Uma das virtudes de Gilberto Gil é sua capacidade de navegar com facilidade pelo som urbano, mais universal, e pelo rural, com referências nordestinas — quando não funde os dois estilos com mestria.

O álbum Refazenda, que completa 50 anos de lançamento em 2025, é um projeto bem-acabado do baiano voltado às suas raízes musicais.

O disco também representou uma virada na carreira de Gil, devido a um diálogo com elementos não explorados à época pelo músico, tanto em letra quanto em melodia.

Embora nascido em Salvador, Gil se mudou com um mês de idade com a família para Ituaçu, no sudoeste da Bahia, recebendo forte influência sertaneja, notadamente da sanfona de Luiz Gonzaga, instrumento com o qual fez os seus primeiros trabalhos como músico na capital baiana, antes de ter o violão como companheiro inseparável.

A influência do som dos rincões sobre o disco é tão forte que Dominguinhos toca em todas as faixas com seu acordeom.

O repertório do álbum é formado por Ela (Gil), Tenho Sede (Dominguinhos e Anastácia), Refazenda, Pai e Mãe, Jeca Total, Essa É pra Toca no Rádio, Ê Povo Ê, Retiros Espirituais (todas do Gil), O Rouxinol (Gil e Jorge Mautner), Lamento Sertanejo (Gil e Dominguinhos) e Meditação (só de Gil).

O destaque, claro, é a faixa-título, na qual ele destaca o abacateiro, onipresente pelo interior do Brasil. Em Jeca Total, referência a quem habita no interior.

Em Tenho Sede, o sertão. Já em O Rouxinol, o pássaro da caatinga. Em Lamento Sertanejo, o migrante nordestino. No álbum, tudo é dito de jeito poético e metafórico, com o baiano no ápice de sua verve espirituosa e elevada.

Gilberto Gil, 82 anos, realiza em 2025 a Tempo Rei – Última Turnê, a série de shows pelo País apresentada como a última do baiano. Refazenda diz muito sobre ele, que deve levar ao palco desse projeto um pedaço expresso nesse disco de 50 anos atrás.

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Last Update: 01/01/2025