A primeira fase desta Copa do Mundo de Clubes da Federação Internacional de Futebol (Fifa) cumpriu seu objetivo primordial: globalizar o futebol em uma competição planetária.
A partir de agora, os arranjos se adaptarão às circunstâncias e aos interesses da entidade. O futuro pode trilhar novos caminhos, enquanto se discute a periodicidade do Mundial de Clubes e o status da Copa do Mundo de Seleções.
Esta última, embora sem alterações de curto prazo, perdeu sua supremacia em termos de melhor futebol, devido ao tempo exíguo e ao acúmulo de competições.
A Europa, com a Uefa e suas próprias disputas, mantém diferenças com a Fifa, e o cenário global do futebol está em constante movimento.
Há uma discussão, atualmente, sobre o “Fair Play Financeiro”, que provoca uma disputa acirrada por parte dos novos investidores, principalmente americanos e árabes.
Nesta primeira fase, praticamente não houve grandes surpresas. Alguns clubes mais tradicionais, como Boca Juniors, Porto e Atlético de Madrid, foram eliminados. Não surgiram, porém, as chamadas zebras. Agora, o foco volta-se para as oitavas de final e as fases seguintes.
Os clubes sul-americanos obtiveram resultados expressivos, reacendendo a antiga pretensão da unificação do calendário – que, bem sabemos, é dificultada pelas diferenças geográficas.
As vitórias brasileiras e a forma como foram conquistadas até aqui são significativas para o nosso futebol. Flamengo, Fluminense e Palmeiras enfrentaram complicações em seus jogos, mas conseguiram superá-las.
Ao Botafogo coube a vitória mais notável, na partida que terminou em 1×0 contra o Paris Saint-Germain.
O resultado impressionou não só por dar-se contra o campeão europeu de conquista recente, mas pela maneira como o jogo se desenvolveu. A partida começou dentro da lógica esperada: o PSG, favorito incontestável, atacava em ritmo normal.
Acontece que no futebol, ao contrário de outros esportes – como o basquete, que, em geral, tem resultados mais previsíveis –, raramente existe um “jogo normal”.
O Botafogo, apresentando-se como o campeão da América e enfrentando o adversário a ser batido no grupo considerado o mais complicado, encontrou motivação extra.
O time carioca conseguiu um gol em condições raras, graças ao excelente momento de Ygor Jesus, quase sozinho como opção de ataque.
A partir daí, o jogo transformou-se, ganhando outras características e culminando na vitória, confirmada posteriormente pelos bons resultados dos demais representantes brasileiros.
Muitas são as considerações para se compreender a campanha inicial dos times neste Mundial. As diferentes fases de suas temporadas – alguns em final, outros no meio – impactam o plano físico, o que pode ter sido relevante. O PSG, por exemplo, vinha de uma goleada de 4×0 sobre o Atlético de Madrid.
Outro ponto levantado é o das condições climáticas opostas entre os hemisférios. Isso, de fato, pesa. Mas não explica totalmente o desfecho. Este cenário, se bem aproveitado, pode impulsionar o futebol da América.
Cabe lembrar que, nesta primeira fase, algumas partidas foram marcadas por condições climáticas severas, com jogos interrompidos e equipes visivelmente desgastadas pelo calor extremo.
As reações nos meios de comunicação foram imediatas, com algumas expressões interessantes.
O jornal As, da Espanha, usou a seguinte expressão para definir a performance do Botafogo: “Rochoso na defesa e uma vespa no contra-ataque”.
Os treinadores tiveram suas atuações testadas. Renato Paiva, do Botafogo, aproveitou a repercussão da boa atuação de sua equipe para exaltar os colegas de profissão, elogiando tanto os brasileiros quanto os estrangeiros.
No plano individual, o Mundial também já aponta para o surgimento de revelações promissoras e a confirmação de outras. Um exemplo é o jogador palmeirense Estevão, que está de malas prontas para o Chelsea, da Inglaterra.
Destaca-se também o jovem argentino Montoro, recentemente contratado pelo Botafogo. Em campo contra o PSG, Montoro mostrou uma desenvoltura impressionante. •
Publicado na edição n° 1368 de CartaCapital, em 02 de julho de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Gols globalizados’