nas despesas obrigatórias. Agora, com a melhora nas receitas, o contingenciamento foi totalmente revertido. O bloqueio, por sua vez, foi ajustado para R$ 10,7 bilhões.

Contenção menor, mas rigor fiscal mantido

A diferença líquida entre o valor liberado e o novo bloqueio resulta nos R$ 20,6 bilhões agora disponíveis para execução por ministérios e parlamentares.

Esse alívio permitirá maior volume de investimentos, despesas administrativas e destravamento de emendas parlamentares, instrumentos fundamentais para a atuação política no Congresso.

“Vamos buscar o centro da meta com instrumentos administrativos. Há espaço para novas medidas, caso os riscos fiscais se concretizem”, disse o secretário-executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento, Gustavo Guimarães.

Faseamento será mantido como precaução

Apesar do alívio fiscal, o governo manterá instrumentos de controle para garantir o cumprimento da meta até o fim de 2025. Um deles é o faseamento: liberação gradual de recursos ao longo do ano, conforme o cenário fiscal se confirma ou se deteriora.

“Vamos continuar sendo prudentes com a política fiscal. Se os riscos se concretizarem, teremos espaço para novo bloqueio ou contingenciamento”, afirmou Guimarães. “O faseamento é uma contenção preventiva para proteger o cumprimento da meta fiscal no fim do exercício”, explicou o secretário do MPO.

Essa estratégia compõe o que o governo chama de “tríade de controle fiscal”: bloqueio, contingenciamento e faseamento — ferramentas que permitem adaptar a execução orçamentária a cenários dinâmicos sem comprometer o equilíbrio das contas.

Meta fiscal mais próxima e trajetória sustentável

O relatório apontou melhora expressiva na projeção do resultado primário do Governo Central para 2025. O déficit estimado caiu de R$ 51,7 bilhões para R$ 26,3 bilhões, ou 0,2% do PIB, dentro do limite inferior permitido pelo novo arcabouço, que aceita um déficit de até R$ 31 bilhões.

“A projeção atual indica uma folga de R$ 4,7 bilhões em relação ao teto do déficit, o que elimina a necessidade de contingenciamento adicional”, afirmou Clayton Montes, secretário do Orçamento Federal.

Segundo ele, o contingenciamento pode ser revertido quando o resultado fiscal projetado estiver acima do limite mínimo permitido, como agora.

Fatores que sustentam o cenário positivo

De acordo com o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, o bom desempenho da arrecadação se deve a múltiplos fatores, entre eles:

  • crescimento do IRPF e IRPJ;
  • término do Perse (programa emergencial para o setor de eventos);
  • taxação de fundos fechados e super-ricos;
  • subvenção de custeio ajustada legislativamente;
  • receita adicional com leilão de excedentes do pré-sal, que deve render R$ 14,8 bilhões;
  • aumento do IOF validado parcialmente pelo STF, com impacto de R$ 8,4 bilhões.

“As medidas demonstram que não houve fuga de capitais e que o crescimento da arrecadação é consistente”, avaliou Barreirinhas.

Pressões sobre as despesas continuam

Apesar da melhora na receita, o relatório também apontou aumento nas despesas obrigatórias. O maior impacto veio do Benefício de Prestação Continuada (BPC), com acréscimo de R$ 2,9 bilhões. Por outro lado, houve redução de R$ 2 bilhões em gastos com pessoal e R$ 0,8 bilhão em subsídios, compensando parte da alta.

A previsão para os gastos com benefícios previdenciários segue estável, em torno de R$ 1,032 trilhão.

Desempenho fiscal ainda exige atenção

Mesmo com a liberação de parte do Orçamento e a melhora na meta fiscal, o rombo total das contas públicas deve ultrapassar os R$ 70 bilhões, quando se somam:

  • R$ 26,3 bilhões de déficit primário previsto;
  • R$ 45,3 bilhões de precatórios fora da meta;
  • R$ 3,3 bilhões em devoluções do INSS.

Esse valor impacta diretamente a dívida pública, que continua como ponto de atenção para investidores e agências de risco.

Execução mais ampla, mas cautelosa

O detalhamento de quais ministérios e programas terão os valores liberados será publicado no Decreto de Programação Orçamentária e Financeira até 30 de julho. Após isso, os órgãos terão cinco dias úteis para indicar como ajustarão suas programações.

A expectativa é que parte dos recursos seja utilizada para destravar emendas parlamentares, essenciais para a articulação política no Congresso.

A meta fiscal para 2025 permanece sendo o déficit primário zero, com margem de tolerância de 0,25% do PIB para cima ou para baixo. A atual projeção de R$ 26,3 bilhões negativos está dentro dessa faixa, conferindo mais previsibilidade e controle ao cenário fiscal.

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Last Update: 23/07/2025