Glauber Braga diz ao STF que Lira controlava ‘orçamento secreto’

Depoimentos que integram a decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), revelam que o deputado Glauber Braga (Psol-RJ) atribuiu ao ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) o controle do chamado “orçamento secreto”. Segundo o parlamentar, Lira fazia parte de um grupo restrito ligado à Presidência da Câmara responsável por direcionar tanto as antigas emendas de relator quanto as atuais emendas de comissão.

“Sem dúvida nenhuma. Com certeza absoluta”, afirmou Glauber ao confirmar que essas emendas eram vinculadas à Presidência da Casa, segundo o trecho registrado na decisão.

As declarações fazem parte do conjunto de elementos que levou Dino a autorizar uma operação da Polícia Federal em endereços ligados à ex-assessora de Lira, Mariângela Fialek, conhecida como Tuca. As investigações apontam que ela seria a principal responsável por operacionalizar o orçamento secreto na Câmara e que atuaria sob supostas ordens diretas de Lira, hipótese ainda em apuração.

Pressões e interferências

A PF ouviu seis parlamentares e uma funcionária da Câmara. Entre os depoentes está Glauber, que relatou ter tomado conhecimento, por meio do deputado Zé Rocha (União-BA), de que Lira teria tentado interferir no encaminhamento das emendas analisadas pela Comissão de Integração Nacional, presidida por Rocha.

Segundo Glauber, Lira enviou uma lista alterando prioridades definidas pelos integrantes da comissão e favorecendo demandas de seu reduto eleitoral, Alagoas. O gesto teria incomodado Rocha, que relatou ter recebido uma ligação do então presidente da Câmara cobrando a alteração e ameaçando dar um “voto de desconfiança” que poderia retirá-lo da presidência do colegiado.

Em outro episódio, ainda de acordo com Glauber, Rocha ficou sabendo, durante uma viagem internacional, que sua secretária havia sido substituída e que o vice-presidente da comissão assumiria a tarefa de incorporar as solicitações de Lira. O parlamentar mencionou que uma assessora do ex-presidente poderia estar intermediando essas demandas, possivelmente Tuca.

Comissões

Glauber também destacou repasses considerados suspeitos, como os quase R$ 19 milhões enviados em apenas duas emendas para Rio Largo (AL), município de cerca de 70 mil habitantes e governado por um aliado de Lira envolvido em investigação por desvio de recursos. Para o deputado, o volume de recursos é “um escândalo”.

Ele pediu que os investigadores verificassem repasses a cidades do reduto eleitoral de Lira e à Codevasf.

Além disso, Glauber relatou que analisou as indicações da Comissão de Turismo e constatou que não havia requerimentos formais para o envio de recursos a Alagoas, e nenhum dos membros da comissão era do Estado. Para ele, isso reforça que as indicações teriam sido “plantadas”, repetindo o padrão observado na comissão presidida por Zé Rocha.

Depoimento

O deputado baiano confirmou ter recebido orientações de Lira sobre quais emendas excluir ou incluir, além de pedidos para assinar ofícios que chegavam da Presidência da Câmara. Segundo Rocha, essas comunicações vinham por WhatsApp, enviadas por Tuca.

Ele disse que contestou a falta de informações sobre repasses para Alagoas e que, ao segurar o envio das emendas para o Ministério da Integração, recebeu uma ligação de Lira reclamando que ele estaria “criando problema”.

Procurado, Arthur Lira informou por meio de sua assessoria que não comentaria o caso porque não é investigado. A reportagem também buscou outros parlamentares citados e a defesa de Mariângela Fialek, mas não obteve resposta até a publicação. O texto será atualizado caso haja manifestações.

*Com informações do Valor.

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