A nomeação da presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, para a Secretaria-Geral da Presidência deve marcar a segunda mudança na Esplanada dos Ministérios neste ano, após a troca de Paulo Pimenta por Sidônio Palmeira na Secretaria de Comunicação Social.

A dança de cadeiras, porém, não deve parar por aí. No segundo tempo do governo, o presidente Lula (PT) precisa equilibrar tarefas como reverter a queda na aprovação do governo, diminuir a resistência no Congresso e preparar o terreno para 2026.

Partidos do Centrão que já ocupam ministérios — apesar de não entregarem o apoio necessário em votações — não estão satisfeitos e querem mais espaço. É o caso do PSD, de Gilberto Kassab, que já domina três pastas.

Também compõem este quebra-cabeça duas das figuras mais poderosas de Brasília: os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O futuro da dupla passa pelos ajustes de uma reforma ministerial.

A eleição da nova cúpula do Legislativo só ocorre no próximo sábado 1º, mas o resultado já está dado. Hugo Motta (Republicanos-PB) comandará a Câmara e Davi Alcolumbre (União-AP) voltará a dar as cartas no Senado. Lira e Pacheco são, neste momento, o que os norte-americanos chamam de lame ducks (ou “patos mancos”, na iminência de perda do poder).

No caso de Pacheco, a transição do Legislativo para um ministério no governo Lula seria mais natural, já que o senador manteve uma relação relativamente harmoniosa com o PT nos últimos dois anos, salvo discordâncias pontuais. Paulo Henrique Cassimiro, doutor em Ciência Política e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, destaca ainda que Pacheco é um potencial aspirante ao governo de Minas Gerais em 2026, em aliança com o PT.

“Ele é o candidato que a esquerda provavelmente terá de apoiar, é muito pouco provável ter algum outro nome”, prevê. “Esquentar a cadeira de ministro, inaugurando obras em Minas e sair a governador, com o apoio do PT, dão a ele chances muito grandes de se eleger.”

A situação de Lira é diferente. O presidente da Câmara vestiu — literalmente — a camisa de Jair Bolsonaro (PL) em 2022 e segue emparedando o governo Lula desde a posse. O Planalto conseguiu aprovar projetos de impacto que encampou como seus, a exemplo do arcabouço fiscal, da reforma tributária e do pacote de corte de gastos. O custo para o governo Lula, tanto político quanto fiscal (via emendas), foi alto.

Para Claudio Couto, cientista político na FGV-EAESP, seria temerário ter Lira em uma pasta voltada à articulação política, como a de Relações Institucionais, hoje a cargo de Alexandre Padilha (PT). “Vimos como ele atuou ao longo desse período, no sentido de ficar extorquindo o Executivo”, pondera. “É a raposa cuidando do galinheiro.”

Por outro lado, diz Couto, entregar a Lira outro ministério, não ligado diretamente à relação com o Congresso, poderia ser uma forma de apaziguar os ânimos, ainda que o deputado alagoano não seja considerado confiável. Parte do Centrão defende nomeá-lo para o Ministério da Agricultura, chefiado pelo pessedista Carlos Fávaro — o PSD, por óbvio, é contra.

Cassimiro entende que deixar Lira na Câmara pode produzir novos problemas para o governo, enquanto levá-lo à Esplanada teria o potencial de “ajudar a não atrapalhar”. Ele destaca que o tom de Lira “sempre foi de chantagem” e acrescenta: “Na verdade, esse é o tom da escola Eduardo Cunha, da qual Lira faz parte.”

Ainda não se sabe se Lula convidará Lira e Pacheco — ou um deles — a entrar no governo. Além disso, o presidente costuma demorar a bater o martelo, mesmo quando Brasília já as considera sacramentadas. José Múcio, por exemplo, já indicou em diferentes ocasiões o desejo de se retirar do governo, mas o petista busca mantê-lo.

Além de ajustar sua cozinha e baixar a fervura da relação com o Congresso, especialmente a Câmara, Lula precisa olhar para 2026. Ampliar a influência de partidos que, em poucos meses, podem lançar candidatos à Presidência representa um risco. Já estão na Esplanada o União Brasil, que pode lançar Ronaldo Caiado, o Republicanos, fiador de Tarcísio de Freitas, e o PSD, onde desponta Ratinho Junior.

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Last Update: 29/01/2025