O jornal O Estado publicou uma matéria no último dia 24, intitulada Desafios para o PT em capitais do Nordeste (Victoria Abel e Jeniffer Gularte), destacando que “o PT enfrenta dificuldades para emplacar candidatos em capitais do Nordeste” e que “a situação preocupa o partido, que não governa nenhuma capital e tem o chefe do Executivo como principal cabo eleitoral na tentativa de reverter a situação”.

O jornal produziu um gráfico colocando melhor a situação, o qual reproduzimos abaixo:

Da constatação do problema, o diário apresenta a solução: “não entrar em campanhas que oponham nomes de sua base [governista],”, escreveu um dos mais importantes órgãos do imperialismo no País, acrescentando por fim: “mas se dedicar a palanques contra a ‘extrema-direita’”. Trata-se de uma pressão para que o maior partido da esquerda brasileira se submeta ainda mais aos partidos de “centro”, isto é, da direita tradicional.

O golpe do imperialismo é colocar as disputas políticas em uma aritmética desprovida de substância social. Assim, haveria a esquerda (um campo), o “centro” (outro campo) e a extrema direita (outro campo também), totalizando três campos possíveis, onde um poderia ser isolado, colocando a batalha em uma situação onde dois campos (esquerda e a direita centrista) teriam uma força maior do que um único campo (o bolsonarismo, no caso). Trata-se de um sofisma.

A pegadinha consiste justamente em desconsiderar o fato de que a esquerda (representada principalmente pelo PT) é bastante popular, a extrema direita tem popularidade também, embora menor e o chamado centro, não tem nenhuma. Partidos como o MDB do pré-candidato à prefeitura de Salvador Geraldo Júnior e o PSB, dos candidatos João Campos (Recife) e Duarte Júnior (São Luís) mantém uma sobrevida única e exclusivamente por força das alianças eleitorais firmadas pela direção do PT, sem o qual, sua falência já teria a muito sido oficializada.

Defendendo a submissão do maior partido da esquerda brasileira aos falidos do “centro”, O Estado lembra que “o partido de Lula nunca esteve à frente da administração em Salvador, apesar de governar o estado ininterruptamente desde 2007 — a legenda tem o receio de um revés em primeiro turno agora” e também que “no caso do Recife, o PT abriu mão de duelar com o PSB”, que supostamente, teria “75% das intenções de voto”. As colocações simplesmente são jogadas, sem nenhuma consideração de maior profundidade, que explique, por exemplo, como o PT pode governar o estado da Bahia “ininterruptamente desde 2007” e conquistar mais de 70% do eleitorado soteropolitano na disputa presidencial de 2022, mas não conseguir eleger um prefeito na capital baiana.

No Recife, Lula conseguiu mais de 56% dos votos, conseguindo derrotar o imperialismo na capital pernambucana, mas não consegue fazer o mesmo contra um coronel? Naturalmente, O Estado não entra nesse debate, mas é importante travá-lo, até para uma compreensão sobre o problema que leva o PT a uma situação tão derrotista, que pode ser explicada pela própria “solução” adotada pelo partido.

A política de permitir aos “aliados” centristas montarem na popularidade do partido fez com que o PT evaporasse no Rio de Janeiro. A segunda maior cidade do País nunca teve um governo municipal petista, nem nada minimamente perto disso. Desde 1992, com Benedita Silva, o partido não consegue sequer chegar ao segundo turno das eleições, mesmo contando com uma expressiva votação favorável ao PT em disputas presidenciais, produzindo um vácuo responsável por tornar o PSOL uma das principais forças políticas da esquerda na cidade.

Na capital operária do País, São Paulo, essa mesma política fez o PT ter um desempenho no mínimo desastroso em 2020, fortalecendo também o PSOL, que na capital paulista, é representado por Guilherme Boulos, um notório ongueiro ligado ao serviço secreto norte-americano. No caso de Boulos, o PT deliberadamente anulou-se, optando por dar ao psolista o capital político conquistado junto às massas operárias que apoiam o partido.

Desde a primeira eleição presidencial após o fim da Ditadura Militar (1964-1985), não houve um único pleito na qual o PT não despontasse pelo menos com uma fração quase igual ao do partido vencedor das eleições para a chefia de Estado da nação. Ocorre que a posição derrotista do PT, está gradualmente diluindo essa força e criando condições para que golpes como o que Jean-Luc Mélenchon, do partido França Insubmissa sofreu.

O apoio da classe trabalhadora ao PT é enorme e mesmo com tantas vozes dizendo que a agremiação estava acabada após o golpe de 2016, a realidade mostrou o exato oposto. No entanto, a manter-se a política de subserviência, a única tendência é que a esquerda e em especial os trabalhadores se desorientem, abrindo caminho para ataques vigorosos da direita, sobretudo contra a classe trabalhadora. Essa é a razão de O Estado e o imperialismo pressionarem tanto o partido, que ao atendê-los, favorece os interesses dos inimigos do povo, não os do povo.

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Última Atualização: 26/07/2024