A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, oficializou nesta segunda-feira (10) sua filiação ao Partido Social Democrático (PSD), em um movimento que não apenas redesenha o tabuleiro político local, mas também amplia sua interlocução com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A cerimônia, realizada em Recife, contou com a presença de figuras de peso do partido, como o presidente nacional Gilberto Kassab e os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e André de Paula (Pesca e Aquicultura), ambos integrantes do governo federal.
A mudança, articulada para “manter o controle do PSDB” enquanto integra a base de Lula, ocorre em meio ao desgaste tucano e à ascensão do PSD como principal força municipal do país. Kassab não poupou elogios: além de projetar Raquel como presidenciável no longo prazo, convidou o ex-governador João Lyra Neto (pai da gestora) a migrar para o PSD. “Atendendo ao convite, digo que sim!”, respondeu o patriarca, aplaudido pela plateia. A governadora, por sua vez, negou tratar-se de “aliança de ocasião”: “É uma união de propósito, em defesa da democracia e da redução das desigualdades”.
Em seu discurso, Raquel destacou que sua mudança de legenda não foi uma “aliança de ocasião”, mas uma decisão calculada para fortalecer projetos políticos e institucionais. “A gente vai continuar trabalhando do mesmo jeito, indo para Brasília, buscando recurso, concluindo obra, entregando mais esperança na vida das pessoas. O governo [federal] tem nos acolhido desde o primeiro momento”, afirmou.
A presença de ministros ligados ao governo Lula no evento reforça a percepção de que a filiação ao PSD abre espaço para uma maior integração da governadora na base de apoio do Planalto. O partido, que já faz parte da coalizão governista, agora passa a ter um papel ainda mais relevante no xadrez político nordestino.
Desgaste do PSDB e novo cálculo político
A troca de partido de Raquel Lyra também evidencia o enfraquecimento do PSDB, legenda à qual era filiada desde 2016. A filiação ao PSD ocorre paralelamente à migração de sua vice, Priscila Krause, do Cidadania para o PSDB. O movimento, segundo assessores da governadora, visa assegurar influência sobre os 32 prefeitos tucanos eleitos em Pernambuco em 2024 — maioria alinhada a Raquel —, evitando que o comando da sigla caia nas mãos do presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto (PSDB), seu rival. Acredita-se numa provável onda de migração de prefeitos tucanos para partidos mais alinhados com Raquel.
A crise tucana é um fenômeno nacional, com a sigla perdendo espaço em estados chaves. A estratégia inclui negociar com o PSDB nacional a federação com o Podemos em 2026, liderada pelo ex-senador Armando Monteiro Neto.
Lula no horizonte: neutralidade em 2026
Nos bastidores, aliados apontam que a estratégia visa consolidar uma posição de força para as eleições de 2026, quando Raquel Lyra deve buscar a reeleição. A aproximação com Lula não significa necessariamente um alinhamento completo, mas ao menos uma abertura para neutralidade no pleito presidencial, evitando um embate direto com o PSB, partido do prefeito do Recife, João Campos, possível concorrente ao governo estadual. Para Raquel, é essencial evitar que o presidente suba apenas no palanque de Campos.
Com 878 prefeituras conquistadas em 2024, o PSD se consolida como uma das siglas mais influentes do país e pode ser um trampolim para as ambições políticas futuras de Raquel Lyra. Gilberto Kassab, durante a cerimônia, chegou a insinuar que a governadora poderia se tornar um nome viável para a disputa presidencial nos próximos anos.
Enquanto o Palácio do Campo das Princesas evita declarar apoio formal à reeleição de Lula, a governadora ressalta a “relação próxima” com o Planalto: “O governo federal tem ajudado Pernambuco a recuperar protagonismo”. O recado é claro: no tabuleiro nordestino, Raquel Lyra quer ser peça-chave — para o PSD, para o PSDB e, não por acaso, para Lula.
A filiação de Raquel Lyra ao PSD e sua gradativa aproximação do governo federal demonstram uma estratégia pragmática de sobrevivência política, enquanto o PSDB perde espaço e a nova correlação de forças no Nordeste se desenha. Se essa movimentação resultará em apoio efetivo de Lula à governadora em 2026, ainda é incerto, mas o espaço para uma aliança está definitivamente aberto.