O partido de extrema direita Reunião Nacional, de Marine Le Pen, que venceu o primeiro turno das eleições legislativas na França com 33% dos votos, espera conquistar maioria absoluta no segundo turno das eleições neste domingo (07) para poder, assim, assumir a chefia de governo. O presidente do RN, Jordan Bardella, que tem a ambição de se tornar primeiro-ministro, fez do combate à imigração um dos pilares de sua campanha, mas também colocou um tema polêmico no seu programa.

Bardella já anunciou que pretende adotar uma lei que visa suprimir o direito de pessoas nascidas na França, mas de pais estrangeiros, de terem acesso à nacionalidade francesa. E até impedir que cidadãos com dupla nacionalidade tenha acesso a cargos estratégicos no governo francês. No entanto, o político, de 28 anos é filho de imigrantes que vieram da Itália.

Três dos quatro avós do presidente do partido Reunião Nacional são italianos. O jornal francês Le Monde encontrou informações sobre sua família materna na região do Piemonte, no norte da Itália. Eles vieram da cidade de Nichelino, próxima das fábricas da Fiat nos subúrbios de Turim, onde nasceu a sua mãe Luisa Bertelli-Motta. Trata-se de uma antiga cidade-dormitório onde moravam os trabalhadores da montadora entre as décadas de 1950 e 1970. Naquela época nos arredores de Turim, os movimentos operários eram fortes, com sindicatos de metalúrgicos aliados politicamente aos partidos de esquerda. Portanto, muito distantes das ideias políticas do partido francês Reunião Nacional.

Ainda sobre a família de Jordan Bardella, seu avô paterno chamado Guerrino Bardella, nasceu em Alvito, uma pequena cidade medieval entre Roma e Nápoles, e quando jovem imigrou para a França, onde foi trabalhar como pedreiro e encanador nos arredores de Paris. Na década de 1960, Guerrino conheceu e se casou com Réjane, filha de imigrantes que vieram da Argélia. Portanto, Jordan Bardella tem origens italianas e argelinas.

Vale lembrar que hoje, na França, um em cada quatro adultos tem, pelo menos, um dos pais de origem imigrante. A própria extrema direita francesa já não tem medo de falar sobre origens familiares estrangeiras e transformou isso em uma forma de patriotismo para conquistar seu eleitorado. Segundo destaca Jordan Bardella, não se deve confundir todos os migrantes.

Aliados de extrema direita

O atual governo italiano é composto por quatro partidos, dos quais dois são de direita (Força Itália e Nós Moderados) e outros dois de extrema direita: o Irmãos de Itália, liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni, e a Liga – Salvini Premier chefiada por Matteo Salvini. Ambos os partidos extremistas têm posições políticas nacionalistas, populistas e contrárias à imigração. Eles compartilham o lema: a Itália para os italianos.

Mas há diferenças. Giorgia Meloni tem origens no fascismo, embora ela tente aparentar um distanciamento, o símbolo do seu partido mantém a imagem da chama tricolor, um movimento neofascista. Vale lembrar que o presidente do Senado, Ignazio La Russa, também do partido Irmãos da Itália, assumiu publicamente que tem uma estátua de Benito Mussolini, ditador que fundou o Partido Nacional Fascista.

Recentemente, uma repórter do portal de notícias italiano Fanpage, se infiltrou entre os jovens do Juventude Nacional, um grupo financiado pelo partido Irmãos da Itália. A reportagem revelou entre os jovens explícitas posições fascistas evocando o Duce, fazendo saudações nazistas e declarações antissemitas. Giorgia Meloni tentou se distanciar destas posturas, mas reagiu atacando a reportagem pelo método de obter informações.

Já a Liga de Matteo Salvini, tem origens regionalistas do norte da Itália e é derivada de um movimento independentista e xenófobo que surgiu no início da década de 1990. Salvini constantemente faz declarações contra o Parlamento Europeu. Na Europa, ele é um forte aliado da líder do partido francês Reunião Nacional, Marine Le Pen, e autodenomina-se “amigo” do eurodeputado Jordan Bardella. Enquanto Giorgia Meloni é parceira do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán.

Rivalidade entre Meloni e Le Pen

Ambas são mulheres, loiras com olhos claros e líderes de extrema direita de países fundadores da União Europeia, mas a relação entre Giorgia Meloni e Marine Le Pen não é historicamente simples. Pessoalmente, as duas nunca se aceitaram como amigas e nunca dividiram o mesmo palanque em campanhas eleitorais. Elas competem pelo protagonismo na extrema direita europeia.

Le Pen tem uma relação política mais antiga com Salvini, ligada por anos a favor de Vladimir Putin. Mas depois da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, Salvini e Le Pen tiveram que se distanciar do presidente russo e interromperam o apoio à Rússia.

Neste aspecto, Meloni compreendeu rapidamente que o apoio à Ucrânia e à Aliança Atlântica, e a fidelidade incondicional aos Estados Unidos são posições necessárias para aparentar uma extrema direita moderada, tentando se afastar do rótulo de pós-fascismo italiano, mundialmente impopular.

O recente sucesso do partido Reunião Nacional no primeiro turno das eleições legislativas da França pode mudar a relação entre as duas líderes. Giorgia Meloni cumprimentou o partido de Bardella pelo resultado.

“Sempre esperei, ao nível europeu, que as velhas barreiras entre as forças alternativas de esquerda desaparecessem. Parece que também na França estamos caminhando nesta direção” declarou a primeira-ministra da Itália.

“A tentativa constante de demonizar e encurralar as pessoas que não votam na esquerda é um truque que serve para escapar do debate sobre os méritos das diferentes propostas políticas. Mas cada vez menos pessoas caem nisso, vimos na Itália, assim como na Europa” completou Meloni.

Segundo os analistas políticos italianos, o forte caráter competitivo das duas líderes deixa uma incógnita no ar: Marine Le Pen vai se “melonizar” ou Giorgia Meloni vai se “lepenizar”? Uma coisa é certa, Le Pen e Meloni são dois lados da mesma moeda, a extrema direita europeia.

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Last Update: 03/07/2024