O governo de Benjamin Netanyahu anunciou que vai tomar Gaza permanentemente e deslocar a população sobrevivente para o sul. Na prática, isso significa um campo de concentração. Há pouco mais de um mês, Netanyahu negou críticas à estratégia de Israel dizendo: “Estamos dispostos a discutir a etapa final. O Hamas deporá as armas. Seus líderes poderão sair. Cuidaremos da segurança em Gaza e permitiremos a realização do plano Trump para migração voluntária. Esse é o plano. Não escondemos e estamos prontos para discutir a qualquer momento.”
Owen Jones analisa que o objetivo de Netanyahu é forçar toda a população palestina a sair. A “migração voluntária” significaria tornar a vida insuportável, destruindo saúde, agricultura, água potável, educação, infraestrutura e mais. Israel, assim, planeja abertamente um campo de concentração, onde os palestinos devem escolher: sair ou morrer.
O general israelense Giora Eiland, ex-chefe do Conselho de Segurança Nacional de Israel e assessor do então ministro da Defesa Yoav Gallant, já havia detalhado essa estratégia em outubro de 2023. Ele escreveu: “Israel não deve permitir nenhuma assistência econômica. O povo deve ser informado que tem duas escolhas: permanecer e morrer de fome, ou partir. Se o Egito e outros países preferirem que essas pessoas pereçam em Gaza, é uma escolha deles. Prefiro algo mais razoável.” O texto foi publicado na revista Fathom, do British Israel Communications and Research Centre (BICOM), ligado ao lobby israelense no Reino Unido.
O jornalista israelense Barak Ravid, em artigo no Axios, revelou que Israel planeja ocupar e destruir toda Gaza caso não haja acordo até a visita de Trump ao Oriente Médio. Segundo Ravid, autoridades israelenses afirmam que Israel iniciaria uma grande operação terrestre se não houver acordo de cessar-fogo. Um acordo anterior, que previa troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, foi rompido unilateralmente por Israel com um ataque maciço a Gaza, que matou centenas de palestinos, incluindo crianças.
Ravid informa ainda que Israel planeja “destruir qualquer edifício remanescente e deslocar praticamente toda a população de 2 milhões de pessoas para uma única ‘área humanitária’.” Owen Jones critica a expressão como uma manipulação orwelliana, pois, na prática, trata-se de um campo de concentração. O plano inclui destruir toda a infraestrutura restante.
Segundo Jones, Gaza foi devastada, com quase todas as casas danificadas ou destruídas, todos os hospitais atacados e a maioria inoperante, além da destruição de escolas, universidades, bibliotecas, mesquitas e igrejas. O nível de destruição foi tão intenso que Gaza mudou de cor e textura nas imagens de satélite. A destruição de prédios civis, sem finalidade militar, constitui crime de guerra.
Fontes informam que o plano pode ser uma forma de pressionar o Hamas a aceitar um acordo. Porém, o Hamas emitiu nota afirmando: “Não há sentido em negociar ou considerar novas propostas de cessar-fogo enquanto continuar a guerra de fome e extermínio em Gaza.”
Bezalel Smotrich, ministro das Finanças de Israel, declarou: “Gaza será totalmente destruída, os civis serão enviados para o sul, para uma zona humanitária sem Hamas ou terrorismo, e de lá começarão a sair em grande número para terceiros países.” Nenhum país aceitou receber palestinos. Egito e Jordânia recusaram, afirmando que participar disso seria se tornar cúmplice da limpeza étnica. A consequência será o agravamento da crise humanitária.
O jornalista palestino Younis Tirawi relatou: “Nos últimos três dias, a destruição em Rafah é sem precedentes. Bairros inteiros foram arrasados. É a onda mais intensa de demolições desde o início do genocídio em Gaza.” Rafah, principal cidade do sul, havia sido menos afetada até então.
Netanyahu declarou em 11 de janeiro de 2024: “Israel não pretende ocupar Gaza permanentemente ou deslocar sua população civil.” Owen Jones afirma que a declaração foi falsa e que líderes israelenses já haviam revelado o plano real. Em 10 de outubro de 2023, uma fonte de segurança israelense disse à TV local: “Gaza se tornará uma cidade de tendas. Não restará nenhum prédio.” No dia anterior, Yoav Gallant disse às tropas israelenses: “Liberei todas as restrições. Gaza não voltará a ser o que era. Vamos eliminar tudo. Se não for em um dia, levará semanas ou meses.”
Desde 1º de março, Israel impôs bloqueio total a Gaza, impedindo entrada de alimentos, água, remédios e combustível. Donald Trump afirmou que “as pessoas estão morrendo de fome” em Gaza, mas mentiu ao dizer que o Hamas estaria desviando alimentos. Não há alimentos entrando, devido ao bloqueio total imposto por Israel.
Owen Jones conclui que estamos presenciando um genocídio em andamento, com todas as etapas previstas. A mídia e governos ocidentais, que armam e apoiam Israel, se recusam a chamar o crime pelo que ele é. A responsabilidade de denunciar e cobrar justiça cabe à sociedade.
Owen Jones
Owen Jones é jornalista e escritor britânico, colunista e ativista político.
7 de maio de 2025
Fonte: BattleLines with Owen Jones