O general Hamilton Mourão vai depor nesta sexta-feira 23 ao Supremo Tribunal Federal como testemunha de defesa de um dos réus na ação penal que apura a trama golpista. Ele foi convocado a pedido do general Augusto Heleno.
A dupla de fardados ocupou fileiras importantes no governo de Jair Bolsonaro (PL): Mourão, hoje senador, era vice-presidente do ex-capitão durante o planejamento do golpe; Heleno foi ministro de Bolsonaro, terminando o mandato como chefe do Gabinete de Segurança Institucional.
Mourão, apesar do papel importante no governo, foi poupado na lista de denunciados pela Procuradoria-Geral da República. O militar, alvo de desconfiança de Bolsonaro, teria sido escanteado durante a trama.
Recentemente, ao tratar sobre o assunto, o general minimizou a empreitada que pretendia fazer com que o ex-presidente fosse mantido no poder e chamou o plano revelado de ‘bobagem’ e ‘sem pé nem cabeça’. Mourão alega que as tropas não ‘partiram para a ação’ e, por isso, não há do que se falar em crime. Juristas e ministros discordam da tese.
Outros depoimentos
Ao todo, nove testemunhas devem ser ouvidas nesta sexta. Além de Mourão, o STF vai colher os depoimentos do atual comandante da Marinha, Marcos Olsen, e até de um ex-ministro de Dilma Rousseff. Veja a lista completa:
- Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho, delegado investigado pelo esquema conhecido como Abin Paralela;
- coronel Waldo Manuel de Oliveira Aires, testemunha de Braga Netto;
- o senador general Hamilton Mourão;
- coronel Alex D’Alosso Minussi, testemunha de Augusto Heleno;
- Gustavo Suarez da Silva, diretor do Departamento de Segurança Presidencial;
- Marcos Sampaio Olsen, comandante da Marinha;
- Antonio Capistrano de Freitas Filho, vice-almirante da Marinha;
- José Aldo Rebelo Figueiredo, ex-ministro da Defesa de Dilma Rousseff que será testemunha de Almir Garnier; e
- Marcelo Francisco Campos, almirante da Marinha.
Entenda o caso
A ação penal em que os depoimentos são tomados apura a existência de uma organização criminosa que tramava um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder, mesmo após a derrota eleitoral. A facção era, segundo a denúncia da PGR, dividida em núcleos, que dividiam tarefas com o mesmo objetivo: impedir a posse de Lula (PT), eleito em 2022. O plano previa, além do golpe, a prisão e até o assassinato de autoridades.
Neste momento, o STF se debruça sobre os integrantes do núcleo 1, o grupo que, de acordo com a denúncia, planejava e ordenava todas as ações da trama. Bolsonaro seria o líder desta parcela de investigados – e tinha gerência sobre toda a estrutura da organização. Outros sete réus fazem parte desta etapa de investigação, são eles:
- o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ);
- o almirante e ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos;
- o ex-ministro da Justiça Anderson Torres;
- o general da reserva e ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional Augusto Heleno;
- o tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid;
- o general e ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira; e
- o general da reserva e ex-ministro da Casa Civil Walter Braga Netto.
Os depoimentos desta fase da ação penal começaram na segunda-feira. Até aqui, as declaração mais importantes foram dadas pelos ex-chefes das Forças Armadas durante o governo Bolsonaro. Os fardados confirmaram, entre outras coisas, a participação de Bolsonaro na trama.